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Mostrando postagens de dezembro, 2006

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O link do post anterior não vai funcionar... Desculpas! É época de Natal, vocês vão me perdoar. Para muitas igrejas de rito ortodoxo, o Natal é comemorado no dia 6 de janeiro. Ainda estamos em espírito natalino.

Conjecturas natalinas

Natal é tempo de balbúrdia, compras, festas e comilanças. Uma festa para o comércio. A quantidade de carros estacionados no Shopping Iguatemi aqui de Porto Alegre ontem era enorme. Isso é normal em festas de fim de ano, como mostra o site do IPEAData nos dados sobre vendas nominais do varejo: http://www.ipeadata.gov.br/ipeaweb.dll/NSerie?SessionID=536281100&SERID=38325_1&NoCache=347151250&ATEMP=F É possível perceber que o mês de dezembro representa um salto nas vendas do varejo. Por exemplo, enquanto o índice de varejo varia em torno de 120 (base 100 em 2003) ao longo do ano de 2005, dezembro do mesmo ano apresenta um índice de 179,50. Em janeiro de 2006, volta-se ao patamar de 120. De 2000 a 2003, período contemplado pela série, o comportamento é muito parecido: um salto em dezembro devido às compras de Natal. Bem, isso é óbvio. Mas dados sempre são mais ilustrativos. Precisamos verificar empiricamente tudo, inclusive o óbvio. * * * O natal mantém-se, mas perde seu signifi

Sobre Análise Matemática e Ciência Econômica

Minhas aulas no mestrado da USP começam no dia 3 de janeiro, o que, convenhamos, é uma data excelente pra estar na praia, deitado numa rede e tomando água de coco. Mas estarei lá estudando matemática e estatística: a manhã inteira, todos os dias úteis. Contei para alguns da ementa do curso de matemática. Basicamente, aprenderemos análise real, tanto que o livro básico indicado é homônimo e publicado pelo IMPA. A análise consiste (acho eu) em provar teoremas e coisas do tipo. Não se trata da aplicação. Ao falar sobre isso para o meu professor de economia matemática, o Dr. Jorge Araújo, ele afirmou que talvez esse curso não fosse necessário: o custo de oportunidade é alto, uma vez que aprender bem a aplicação (ex: otimização dinâmica, hamiltonianos, enfim, coisas que nem sei o que são) seria mais vantajoso. Prof. Giácomo e Prof. Ronald apareceram de repente e os três passaram a discutir, enquanto eu avidamente ouvia a opinião deles. Prof. Giácomo disse que acredita ser positivo ter conhe

Rangel: inflação e Kondratiev

Enquanto escrevia minha monografia, foi possível perceber como o contexto mudou de cinqüenta anos para cá. Naquela época, o estruturalismo era dominante nos meios intelectuais brasileiros. Economistas como Ignácio Rangel eram muito conhecidos e citados. Recentemente, ganhei do Prof. Pedro Fonseca as obras completas desse cara, sem que eu saiba quase nada sobre o que ele escreveu. (Isso talvez explique o presente...). Rangel era um heterodoxo entre os heterodoxos. Enquanto o debate estava entre estruturalismo e monetarismo, Rangel discordou dos dois lados, propondo sua própria teoria inflacionária. Embora aceitasse causas estruturais (endógenas) da inflação, contrariando a teoria quantitativa da moeda, Rangel rejeitava a inelasticidade da oferta agrícola como causa de inflação de demanda. Para o autor, a inflação de custos ocorria porque as empresas, ao se organizarem como oligopólios ou oligopsônios, tentavam defender seus lucros com a elevação de preços. A economia brasileira operava,

Mercados financeiros são eficientes?

Muitos modelos econômicos trabalham com a hipótese de mercados eficientes. Até a década de 1970, o pessoal que estuda finanças acreditava platonicamente na hipótese da eficiência dos mercados financeiros. Mercado eficiente significa que o sistema de preços reflete todas as informações disponíveis e relevantes. No entanto, como mostraram Grossman e Stiglitz (1980), os preços dos ativos não podem refletir perfeitamente as informações. A experiência mostra que os investidores buscam obter informações diretas e não apenas observando a movimentação dos preços, arcando com o custo de obter essa informação. Tal comportamento só é compreensível se há vantagens em obter essa informação. Ou seja, a vantagem informacional gera algum lucro e, portanto, os preços dos ativos não transmitem tudo o que se precisa. Essa tese é antiga, mas pouco se fala dela na graduação ao menos. Eu, pessoalmente, nunca ouvira falar. Confira mais em: Grossmann, S. e Stiglitz, J. (1980). "On the impossibility of in

90% de aumento para parlamentares

Ontem, as duas mesas diretoras do Congresso aprovaram um reajuste de "apenas" 90,7% nos seus salários. Deputados e senadores terão seus salários equiparados com os dos ministros do STF, passando de R$ 12.847,20 para R$ 24.500,00. Isso significa também um aumento de 1,6 bilhão de reais nos gastos públicos, quando justamente o que precisamos é de déficits fiscais menores que permitam a baixa dos juros. Um aumento desse tipo é completamente doentio do ponto de vista moral: parlamentares decidindo sobre um aumento absurdo de seus vencimentos justamente depois das eleições, enquanto a renda dos aposentados, devido ao problema fiscal da previdência, não acompanham as elevações do salário mínimo. Existe aposentado que deveria ganhar 8 salários minímos que recebe apenas cinco. Isso se compreende devido ao problema fiscal, dizem alguns. Mas como entender então um reajuste de 90% de corruptos deputados e senadores, muitos dos quais estiveram recentemente envolvidos em escândalos como o

Perspectivas econômicas

Depois de enfrentar uma banca de professores na apresentação do trabalho de conclusão e ter saído vivo, resolvi assistir meu último seminário do NAPE, o Núcleo de Análise de Política Econômica da UFRGS. Confesso que foi um dos melhores que eu já vi. Ponto comum entre keynesianos e ortodoxos, o que importa é a taxa de investimento em relação ao PIB. Para que tenhamos um crescimento ao redor de 5%, precisamos de 25 a 27% de investimento. O nível de investimento é determinado principalmente pela taxa de juros de longo prazo (TJLP), que está bem abaixo da Selic. E por que a taxa Selic é importante? Para a ortodoxia, ela não é tão importante no quesito investimento. Para os keynesianos, porque ela influi no consumo, o que afeta as expectativas dos investidores (Keynes, 1936). Comparando os números, o governo Lula foi melhor que o Cardoso 2. No entanto, relativamente ao crescimento mundial, Lula foi pior. Enquanto Lula não teve uma crise internacional sequer, FH passou por umas cinco... Seg

Marshall, economia e religião.

Alfred Marshall (1842-1924), expoente da escola de Cambridge, teve brilhantes idéias ao longo de sua vida. Além de termos herdado dele as demandas marshallianas, tão caras a nós na microeconomia, e tantos outros conceitos econômicos ( coeteris paribus e economias externas são apenas alguns deles), também afirmou ele que "os dois grandes fatores na história do mundo têm sido o religioso e o econômico". Mais ainda, Marshall reconheceu a importância do estudo histórico para uma melhor compreensão da realidade. É verdade que, equivocados por não compreenderem bem a dialética, muitos marxistas e/ou marxianos afirmam até hoje que o fator relevante e causador de todo o resto seja o material. No entanto, outros fatores tiveram e ainda têm seu papel. Curiosamente, mesmo reconhecendo a importância desses fatores, pouco ou nenhum espaço houve na teoria econômica de Marshall para eles. Conquanto a matemática fosse apenas auxiliar e presente principalmente nos apêndices de sua obra, o si