Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de 2007

O debate liberal-igualitário - parte I

No debate sobre justiça, temos um pequeno debate entre Rawls e Sen. Um debate em família, na verdade, como diz Roemer (1996). Ambas são propostas do chamado liberalismo igualitário, mas se diferenciam em um aspecto fundamental para um teoria igualitária: eles adotam equalisanda diferentes. O equalisandum - ou seja, aquilo que deve ser equalizado - para Rawls são os chamados bens primários, que são coisas que todo ser humano racional presumidamente desejaria. Rawls de certa forma define alguns deles no seguinte trecho: For simplicity, assume that the chief primary goods at the dispositions of society are rights and liberties, powers and opportunities, income and wealth. [...]. These are social primary goods. Other primary goods such as health and vigor, intelligence and imagination, are natural goods; although their possession is influenced by the basic structure, they are not so directly under its control. (Rawls, 1971, p. 62) A crítica de Sen para a escolha de uma forma de recurso

Um bom exemplo

Enquanto pensamos nos presentes: O Natal é um momento muito especial, e como qualquer pessoa, eles também comemoram o nascimento do Salvador. Por isso, realizou-se no dia 18 de dezembro o almoço aos moradores de rua. Um dia todo especial em nossa paróquia, onde foram servidos cerca de 500 almoços.

Natal

Este blog gostaria de desejar a todos um Feliz Natal. Afinal, Natal é uma data importante. Também por permitir uma desculpa para famílias se reencontrarem, para descansar daquela loucura, para descansar um pouco. Mas evidentemente, há a razão principal para a comemoração do Natal. Acho que Dietrich Bonhoeffer, em sua "Ética" nos fala corretamente acerca do significado de Jesus, o ser humano: Jesus Cristo, o ser humano, isto significa que Deus entra na realidade criada, que podemos e devemos ser seres humanos perante Deus. A destruição da humanidade é pecado e se constitui em obstáculo para Deus redimir o ser humano. Mesmo assim, a humanidade de Jesus Cristo não significa simplesmente a confirmação do mundo existente e da natureza humana. Jesus foi ser humano "sem pecado" (Hb 4.15). Este é o aspecto decisivo. (Bonhoeffer, 2005 [1949], p. 77) Mas ao contrário daqueles que querem fazer da igreja apenas um instrumento de mudança social (compromisso) ou daqueles que a

Perfeccionismo moral e subjetivismo welfarista

O problema que vejo no debate que vem sendo travado até agora é saber se (a) não estamos caindo em algum tipo de perfeccionismo moral e, (2) se algum tipo de perfeccionismo moral é aceitável. Quando falo de perfeccionismo, estou me referindo a concepções morais como as defendidas na Grécia Antiga: o homem estaria próximo à perfeição moral à medida que participasse ativamente da vida política da pólis. Dessa forma, estavam definidos que tipo de vida um homem devia levar - trata-se de uma concepção objetiva. Do lado oposto, temos a idéia welfarista, traço marcante do utilitarismo, na qual a satisfação de desejos subjetivos torna-se a métrica. Na concepção clássica de Bentham, falava-se na dicotomia prazer-dor. Quem sabe o que é o melhor para si é o indivíduo. Se, como disse o Joel, uma pessoa gosta de se enlamaçar ou fazer qualquer outra coisa que a maioria das pessoas considere absurda, não importa: o que importa é que ele está agindo de acordo com suas preferências. Contudo, ambas as

Violações de direitos podem ser justificadas? (2)

O debate tem sido frutífero na questão da violação de direitos naturais. Eu lancei a pergunta com base em Amartya Sen e Richard respondeu a seu modo costumeiramente apriorístico e defensor instransigente de princípios. Renato Drumond resolveu opinar em seguida, contrapondo-se a alguns argumentos de Richard. Dias depois, Joel foi mais conseqüencialista reagindo criticamente às proposições anarco-capitalistas (é no blog do Joel que o debate se concentrou: 14 comentários em dois dias). Logo após, Stein voltou a defender posições mais apriorísticas, à semelhança de Richard, contra os argumentos de Sen. Em meio a tudo isso, o Cláudio do De Gustibus ajudou na divulgação do debate aqui e aqui . Meu pequeno comentário em relação a todo esse debate, cujo pontapé inicial foi questionar se A pode invadir a propriedade de D para impedir que B mate C: A minha formação convencional como economista levava-me a confundir o conseqüencialismo com o utilitarismo de forma bastante errônea. Indubita

Devem igrejas opinar dessa forma? (2)

Que fique claro que eu tenho vários amigos ortodoxos. Nada contra eles. Bem, podemos concluir que os nossos irmãos russos gostam bastante de política: Orthodox leaders rally to oppose Kosovo independence Warsaw (ENI). Serbia's predominant Orthodox church has launched a diplomatic drive among church leaders abroad to prevent an expected UN vote to allow the independence of Kosovo from Serbia. "By supporting this independence drive by Albanians living in Kosovo, the West forgets the hurt suffered in recent years by the Orthodox Serbs who live there," Russian Orthodox Patriarch Alexei II of Russia told Serbia's Vecernje Novosti newspaper on 8 December. [376 words, ENI-07-0971] Fonte: ENI

