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Mostrando postagens de outubro, 2007

Reforma Luterana - Parte II: Sacerdócio Geral e Capital Social

Em seu estudo sobre o grau de confiança existente nas sociedades e seu papel na cooperação e no desenvolvimento, conhecido na literatura como capital social , Robert Putnam* coloca o seguinte: Toda sociedade [...] se caracteriza por sistemas de intercâmbio e comunicação interpessoais [...]. Alguns desses sistemas são basicamente "horizontais", congregando agentes que têm o mesmo status e o mesmo poder. Outros são basicamente "verticais", juntando agentes desiguais em relações assimétricas de hierarquia e dependência. [...] Por exemplo, todos os grupos religiosos misturam hierarquia com igualdade, mas nas congregações protestantes os sistemas de relacionamento costumam ser considerados mais horizontais do que na igreja católica [romana]. (p. 182-3). [...] quanto mais horizontalizada for a estrutura de uma organização, mais ela favorecerá o desempenho institucional da comunidade em geral (p. 185). Não é o objetivo aqui atacar a hierarquia católica romana. A Reforma

Reforma Luterana - Parte I: Graça

Em um país majoritariamente católico, poucos sabem que foi em 31 de outubro de 1517 que Lutero pregou suas famosas 95 teses na porta da catedral de Wittemberg. Menos pessoas sabem ainda do que se tratam essas teses e de suas conseqüências não apenas teológicas, como também na mudança que isso provocou na visão de mundo da época. Vou destacar dois pontos: um bastante teológico e outro que teve influências muito mais abrangentes. Naquela época, a venda de indulgências, uma espécie de título que garantia o perdão de seus pecados quando comprados, estava disseminada. Pregava a Igreja da época que a salvação se dava por boas obras. Lutero, indignado com tal exploração, resgatou o papel da graça . Mas afinal, o que é graça? Lutero quis deixar bem claro, assim como fizeram Paulo e Santo Agostinho, por exemplo, que nenhum de nós merece a salvação. Ninguém é bom o suficiente pra ir pro céu. Todos somos pecadores e, por mais que tentemos, não vamos conseguir ser bons. Sempre vamos escorregar em

Lamentável

Vai entender isso... Espero que não seja verdade que a Igreja Reformada Holandesa na África ainda não repudia o apartheid . Ainda bem que a maioria das igrejas cristãs, até onde sei, tem posicionamentos mais compatíveis com a ética cristã. S. African church has failed to renounce apartheid, meeting told Port of Spain (ENI). The World Alliance of Reformed Churches has said that a South African church, suspended from the grouping in 1982, cannot be readmitted because it has not renounced the support for the apartheid ideology that led to its exclusion. WARC leaders meeting near Port of Spain in Trinidad and Tobago heard that the Nederduitsch Hervormde Kerk van Afrika (Dutch Reformed Church), or NHKA, had not rejected apartheid or its theological justification despite its expressed desire to rejoin WARC. Fonte: ENI

Libertário critica anarquista

A despeito de todas as divergências que tenho com os libertários, não deixa de ser interessante o que diz Buchanan em relação aos que acreditam no anarquismo. Afirma Buchanan (p. 35) em "The Economics and the Ethics of Constitutional Order", xingando socialistas e anarco-capitalistas: The romantic image of the state as an omniscient and benevolent entity, an image that had been around since Hegel, was shattered by the simple observation that those who act on behalf of the state are also ordinary humans, like the rest of us [...]. Centralized economic planning, with state ownership and control over means of production, has entered history as intellectual folly. Até aí, nada de novo. A parte mais interessante vem a seguir: At the opposing end to socialism on the imagined ideological spectrum stands the equally romantic ideal of laissez-faire, the fictional image of anarcho-capitalists, in which there is no role for the state for all. In this model, freely choosing individuals,

Seleção natural e ação coletiva

Estou lendo um interessante paper de Elinor Ostrom* sobre ação coletiva. Há trechos inusitados como uma explicação evolucionária para a sobrevivência de características não "instrumentalmente racionais", como diria Weber. Se é verdade ou não, é outra história: "Human evolution occurred mostly during the long Pleistocene era that lasted for about 3 million years, up to about 10,000 years ago. During this era, humans roamed the earth in small bands of hunter-gatherers who were dependent on each other for mutual protection, sharing food, and providing for the young. Survival was dependent not only an aggressively seeking individual returns but also on solving many day-to-day collective action problems. Those of our ancestors who solved these problems most effectively, and learned how to recognize who was deceitful and who was a trustworthy reciprocator, had a selective advantage over those who did not (Barkow, Cosmides and Tooby, 1992)" (Ostrom, 2000, p. 143). Não cost

Clipping e comentário: desigualdade

Um texto interessante do meu amigo Ricardo Martini sobre desigualdade e pobreza na visão de Feldstein e Milankovic. Já dou meu pitaco, embora não tenha lido os textos, o que pode ser um pouco irresponsável: acho que o Milankovic tem razão até por questões pragmáticas. Feldstein argumenta contra a idéia de igualdade econômica, pois sua demanda adviria da inveja, mesmo quando a desigualdade aumentada fosse resultado de uma melhoria de Pareto. No entanto, mesmo que eu ache a inveja algo moralmente condenável, a igualdade de recursos ou de bem-estar (outro belo debate, ver Dworkin se conseguir entender o texto dele sobre o assunto), precisa ser buscada para garantir certa estabilidade social. O segundo argumento que apresento é muito melhor: desigualdade de recursos gera desigualdade de poder político, criando instituições que beneficiam apenas a elite: ou seja, incentivando a persistência da desigualdade e pouco desenvolvimento, no sentido amplo. Acemoglu, Johnson e Robinson tem um belo

