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Mostrando postagens de dezembro, 2007

O debate liberal-igualitário - parte I

No debate sobre justiça, temos um pequeno debate entre Rawls e Sen. Um debate em família, na verdade, como diz Roemer (1996). Ambas são propostas do chamado liberalismo igualitário, mas se diferenciam em um aspecto fundamental para um teoria igualitária: eles adotam equalisanda diferentes. O equalisandum - ou seja, aquilo que deve ser equalizado - para Rawls são os chamados bens primários, que são coisas que todo ser humano racional presumidamente desejaria. Rawls de certa forma define alguns deles no seguinte trecho: For simplicity, assume that the chief primary goods at the dispositions of society are rights and liberties, powers and opportunities, income and wealth. [...]. These are social primary goods. Other primary goods such as health and vigor, intelligence and imagination, are natural goods; although their possession is influenced by the basic structure, they are not so directly under its control. (Rawls, 1971, p. 62) A crítica de Sen para a escolha de uma forma de recurso

Um bom exemplo

Enquanto pensamos nos presentes: O Natal é um momento muito especial, e como qualquer pessoa, eles também comemoram o nascimento do Salvador. Por isso, realizou-se no dia 18 de dezembro o almoço aos moradores de rua. Um dia todo especial em nossa paróquia, onde foram servidos cerca de 500 almoços.

Natal

Este blog gostaria de desejar a todos um Feliz Natal. Afinal, Natal é uma data importante. Também por permitir uma desculpa para famílias se reencontrarem, para descansar daquela loucura, para descansar um pouco. Mas evidentemente, há a razão principal para a comemoração do Natal. Acho que Dietrich Bonhoeffer, em sua "Ética" nos fala corretamente acerca do significado de Jesus, o ser humano: Jesus Cristo, o ser humano, isto significa que Deus entra na realidade criada, que podemos e devemos ser seres humanos perante Deus. A destruição da humanidade é pecado e se constitui em obstáculo para Deus redimir o ser humano. Mesmo assim, a humanidade de Jesus Cristo não significa simplesmente a confirmação do mundo existente e da natureza humana. Jesus foi ser humano "sem pecado" (Hb 4.15). Este é o aspecto decisivo. (Bonhoeffer, 2005 [1949], p. 77) Mas ao contrário daqueles que querem fazer da igreja apenas um instrumento de mudança social (compromisso) ou daqueles que a

Perfeccionismo moral e subjetivismo welfarista

O problema que vejo no debate que vem sendo travado até agora é saber se (a) não estamos caindo em algum tipo de perfeccionismo moral e, (2) se algum tipo de perfeccionismo moral é aceitável. Quando falo de perfeccionismo, estou me referindo a concepções morais como as defendidas na Grécia Antiga: o homem estaria próximo à perfeição moral à medida que participasse ativamente da vida política da pólis. Dessa forma, estavam definidos que tipo de vida um homem devia levar - trata-se de uma concepção objetiva. Do lado oposto, temos a idéia welfarista, traço marcante do utilitarismo, na qual a satisfação de desejos subjetivos torna-se a métrica. Na concepção clássica de Bentham, falava-se na dicotomia prazer-dor. Quem sabe o que é o melhor para si é o indivíduo. Se, como disse o Joel, uma pessoa gosta de se enlamaçar ou fazer qualquer outra coisa que a maioria das pessoas considere absurda, não importa: o que importa é que ele está agindo de acordo com suas preferências. Contudo, ambas as

Violações de direitos podem ser justificadas? (2)

O debate tem sido frutífero na questão da violação de direitos naturais. Eu lancei a pergunta com base em Amartya Sen e Richard respondeu a seu modo costumeiramente apriorístico e defensor instransigente de princípios. Renato Drumond resolveu opinar em seguida, contrapondo-se a alguns argumentos de Richard. Dias depois, Joel foi mais conseqüencialista reagindo criticamente às proposições anarco-capitalistas (é no blog do Joel que o debate se concentrou: 14 comentários em dois dias). Logo após, Stein voltou a defender posições mais apriorísticas, à semelhança de Richard, contra os argumentos de Sen. Em meio a tudo isso, o Cláudio do De Gustibus ajudou na divulgação do debate aqui e aqui . Meu pequeno comentário em relação a todo esse debate, cujo pontapé inicial foi questionar se A pode invadir a propriedade de D para impedir que B mate C: A minha formação convencional como economista levava-me a confundir o conseqüencialismo com o utilitarismo de forma bastante errônea. Indubita

Devem igrejas opinar dessa forma? (2)

Que fique claro que eu tenho vários amigos ortodoxos. Nada contra eles. Bem, podemos concluir que os nossos irmãos russos gostam bastante de política: Orthodox leaders rally to oppose Kosovo independence Warsaw (ENI). Serbia's predominant Orthodox church has launched a diplomatic drive among church leaders abroad to prevent an expected UN vote to allow the independence of Kosovo from Serbia. "By supporting this independence drive by Albanians living in Kosovo, the West forgets the hurt suffered in recent years by the Orthodox Serbs who live there," Russian Orthodox Patriarch Alexei II of Russia told Serbia's Vecernje Novosti newspaper on 8 December. [376 words, ENI-07-0971] Fonte: ENI