Funções de resposta ao impulso e decomposição de variância

Novamente, apenas para economistas com especial interesse e conhecimento em econometria. Em um contexto de VAR (vetores auto-regressivos), embora a causalidade no sentido de Granger seja bem popular, sempre é interessante sabermos como uma variável responde a um impulso em outra variável ceteris paribus, ou seja, em um exercício de estática comparativa. Chamamos isso de análise de resposta ao impulso. Caso a matriz de variância-covariância não seja diagonal, ou seja, caso certos choques tenham relação com outros choques pela covariação contemporânea, precisamos primeiro ortogonalizar os erros (ou seja, torná-los independentes) através da decomposição da matriz de covariância, a conhecida decomposição de Choleski. Uma das matrizes criadas nessa decomposição será triangular inferior, demonstrando que a ordem das variáveis têm importância para essa decomposição. O problema é que essa ordem não pode ser determinada por métodos estatísticos: ela acaba sendo determinada arbitrariamente p

Exogeneidade em séries de tempo

Mais um texto de quem tem prova de econometria na segunda-feira. Quem não é economista não deve de forma alguma ler esse texto. Não digam que eu não avisei. Quando falamos de exogeneidade na econometria clássica, estamos falando da chamada exogeneidade "estrita", que nada mais consiste no fato de uma variável x não ser correlacionada com qualquer erro. Nas séries de tempo, no entanto, trabalha-se com três tipos de exogeneidade, dependendo do fim proposto. Na busca de resultados em inferência estatística (modos de estimar parâmetros e formulação de testes de hipótese), utiliza-se, em séries de tempo, o conceito de exogeneidade fraca. Para isso, precisamos 'fatorar a função de distribuição em duas partes: distribuição condicional e distribuição marginal . Define-se que uma variável é fracamente exógena em relação aos parâmetros de interesse se, e somente se, houver um certo tipo de reparametrização e atender duas condições: a variável de interesse precisa ser função de apen

Devem igrejas opinar dessa forma?

Sei não... Russian Orthodox leader back Putin's anointed successor Moscow (ENI). Patriarch Alexei II and other leaders of the Russian Orthodox Church have voiced their support for President Vladimir Putin's anointing of First Deputy Prime Minister Dmitry Medvedev as his successor. They also approved of Medvedev's declaration that he would appoint Putin as prime minister after the scheduled 2 March presidential elections. With the backing of Putin and the United Russia party, which dominates Russian politics, Medvedev, aged 42, is expected to win by a wide margin. [418 words, ENI-07-0967] Fonte: ENI

Mini-banca

Ontem foi dia de apresentar a uma pequena banca meu projeto preliminar. Além do meu orientador, Prof. Dr. Renato Colistete, estiveram presentes o Prof. Dr. Nelson Nozoe e o Prof. Dr. Dante Aldrighi. Essa chamada "mini-banca" é obrigatória: todos os mestrandos, no final de seu primeiro ano, precisa submeter o projeto a essa pequena banca. Como também somos obrigados a mandar um projeto para a FAPESP antes, ficamos praticamente prontos para essa banca, embora com muitos problemas, sem sombra de dúvida. Afinal, esse projeto é escrito enquanto estamos a duras penas tentando acompanhar três disciplinas obrigatórias. Por esse e outros motivos, os dois professores apontaram inúmeros problemas no projeto, principalmente o desequilíbrio entre as seções de revisão bibliográfica e de metodologia e objetivos. Enquanto a primeira está bastante extensa, a segunda é pobre e vaga. Prof. Nozoe, conhecido por ser extremamente rigoroso, foi um bom teste. Ele impiedosamente apontou os ponto

Um pouco de séries de tempo - espaço de estados e filtro de Kalman

Para quem tem saco de ler algo bem teórico sobre econometria. São resultados de meus estudos para a prova de segunda. Ontem eu falava dos modelos estruturais para previsão de séries temporais. Para sua operacionalização, expliquei que o modelo deveria ser reescrito sob a forma de espaço de estados. Mas o que é um modelo em espaço de estados? Um modelo como esse é baseado na independência do futuro do processo em relação a seu passado, dado o estado presente. Ou seja, toda informação do passado está contida no estado do processo, e isso é suficiente para a predição. Representa-se isso através de duas equações dinâmicas: (1) a equação de medida, que representa as observações do processo geradas em função do vetor de estado, e (2) a equação de transição, que representa a evolução dinâmica do vetor de estado não observado. (Souza, 1989, p. 54). As duas perturbações, uma em cada equação, não são correlacionadas entre si para qualquer defasagem, além de serem normais e auto-independentes. P

Mais uma dos holandeses

Não conheço a Holanda, mas ela está sempre à frente de todos quando se trata de secularização - talvez por sua história. A Holanda foi um dos primeiros lugares a receber judeus e outros, que foram se integrando à sociedade. O filósofo Baruch de Spinoza, por exemplo, era holandês e de família judia, embora suas idéias de uma divindade imanente divergissem tanto dos cristãos quanto dos judeus. Um dos primeiros humanistas, Erasmo, era de Rotterdam. Seja lá o que for, não me surpreende a seguinte notícia: Dutch pastor says he can believe in a 'God who doesn't exist' Utrecht (ENI). A Dutch Protestant cleric who describes himself as an "atheist pastor", saying he does not believe in God's existence, has become a publishing success in the Netherlands. The Rev. Klaas Hendrikse published a book at the beginning of November entitled "Believing in a God who does not exist: Manifesto of an atheist pastor", which by the end of the month had gone into its thi