Curso sobre crises internacionais

Tivemos recentemente o privilégio de participar de um curso sobre crises financeiras internacionais ministrado pelo Prof. Dr. Bernardo Guimarães , que está hoje no Departamento de Economia da London School of Economics . Foram quatro aulas, sendo que nas primeiras duas, o foco foram as crises cambiais. Nas outras duas, o tema foram as crises de dívida. Infelizmente, faltei uma das aulas, mas as outras três foram muito boas. Prof. Bernardo, que fez mestrado na USP, esteve mais preocupado, corretamente a meu ver, na intuição dos modelos recentes que são tema de discussão nesse tópico. Além de ter um particular senso de humor, é um professor bastante didático e muito estimulado a dar aulas. Esperamos que mais cursos como esses apareçam. Aqui, vocês podem ver as notas de aula do excelente curso.

A lucidez de Max Weber

Embora poucos economistas leiam o velho Max Weber, certas passagens demonstram que ele já sabia o que ainda é considerado novidade na economia. Por exemplo, vejam essa passagem que, inicialmente, parece ser uma crítica aos modelos: Os tipos ideais de ação social que, por exemplo, são usadas na teoria econômica são portanto irrealistas ou abstratos, pois sempre perguntam que curso de ação ocorreria se esse fosse puramente racional e orientado apenas para fins econômicos. (p. 21) Mais adiante, no entanto, Weber explica: Quanto mais claro e preciso é o tipo ideal construído, ou seja, quanto mais abstrato e irreal é nesse sentido, mais apto está o tipo ideal para desempenhar suas funções em formulação de terminologia, classificações e hipóteses. (p. 21) E para aqueles que pensam que Sen foi o primeiro a associar ética (compromisso) à racionalidade, esse trecho talvez seja bem esclarecedor. No mínimo, Sen deveria citá-lo: Exemplos de [ações orientadas para] racionalidade de valor pura seri

Racionalidade econômica e suas limitações

Debate-se muito acerca do pressuposto de racionalidade que a economia neoclássica adota. O conceito de racionalidade econômica é bastante restrito e sofre críticas das mais diversas. As duas mais elaboradas são certamente as propostas por Herbert Simon e por Amartya Sen. De maneira alguma se desconsidera aqui os importantes resultados atingidos com os modelos baseados em escolha racional. De fato, a maioria dos modelos é muito útil. Contudo, certas situações necessitam outras abordagens. Para deixar claro o que está se criticando, Sen trata das duas definições de racionalidade encontradas na economia. A primeira delas é a racionalidade como consistência. Por consistência, estamos falando da coerência interna das decisões tomadas pelos agentes. Um exemplo de consistência seria o pressuposto da transitividade, na qual dado que o agente prefere A a B e prefere B a C, logo ele tem que, por transitividade, preferir A a C. No entanto, essa idéia não faz nenhuma consideração aos objetivos: é

Entre princípios e conseqüências: Bonhoeffer e Sen

Quando Dietrich Bonhoeffer, pastor e teólogo alemão na época da II Guerra, decidiu fazer parte da conspiração contra a vida de Hitler, ele talvez tenha pensado diversas vezes se fizera a coisa certa. Entretanto, ante as enormes atrocidades cometidas pelo nazismo e o silêncio de boa parte das igrejas, ele tinha que tomar uma decisão. Atentar contra a vida de alguém, mesmo que fosse Hitler, seria ferir um princípio claramente expresso nos Dez Mandamentos, por exemplo. Ademais, mesmo a filosofia analítica kantiana consideraria isso uma quebra de um princípio básico: as pessoas não devem ser meios de se atingir algo mais, mas fins. Com milhares de judeus sendo perseguidos e após ter fundado a Igreja Confessante, formada pelos cristãos contrários ao regime hitlerista, Bonhoeffer tomou sua decisão. Como sabemos, Hitler não foi morto por revoltosos e os conspiradores foram posteriormente descobertos. Bonhoeffer foi mandado para a prisão, onde escreveu diversas cartas, poemas e incl

Novo livro de Rodrik

Dani Rodrik acaba de lançar seu livro chamado One Economics, Many Recipes: Globalization, Institutions, and Economic Growth , que você pode ver aqui. A propaganda ele faz no seu blog e, como é típico dele, ele se posiciona a favor do instrumental orotodoxo, embora diga que se faz às vezes equívoco uso desse instrumental. É uma boa discussão.

Aqueles textos do Acemoglu

Recentemente, muito se comentou acerca dos textos publicados pelo trio Daron Acemoglu, Simon Johnson e James Robinson. Os dois mais conhecidos são "The Colonial Origins..." e "The Reversal of Fortune..." . O grande debate é sobre o alcance do instrumental econométrico usado para explicar os motivos pelos quais alguns países prosperaram enquanto outros não. As críticas são inúmeras, mas antes de criar preconceitos e não ler qualquer coisa escrita por esses caras, leia o seguinte texto: "Institutions as the Fundamental Cause of Economic Growth" . O texto é longo, mas acho que vale a pena. É uma excelente forma de misturar economia com ciência política. Se tu nada conhece sobre Economia Institucional, vá ler Douglass North - mas a partir de 1990. Antes pode ser interessante também - se puder leia tudo, oras, mas não vá sair falando bobagem pensando que ele ainda acredita nas coisas que escreveu em 1973. Tu pode até acreditar, mas não diga que o North acredit