Funções de resposta ao impulso e decomposição de variância

Novamente, apenas para economistas com especial interesse e conhecimento em econometria. Em um contexto de VAR (vetores auto-regressivos), embora a causalidade no sentido de Granger seja bem popular, sempre é interessante sabermos como uma variável responde a um impulso em outra variável ceteris paribus, ou seja, em um exercício de estática comparativa. Chamamos isso de análise de resposta ao impulso. Caso a matriz de variância-covariância não seja diagonal, ou seja, caso certos choques tenham relação com outros choques pela covariação contemporânea, precisamos primeiro ortogonalizar os erros (ou seja, torná-los independentes) através da decomposição da matriz de covariância, a conhecida decomposição de Choleski. Uma das matrizes criadas nessa decomposição será triangular inferior, demonstrando que a ordem das variáveis têm importância para essa decomposição. O problema é que essa ordem não pode ser determinada por métodos estatísticos: ela acaba sendo determinada arbitrariamente p

Exogeneidade em séries de tempo

Mais um texto de quem tem prova de econometria na segunda-feira. Quem não é economista não deve de forma alguma ler esse texto. Não digam que eu não avisei. Quando falamos de exogeneidade na econometria clássica, estamos falando da chamada exogeneidade "estrita", que nada mais consiste no fato de uma variável x não ser correlacionada com qualquer erro. Nas séries de tempo, no entanto, trabalha-se com três tipos de exogeneidade, dependendo do fim proposto. Na busca de resultados em inferência estatística (modos de estimar parâmetros e formulação de testes de hipótese), utiliza-se, em séries de tempo, o conceito de exogeneidade fraca. Para isso, precisamos 'fatorar a função de distribuição em duas partes: distribuição condicional e distribuição marginal . Define-se que uma variável é fracamente exógena em relação aos parâmetros de interesse se, e somente se, houver um certo tipo de reparametrização e atender duas condições: a variável de interesse precisa ser função de apen

Devem igrejas opinar dessa forma?

Sei não... Russian Orthodox leader back Putin's anointed successor Moscow (ENI). Patriarch Alexei II and other leaders of the Russian Orthodox Church have voiced their support for President Vladimir Putin's anointing of First Deputy Prime Minister Dmitry Medvedev as his successor. They also approved of Medvedev's declaration that he would appoint Putin as prime minister after the scheduled 2 March presidential elections. With the backing of Putin and the United Russia party, which dominates Russian politics, Medvedev, aged 42, is expected to win by a wide margin. [418 words, ENI-07-0967] Fonte: ENI

Mini-banca

Ontem foi dia de apresentar a uma pequena banca meu projeto preliminar. Além do meu orientador, Prof. Dr. Renato Colistete, estiveram presentes o Prof. Dr. Nelson Nozoe e o Prof. Dr. Dante Aldrighi. Essa chamada "mini-banca" é obrigatória: todos os mestrandos, no final de seu primeiro ano, precisa submeter o projeto a essa pequena banca. Como também somos obrigados a mandar um projeto para a FAPESP antes, ficamos praticamente prontos para essa banca, embora com muitos problemas, sem sombra de dúvida. Afinal, esse projeto é escrito enquanto estamos a duras penas tentando acompanhar três disciplinas obrigatórias. Por esse e outros motivos, os dois professores apontaram inúmeros problemas no projeto, principalmente o desequilíbrio entre as seções de revisão bibliográfica e de metodologia e objetivos. Enquanto a primeira está bastante extensa, a segunda é pobre e vaga. Prof. Nozoe, conhecido por ser extremamente rigoroso, foi um bom teste. Ele impiedosamente apontou os ponto

Um pouco de séries de tempo - espaço de estados e filtro de Kalman

Para quem tem saco de ler algo bem teórico sobre econometria. São resultados de meus estudos para a prova de segunda. Ontem eu falava dos modelos estruturais para previsão de séries temporais. Para sua operacionalização, expliquei que o modelo deveria ser reescrito sob a forma de espaço de estados. Mas o que é um modelo em espaço de estados? Um modelo como esse é baseado na independência do futuro do processo em relação a seu passado, dado o estado presente. Ou seja, toda informação do passado está contida no estado do processo, e isso é suficiente para a predição. Representa-se isso através de duas equações dinâmicas: (1) a equação de medida, que representa as observações do processo geradas em função do vetor de estado, e (2) a equação de transição, que representa a evolução dinâmica do vetor de estado não observado. (Souza, 1989, p. 54). As duas perturbações, uma em cada equação, não são correlacionadas entre si para qualquer defasagem, além de serem normais e auto-independentes. P