Um pouco de séries de tempo - Box & Jenkins e modelos estruturais

Quando falamos sobre análise e previsão em séries temporais, o que nos vem à cabeça hoje são os modelos da classe ARIMA e a metodologia desenvolvida por Box & Jenkins (1970). Certamente, os trabalhos desses autores foram os grandes responsáveis pelo desenvolvimento ocorrido na econometria de séries temporais. Antes porém dos trabalhos de Box & Jenkins, a formulação de modelos univariados consistia em uma série composta de quatro componentes não-observáveis, que eram (a) tendência, (b) sazonalidade, (c) ciclo e (d) o erro aleatório. A assim chamada decomposição clássica permitia a formulação de modelos aditivos, multiplicativos ou mistos utilizando as componentes acima listadas. Com Box & Jenkins, a decomposição clássica acabou não recebendo mais tanta atenção. Tal situação, no entanto, mudou com as proposições de Harvey. A formulação clássica tinha como vantagem a interpretação calra dos seus diversos componentes (Souza, 1989), o que é recuperado por Harvey e seus modelos

Última semana

Falta uma semana para que o semestre se consume. Para a maior parte da turma, o ano acaba na segunda, dia 17, com a prova de Econometria II - Séries de Tempo com a Profa. Vera Fava. Alguns ainda tem atividades na terça, dia 18, na disciplina de Organização Industrial com a Profa. Farina, presidente do CADE. Amanhã, vários dos meus colegas estarão sofrendo com a prova de Microeconomia II com o Prof. Gabriel Madeira. Certamente estão estudando agora desesperadamente a parte de contratos. À tarde, estarei apresentando meu projeto preliminar de dissertação para três professores. O resumo do projeto eu postei aqui . Acredito que os professores Dante Aldrighi e Nelson Nozoe poderão fazer boas contribuições, além é claro de meu orientador, Prof. Renato Colistete. Enfim, é uma semana difícil, mas o alívio de saber que está acabando e que logo poderemos estar em casa nos dá algum alento. É verdade que as disciplinas não acabam de fato, temos trabalhos e mais trabalhos no mês de janeiro. Mas tod

Violações de direitos podem ser justificadas?

Está ocorrendo um debate interblogs. Ao comentar um texto do blog "Depósito de..." do meu colega de mestrado e anarco-capitalista libertário Richard, perguntei-lhe: E quando A pode impedir que B mate C, mas para fazer isso, tem que invadir a propriedade de D? O que fazer? Para os libertários, violar direitos naturais é impensável. A resposta de Richard veio neste texto bastante esclarecedor . Contudo, Renato Drumond, de um ponto de vista liberal mais "light" contra-argumentou em seu blog "Democrata Liberal" . Para contribuir com o debate da forma que posso, uma vez que sou um neófito em relação a esse assunto, transcrevo de onde tirei essa pergunta. Sobre os critérios libertários de Robert Nozick, afirma Amartya Sen (1999, p. 88-89) em "Sobre Ética e Economia": Se a pessoa A estiver violando gravemente algum direito de B, por exemplo, espancando-o, a pessoa C tem o dever de ajudar a impedir isso? Adicionalmente, C estaria correto ao cometer algum

Monopólio, igrejas e eficiência missionária. Parte II: o aumento da competição

Como disse no post anterior, as igrejas tradicionais acabaram criando teologias ineficientes do ponto de vista econômico. Pode-se argumentar que o desenvolvimento dessas teologias tenha mais a ver com a crescente consciência de problemas como intolerância e proselitismo, levando os teólogos a não mais defenderem a evangelização a qualquer custo. Embora não neguemos que fatores éticos como esses tenham seu papel, devemo-nos perguntar: as igrejas tradicionais teriam se preocupado com esse tipo de questões éticas e teológicas caso não estivessem em confortável situação de monopólio? É patente que, do ponto de vista do número de fiéis (embora esse não seja – ou não deveria ser – o objetivo único da igreja, sabemos que a sobrevivência de uma igreja enquanto organização depende de que haja certo número de fiéis), as teologias que mais tem influenciado a práxis dessas igrejas são claramente ineficientes. Com o surgimento dos movimentos religiosos norte-americanos, na maior parte das vezes des

Monopólio, igrejas e eficiência missionária. Parte I: as igrejas históricas

O panorama religioso tem se diversificado bastante recentemente principalmente dentro do que chamamos de Cristianismo. De algumas poucas instituições que existiam, a oferta de denominações cristãs multiplicou-se com o crescimento dos evangélicos, mais especificamente os pentecostais e neo-pentecostais. Embora a cisão da Igreja origine-se do início do milênio passado (católicos romanos x ortodoxos), tendo havido outra com a Reforma Protestante no século XVI, isso não significou o rompimento da posição monopolista das igrejas na maioria dos lugares. Embora a Igreja Católica Romana não fosse mais a única, cada país ou estado adotou a sua confissão. Alguns reis mantiveram seus países e colônias sob a égide do catolicismo, enquanto outros adotaram o protestantismo – pelo menos no mundo ocidental. Ou seja, em geral, as igrejas históricas (católica romana, luterana, reformada, anglicana e outras poucas) detiveram por séculos uma posição monopolista. Não é por acaso que hoje, são justa

Crise de 1929, Friedman, McCloskey e etc.

Vejam o caderno Eu&Fim de Semana encartado no Valor Econômico. Há um resumo do debate entre Paul Krugman e Anna Schwartz acerca de Milton Friedman. Em seguida, um artigo do meu orientador, Renato Colistete , sobre a opinião da historiografia a respeito de 1929 (que tem a ver com o debate sobre Friedman, que escreveu com Schwartz o famoso livro "A Monetary History of the United States") e algo sobre a visita de McCloskey ao Brasil. Atrasado mas você ainda não deve ter jogado fora o Valor de sexta passada.

Capital social e capital humano

Lendo aqui a literatura clássica sobre capital social, temos um paper do sociólogo James Coleman (Chicago, já falecido) que conta um exemplo muito interessante. Em "Social Capital in the Creation of Human Capital", publicado na American Journal of Sociology, Vol 94 (1988), pp. S95-S120, diz Coleman: In one public school district in the United States where texts for school were purchased by children's families, school authorities were puzzled to discover that a number of Asian immigrant families purchased two copies of each textbook needed by the child. Investigation revealed that the family purchased the second copy for the mother to study in order to help her child do well in school. Here is the case in which the human capital of the parents, at least as measured traditionally by years of schooling, is low, but the social capital in the family available for the child's education is extremely high. [...] That is, if the human capital possessed by parents is not compl

O´Rourke sobre cooperação na Irlanda

A discussão acerca de capital social, principalmente a partir das conclusões de Putnam (1993), por exemplo, alimentou a visão de que estruturas mais horizontais como as existentes entre comunidades protestantes, fossem mais conducentes ao desenvolvimento - em contraste com o que aconteceria entre comunidades católicas, muito mais hierarquizadas. Desenvolvi um pouco desse argumento em outro post . No entanto, o historiador econômico Kevin O'Rourke acha que não é bem assim: A recent literature argues that ‘hierarchical religions’ such as Catholicism hamper the formation of trust, thus reducing the propensity to cooperate and damaging economic performance. This article looks for a link between Catholicism and the propensity to cooperate in the pre-1914 Irish dairy industry. Although the propensity to cooperate was higher in Denmark than in Ireland, and in Ulster than elsewhere in Ireland, Catholicism did not make cooperation more difficult in Ireland. Political conflict over land refo

Os estranhos marxistas analíticos

Na disciplina de Teorias de Justiça, que curso no Departamento de Ciência Política, preciso entregar um trabalho sobre um dos tópicos trabalhados em sala durante o semestre. Disse ao professor que puxaria para a Economia, tendo como resposta a indicação de um livro chamado "Theories of Distributive Justice" de um economista. John Roemer (1996) formalizou elegantemente nesse livro as principais teorias de justiça. Mais do que isso, ele era conhecido por ser um "marxista analítico", os caras que juntam Marx e filosofia analítica (como me corrigiu o Drumond - vide comentários). Só vim a entender um pouco de como Roemer pensa ao ler essa passagem da introdução: I do not deal with the theory of exploitation because [...] after studying it for some time, I came to believe that it is not in itself a fundamental theory of (in)justice. I do not mean that workers are justly treated under capitalism, but rather that the view that what's unjust about their treatment is expl

McCloskey e a significância estatística

A professora Deirdre McCloskey , da University of Illinois at Chicago, famosa por seus artigos sobre metodologia (retórica) e por ter passado por uma cirurgia de mudança de sexo, ministrou uma palestra hoje na Sala da Congregação da FEA-USP. O recinto estava bem cheio e McCloskey fez suas polêmicas declarações. O tema era o seu novo livro, a ser lançado em janeiro, chamado "The Myth of the Statistical Significance". Bastante polêmico. Para ela, não há motivos para a economia usar a significância estatística. Sua idéia gerou enorme polêmica durante e após a palestra. Em suma, ela acha que o critério de decisão usados em testes de hipóteses (como t ou F) não devem ser automáticos e objetivos. Para ela, são critérios de valor que devem pesar e que os progressos da ciência ocorridos através desses testes foram sorte. O que importa é o ângulo, o coeficiente, e não testar a existência desse coeficiente da forma como é feito hoje. Evidentemente, ela argumenta melhor e o livro deve s

Novo livro

Visitando o blog do Rodrik , descobri que tem um novo livro de história econômica por aí de Findlay e O'Rourke: Power and Plenty: Trade, War, and the World Economy in the Second Millennium Deve ser interessante.

Congresso Missionário Ecumênico e algumas constatações

O CONIC, Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, comemorou seus 25 anos de fundação realizando seu I Congresso Missionário Ecumênico no fim de semana passado. Nesse evento, assinou-se o reconhecimento mútuo dos batismos entre as igrejas-membro. Foi um evento interessante, em que predominaram palestrantes de tendência liberal ou da teologia da libertação. Não obstante, houve um preletor da IPB (Igreja Presbiteriana do Brasil) - igreja contrária ao ecumenismo - que advogou a abordagem da missão integral, defendida pelo movimento evangelical (os do chamado Consenso de Lausanne, 1974). De resto, a liderança das igrejas históricas mostrou ser claramente mais liberal. Isso não é uma crítica, é uma constatação. Claramente, pude ver no evento o mesmo que ocorre dentro do movimento evangelical: há um certo "ecumenismo" entre os iguais. Hoje, as principais diferenças entre as igrejas não se referem a denominações. Anglicanos liberais e luteranos liberais são muito mais parecidos do que a

Brasil, Uruguai e Argentina: convergência e estrutura produtiva

O seminário de história econômica ocorrido hoje contou com a participação do Prof. Dr. Gabriel Porcile (UFPR). Seu texto, em parceria com Luís Bértola, chama-se "Convergence, Trade and Industrial Policy: Argentina, Brazil and Uruguay in the international economy, 1900-1980" . Foi um bom ensaio de história comparativa utilizando o modelo de crescimento com restrição externa de Thirwall (de tradição keynesiana, "demand-led") e o índice de estrutura de Krugman. O modelo de Thirwall e sua lei são desconhecidos para mim, que nada sei de pós-keynesianismo - sei apenas que esse modelo leva em consideração a influência das contas externas para o crescimento econômico. O índice de Krugman eu também desconhecia, mas pelo que entendi, trata-se de um índice que mensura a similaridade de estruturas produtivas: quanto menor seu valor, mais parecidas são as estruturas produtivas dos países em termos de participação percentual dos setores na economia. Com esse arcabouço e tentando

Os complexos de economistas e cientistas políticos

Em um livro já não tão novo, datado de 1970, Albert Hirschman, um dos representantes do “Development Economics”, escreve algo interessante e até curioso acerca dos colegas da ciência política. Isso ainda é bastante atual para o Brasil, onde a influência da ciência política norte-americana vem chegando aos poucos. Não significa que eu seja contra a ciência política formalizada, inclusive pretendo usá-la. Reconheço, no entanto, que em alguns pontos Hirschman tem razão: [...] eu espero demonstrar aos cientistas políticos a utilidade dos conceitos econômicos e aos economistas, a utilidade dos conceitos políticos . Essa reciprocidade tem estado em falta nos recentes trabalhos interdisciplinares, porquanto os economistas têm afirmado que conceitos desenvolvidos com o propósito de analisar fenômenos de escassez e alocação de recursos podem ser usados com sucesso para explicar fenômenos políticos diversos como poder, democracia e nacionalismo. Eles têm, dessa forma, conseguido ocupar vasta

Instituições e educação - parte IV

Diego disse: A questão então é: se os gastos hoje com ensino superior são conseqüência do excesso de poder nas mãos das elites, não seria de se esperar que a "esquerda" se posicionasse contra isso? Eu não entendo... Mas me parece que o poder da elite talvez não seja a melhor explicação para o que acontece (ou então não a principal). Continuo sustentando que a falta de voz dos mais pobres devido à desigualdade na distribuição de poder político tem papel fundamental. Diego assumiu que a esquerda representa de fato as camadas mais pobres. No Brasil, onde a esquerda defende o ensino superior público com unhas e dentes, a esquerda representa muito debilmente as camadas pobres na minha opinião (a direita menos ainda obviamente). O maior partido de esquerda brasileiro, o PT, representa muito mais a classe média do que os verdadeiramente pobres. Isso é evidente pelas próprias bandeiras que defendem. Afinal, qual é o interesse do pobre na universidade pública? Só haveria interes

Instituições e educação - parte III

Para entender do que estou falando aqui, é interessante ler essa entrevista com James Robinson e Gregory Clark . A dica do link é do blog do Leo Monastério . Não é sobre educação exatamente, mas eles falam a respeito. Afinal, o que importa? Cultura ou educação? Na parte IV, responderei os comentários feitos em relação à parte II.

Instituições e educação - parte II

Dizer que a falha de certas sociedades em investir no nível de educação certo ser causado por "imperfect knowledge and understanding make up the subjetive models of actors" pode até ser uma das explicações, mas extremamente insuficiente. Não é por acaso que North, em livro posterior (North, 2005), acaba incluindo outra motivação: Throughout history and in the present world economic growth has been episodic because either the players' intentions have not been societal well-being or the players' comprehension of the issues has been so imperfect that the consequences have deviated radically from intention (p. 3) Com isso, é fácil entender porque em países como o Brasil, a educação superior foi a mais privilegiada. Não é necessário usar a idéia de racionalidade limitada para chegar a essa conclusão: se o poder da elite é grande demais, as intenções deles prevalecerão e, apenas por um acaso, coincidirão com o bem-estar social. É por esse motivo que Acemoglu, Johnson e Robi

Instituições e educação - parte I

Com propriedade, afirmou Douglass North (1990, p. 80): Throughout most history the institutional incentives to invest in productive knowledge have been largely absent, and even in Third World economies today the incentives are frequently misdirected. If Third World countries do invest in education, they frequently misdirect the investment into higher education, not primary education (which has a much higher social rate of return than does higher education in Third World countries). A crítica é que, em um país subdesenvolvido, os retornos da educação são mais altos caso se invista em educação primária. A Coréia, por exemplo, expandiu maciçamente em todos os níveis de educação, mas evidentemente, espalhou-se em primeiro lugar o primário. North, entretanto, na hora de explicar os motivos pelos quais as instituições dos países subdesenvolvidos têm esses problemas, afirma que: But if the market was imperfect so that the private rates of return were so low as not to make such private investu

Apresentação do IPE-USP

Hoje foi o dia da pós-graduação da USP fazer a sua apresentação aos alunos bem colocados no exame nacional de admissão ao mestrado promovido pela ANPEC. Os 60 primeiros foram chamados e puderam ouvir muitos dos professores da casa, os quais compareceram em massa. Aparentemente, a apresentação surpreendeu positivamente os candidatos. A presença de professores mais antigos e proeminentes da casa, como também dos professores do programa "Jovens Doutores", foi aparentemente bem recebida. Só saberemos dos resultados a partir de amanhã, quando os alunos começaram a definir oficialmente as instituições para as quais pretendem ir.

Comida ou ética?

Muitos, ao interpretarem Marx, entenderam que o material se sobrepunha ao ideal: cultura, crença e valores seriam resultados que derivariam da infra-estrurura da sociedade, ou seja, das condições materiais. Vários outros marxistas dirão que isso é equívoco, pois não está muito de acordo com a dialética. Seja lá qual for a interpretação correta, a relação unidirecional do material ao ideal ficou conhecida. Giannetti faz uma crítica meio óbvia e que parece razoável: [...] vale notar, a falácia grotesca da fórmula brechtiana, ingenuamente materialista, "primeiro a comida, depois a ética". A sobrevivência, é verdade, é condição para tudo o mais. Mas, sem ética, a própria sobrevivência fica comprometida. Sem ela, não há ordem social, paz ou "comida" - há desagregação, guerra e fome. É a economia que se ergue sobre a infra-estrutura ética. (Giannetti, 2007, p. 101). Giannetti, E. Vícios privados, beneficios públicos? A ética na riqueza das nações . São Paulo: Companhia d

Economia Institucional: leis ou costumes?

Embora hoje em dia todos saibam que instituições importam, as escolas institucionalistas são ainda pouco conhecidas. A fama de Douglass North (Nobel em 1993 com Robert Fogel) não corresponde ao conhecimento médio que se tem acerca do trabalho dele. Além da linha de North, existem ainda outras escolas institucionais. A seguir apresento as duas principais correntes existentes hoje. Sob o rótulo de "Nova Economia Institucional" (NEI), existem duas linhas principais. Ambas tiveram grande influência dos escritos de Coase e sua abordagem dos custos de transação. Ambas também trabalham com o conceito de racionalidade limitada proposto por Simon, embora acreditem que o pressuposto da racionalidade substantiva (microeconomia) seja muito útil para explicar diversos fenômenos. Por fim, ambas são relativamente próximas à teoria neoclássica. A escola liderada por North tem suas origens nas pesquisas do referido autor em história econômica e desenvolvimento. A partir delas, North chegou a

Produto marginal ou valor-trabalho?

No capítulo intitulado "Class, Gender and Other Groups" do famoso livro "Inequality Reexamined", Amartya Sen (1992) discorre um pouco sobre um velho debate na história do pensamento econômico: quem afinal foi responsável pela produção? E quem merece receber a remuneração advinda dessa produção? Segundo Sen: Production is an interdependent process involving a joint use of many resources, and there is in general no clear way of deciding which resource has produced what. The concept of 'marginal product' of a resource is not really concerned with who has 'actually produced' what, but with guiding the allocation of resources by examining what would happen if one more unit of a resource were to be used (given all the other resources). To read in that counterfactual marginal story (what would happen if one more unit were applied, given everything else) an identification of who has 'in fact' produced what in the total output is to take the margin

Os estranhos hábitos de alguns paulistanos

Não tem nada a ver com economia o que vou dizer. Talvez tenha um pouco a ver com religião. Apenas vou contar sobre um estranho episódio que ocorreu na sexta-feira, dia de Finados. Estávamos eu e o Felipe Garcia, ex-colega da UFRGS e hoje no mestrado da FGV-SP em frente a lanchonete Bob's. Após consumirmos o famoso milk shake de ovomaltine e falarmos da beleza das mulheres gaúchas, deparamo-nos com uma multidão, que perfazia cerca de uma centena de pessoas. Elas estavam estranhamente fantasiadas: todas pareciam estar mortas, muitas delas com sangue falso em várias partes do corpo e vestidas com roupas pretas, algumas carregando foices, etc. Ao se aproximarem do Bob's, alguns deles diziam em coro em tom grave: "O-vo-maltine! O-vo-maltine!". Bizarrices que ocorrem na grande metrópole brasileira, onde a economia é mais pujante. Mais um bom motivo para entendermos que nem sempre a opulência é melhor. Em Porto Alegre não sou obrigado a ver esse tipo de coisa e tenho melhor

Mill e psicologia individual

Por uma infelicidade do destino, fui educado acerca do trabalho do economista e filósofo inglês John Stuart Mill através do péssimo livro de história do pensamento econômico de E. K. Hunt. Isso denegriu um pouco a imagem de Mill que carreguei por algum tempo, mesmo sabendo que a obra de Hunt deixa bastante a desejar. Stuart Mill tinha como objetivo principal fazer um síntese entre a economia política clássica de Ricardo e o utilitarismo de Jeremy Bentham, a principal corrente ética da época. Eduardo Giannetti, em seu livro "Vícios Privados, benefícios públicos?" * mostra a posição de Mill sobre a psicologia humana: Referindo se a Bentham (mas o mesmo valeria também para Ricardo), Mill afirmou: "O homem, aquele ser mais complexo, é muito simples aos seus olhos". Simplificações drásticas da conduta humana, como o hedonismo psicológico de Bentham ou o "homem econômico" ricardiano, podiam ter alguma validade (limitada) enquanto hipóteses comportamentais em teo

Mais um seminário em história econômica

Eustáquio Reis, do IPEA, foi o convidado desta quarta para o seminário do g rupo de estudos em história econômica aqui da FEA-USP. Eustáquio tem pesquisado algumas novas fontes de dados que ele tem acesso no IPEA. Alguns dos dados, como ele mesmo admitiu, não são muito confiáveis. Um de seus papers tentou estimar a distribuição de renda no Brasil em certos anos do século XIX. Tal estudo faz parte de um projeto maior de estimação da desigualdade no mundo conduzido pelo Prof. Bértola do Uruguai. No entanto, os resultados apresentaram índices de Gini muito baixos: similares aos atuais índices escandinavos, que são os países mais igualitários. O resultado gerou grande suspeita por parte dos presentes. Mas o autor concordou plenamente que a precariedade dos dados era significativa. O outro de seus papers mostrou um resultado mais interessante mas igualmente surpreendente. Interessante pois se tratam de dados mais confiáveis dos votantes no Brasil circa 1870. O surpreendente foi a evident

Reforma Luterana - Parte II: Sacerdócio Geral e Capital Social

Em seu estudo sobre o grau de confiança existente nas sociedades e seu papel na cooperação e no desenvolvimento, conhecido na literatura como capital social , Robert Putnam* coloca o seguinte: Toda sociedade [...] se caracteriza por sistemas de intercâmbio e comunicação interpessoais [...]. Alguns desses sistemas são basicamente "horizontais", congregando agentes que têm o mesmo status e o mesmo poder. Outros são basicamente "verticais", juntando agentes desiguais em relações assimétricas de hierarquia e dependência. [...] Por exemplo, todos os grupos religiosos misturam hierarquia com igualdade, mas nas congregações protestantes os sistemas de relacionamento costumam ser considerados mais horizontais do que na igreja católica [romana]. (p. 182-3). [...] quanto mais horizontalizada for a estrutura de uma organização, mais ela favorecerá o desempenho institucional da comunidade em geral (p. 185). Não é o objetivo aqui atacar a hierarquia católica romana. A Reforma

Reforma Luterana - Parte I: Graça

Em um país majoritariamente católico, poucos sabem que foi em 31 de outubro de 1517 que Lutero pregou suas famosas 95 teses na porta da catedral de Wittemberg. Menos pessoas sabem ainda do que se tratam essas teses e de suas conseqüências não apenas teológicas, como também na mudança que isso provocou na visão de mundo da época. Vou destacar dois pontos: um bastante teológico e outro que teve influências muito mais abrangentes. Naquela época, a venda de indulgências, uma espécie de título que garantia o perdão de seus pecados quando comprados, estava disseminada. Pregava a Igreja da época que a salvação se dava por boas obras. Lutero, indignado com tal exploração, resgatou o papel da graça . Mas afinal, o que é graça? Lutero quis deixar bem claro, assim como fizeram Paulo e Santo Agostinho, por exemplo, que nenhum de nós merece a salvação. Ninguém é bom o suficiente pra ir pro céu. Todos somos pecadores e, por mais que tentemos, não vamos conseguir ser bons. Sempre vamos escorregar em

Lamentável

Vai entender isso... Espero que não seja verdade que a Igreja Reformada Holandesa na África ainda não repudia o apartheid . Ainda bem que a maioria das igrejas cristãs, até onde sei, tem posicionamentos mais compatíveis com a ética cristã. S. African church has failed to renounce apartheid, meeting told Port of Spain (ENI). The World Alliance of Reformed Churches has said that a South African church, suspended from the grouping in 1982, cannot be readmitted because it has not renounced the support for the apartheid ideology that led to its exclusion. WARC leaders meeting near Port of Spain in Trinidad and Tobago heard that the Nederduitsch Hervormde Kerk van Afrika (Dutch Reformed Church), or NHKA, had not rejected apartheid or its theological justification despite its expressed desire to rejoin WARC. Fonte: ENI

Libertário critica anarquista

A despeito de todas as divergências que tenho com os libertários, não deixa de ser interessante o que diz Buchanan em relação aos que acreditam no anarquismo. Afirma Buchanan (p. 35) em "The Economics and the Ethics of Constitutional Order", xingando socialistas e anarco-capitalistas: The romantic image of the state as an omniscient and benevolent entity, an image that had been around since Hegel, was shattered by the simple observation that those who act on behalf of the state are also ordinary humans, like the rest of us [...]. Centralized economic planning, with state ownership and control over means of production, has entered history as intellectual folly. Até aí, nada de novo. A parte mais interessante vem a seguir: At the opposing end to socialism on the imagined ideological spectrum stands the equally romantic ideal of laissez-faire, the fictional image of anarcho-capitalists, in which there is no role for the state for all. In this model, freely choosing individuals,

Seleção natural e ação coletiva

Estou lendo um interessante paper de Elinor Ostrom* sobre ação coletiva. Há trechos inusitados como uma explicação evolucionária para a sobrevivência de características não "instrumentalmente racionais", como diria Weber. Se é verdade ou não, é outra história: "Human evolution occurred mostly during the long Pleistocene era that lasted for about 3 million years, up to about 10,000 years ago. During this era, humans roamed the earth in small bands of hunter-gatherers who were dependent on each other for mutual protection, sharing food, and providing for the young. Survival was dependent not only an aggressively seeking individual returns but also on solving many day-to-day collective action problems. Those of our ancestors who solved these problems most effectively, and learned how to recognize who was deceitful and who was a trustworthy reciprocator, had a selective advantage over those who did not (Barkow, Cosmides and Tooby, 1992)" (Ostrom, 2000, p. 143). Não cost

Clipping e comentário: desigualdade

Um texto interessante do meu amigo Ricardo Martini sobre desigualdade e pobreza na visão de Feldstein e Milankovic. Já dou meu pitaco, embora não tenha lido os textos, o que pode ser um pouco irresponsável: acho que o Milankovic tem razão até por questões pragmáticas. Feldstein argumenta contra a idéia de igualdade econômica, pois sua demanda adviria da inveja, mesmo quando a desigualdade aumentada fosse resultado de uma melhoria de Pareto. No entanto, mesmo que eu ache a inveja algo moralmente condenável, a igualdade de recursos ou de bem-estar (outro belo debate, ver Dworkin se conseguir entender o texto dele sobre o assunto), precisa ser buscada para garantir certa estabilidade social. O segundo argumento que apresento é muito melhor: desigualdade de recursos gera desigualdade de poder político, criando instituições que beneficiam apenas a elite: ou seja, incentivando a persistência da desigualdade e pouco desenvolvimento, no sentido amplo. Acemoglu, Johnson e Robinson tem um belo

Curso sobre crises internacionais

Tivemos recentemente o privilégio de participar de um curso sobre crises financeiras internacionais ministrado pelo Prof. Dr. Bernardo Guimarães , que está hoje no Departamento de Economia da London School of Economics . Foram quatro aulas, sendo que nas primeiras duas, o foco foram as crises cambiais. Nas outras duas, o tema foram as crises de dívida. Infelizmente, faltei uma das aulas, mas as outras três foram muito boas. Prof. Bernardo, que fez mestrado na USP, esteve mais preocupado, corretamente a meu ver, na intuição dos modelos recentes que são tema de discussão nesse tópico. Além de ter um particular senso de humor, é um professor bastante didático e muito estimulado a dar aulas. Esperamos que mais cursos como esses apareçam. Aqui, vocês podem ver as notas de aula do excelente curso.

A lucidez de Max Weber

Embora poucos economistas leiam o velho Max Weber, certas passagens demonstram que ele já sabia o que ainda é considerado novidade na economia. Por exemplo, vejam essa passagem que, inicialmente, parece ser uma crítica aos modelos: Os tipos ideais de ação social que, por exemplo, são usadas na teoria econômica são portanto irrealistas ou abstratos, pois sempre perguntam que curso de ação ocorreria se esse fosse puramente racional e orientado apenas para fins econômicos. (p. 21) Mais adiante, no entanto, Weber explica: Quanto mais claro e preciso é o tipo ideal construído, ou seja, quanto mais abstrato e irreal é nesse sentido, mais apto está o tipo ideal para desempenhar suas funções em formulação de terminologia, classificações e hipóteses. (p. 21) E para aqueles que pensam que Sen foi o primeiro a associar ética (compromisso) à racionalidade, esse trecho talvez seja bem esclarecedor. No mínimo, Sen deveria citá-lo: Exemplos de [ações orientadas para] racionalidade de valor pura seri

Racionalidade econômica e suas limitações

Debate-se muito acerca do pressuposto de racionalidade que a economia neoclássica adota. O conceito de racionalidade econômica é bastante restrito e sofre críticas das mais diversas. As duas mais elaboradas são certamente as propostas por Herbert Simon e por Amartya Sen. De maneira alguma se desconsidera aqui os importantes resultados atingidos com os modelos baseados em escolha racional. De fato, a maioria dos modelos é muito útil. Contudo, certas situações necessitam outras abordagens. Para deixar claro o que está se criticando, Sen trata das duas definições de racionalidade encontradas na economia. A primeira delas é a racionalidade como consistência. Por consistência, estamos falando da coerência interna das decisões tomadas pelos agentes. Um exemplo de consistência seria o pressuposto da transitividade, na qual dado que o agente prefere A a B e prefere B a C, logo ele tem que, por transitividade, preferir A a C. No entanto, essa idéia não faz nenhuma consideração aos objetivos: é

Entre princípios e conseqüências: Bonhoeffer e Sen

Quando Dietrich Bonhoeffer, pastor e teólogo alemão na época da II Guerra, decidiu fazer parte da conspiração contra a vida de Hitler, ele talvez tenha pensado diversas vezes se fizera a coisa certa. Entretanto, ante as enormes atrocidades cometidas pelo nazismo e o silêncio de boa parte das igrejas, ele tinha que tomar uma decisão. Atentar contra a vida de alguém, mesmo que fosse Hitler, seria ferir um princípio claramente expresso nos Dez Mandamentos, por exemplo. Ademais, mesmo a filosofia analítica kantiana consideraria isso uma quebra de um princípio básico: as pessoas não devem ser meios de se atingir algo mais, mas fins. Com milhares de judeus sendo perseguidos e após ter fundado a Igreja Confessante, formada pelos cristãos contrários ao regime hitlerista, Bonhoeffer tomou sua decisão. Como sabemos, Hitler não foi morto por revoltosos e os conspiradores foram posteriormente descobertos. Bonhoeffer foi mandado para a prisão, onde escreveu diversas cartas, poemas e incl