Mais uma dos holandeses

Não conheço a Holanda, mas ela está sempre à frente de todos quando se trata de secularização - talvez por sua história. A Holanda foi um dos primeiros lugares a receber judeus e outros, que foram se integrando à sociedade. O filósofo Baruch de Spinoza, por exemplo, era holandês e de família judia, embora suas idéias de uma divindade imanente divergissem tanto dos cristãos quanto dos judeus. Um dos primeiros humanistas, Erasmo, era de Rotterdam. Seja lá o que for, não me surpreende a seguinte notícia: Dutch pastor says he can believe in a 'God who doesn't exist' Utrecht (ENI). A Dutch Protestant cleric who describes himself as an "atheist pastor", saying he does not believe in God's existence, has become a publishing success in the Netherlands. The Rev. Klaas Hendrikse published a book at the beginning of November entitled "Believing in a God who does not exist: Manifesto of an atheist pastor", which by the end of the month had gone into its thi

Um pouco de séries de tempo - Box & Jenkins e modelos estruturais

Quando falamos sobre análise e previsão em séries temporais, o que nos vem à cabeça hoje são os modelos da classe ARIMA e a metodologia desenvolvida por Box & Jenkins (1970). Certamente, os trabalhos desses autores foram os grandes responsáveis pelo desenvolvimento ocorrido na econometria de séries temporais. Antes porém dos trabalhos de Box & Jenkins, a formulação de modelos univariados consistia em uma série composta de quatro componentes não-observáveis, que eram (a) tendência, (b) sazonalidade, (c) ciclo e (d) o erro aleatório. A assim chamada decomposição clássica permitia a formulação de modelos aditivos, multiplicativos ou mistos utilizando as componentes acima listadas. Com Box & Jenkins, a decomposição clássica acabou não recebendo mais tanta atenção. Tal situação, no entanto, mudou com as proposições de Harvey. A formulação clássica tinha como vantagem a interpretação calra dos seus diversos componentes (Souza, 1989), o que é recuperado por Harvey e seus modelos

Última semana

Falta uma semana para que o semestre se consume. Para a maior parte da turma, o ano acaba na segunda, dia 17, com a prova de Econometria II - Séries de Tempo com a Profa. Vera Fava. Alguns ainda tem atividades na terça, dia 18, na disciplina de Organização Industrial com a Profa. Farina, presidente do CADE. Amanhã, vários dos meus colegas estarão sofrendo com a prova de Microeconomia II com o Prof. Gabriel Madeira. Certamente estão estudando agora desesperadamente a parte de contratos. À tarde, estarei apresentando meu projeto preliminar de dissertação para três professores. O resumo do projeto eu postei aqui . Acredito que os professores Dante Aldrighi e Nelson Nozoe poderão fazer boas contribuições, além é claro de meu orientador, Prof. Renato Colistete. Enfim, é uma semana difícil, mas o alívio de saber que está acabando e que logo poderemos estar em casa nos dá algum alento. É verdade que as disciplinas não acabam de fato, temos trabalhos e mais trabalhos no mês de janeiro. Mas tod

Violações de direitos podem ser justificadas?

Está ocorrendo um debate interblogs. Ao comentar um texto do blog "Depósito de..." do meu colega de mestrado e anarco-capitalista libertário Richard, perguntei-lhe: E quando A pode impedir que B mate C, mas para fazer isso, tem que invadir a propriedade de D? O que fazer? Para os libertários, violar direitos naturais é impensável. A resposta de Richard veio neste texto bastante esclarecedor . Contudo, Renato Drumond, de um ponto de vista liberal mais "light" contra-argumentou em seu blog "Democrata Liberal" . Para contribuir com o debate da forma que posso, uma vez que sou um neófito em relação a esse assunto, transcrevo de onde tirei essa pergunta. Sobre os critérios libertários de Robert Nozick, afirma Amartya Sen (1999, p. 88-89) em "Sobre Ética e Economia": Se a pessoa A estiver violando gravemente algum direito de B, por exemplo, espancando-o, a pessoa C tem o dever de ajudar a impedir isso? Adicionalmente, C estaria correto ao cometer algum

Monopólio, igrejas e eficiência missionária. Parte II: o aumento da competição

Como disse no post anterior, as igrejas tradicionais acabaram criando teologias ineficientes do ponto de vista econômico. Pode-se argumentar que o desenvolvimento dessas teologias tenha mais a ver com a crescente consciência de problemas como intolerância e proselitismo, levando os teólogos a não mais defenderem a evangelização a qualquer custo. Embora não neguemos que fatores éticos como esses tenham seu papel, devemo-nos perguntar: as igrejas tradicionais teriam se preocupado com esse tipo de questões éticas e teológicas caso não estivessem em confortável situação de monopólio? É patente que, do ponto de vista do número de fiéis (embora esse não seja – ou não deveria ser – o objetivo único da igreja, sabemos que a sobrevivência de uma igreja enquanto organização depende de que haja certo número de fiéis), as teologias que mais tem influenciado a práxis dessas igrejas são claramente ineficientes. Com o surgimento dos movimentos religiosos norte-americanos, na maior parte das vezes des

Monopólio, igrejas e eficiência missionária. Parte I: as igrejas históricas

O panorama religioso tem se diversificado bastante recentemente principalmente dentro do que chamamos de Cristianismo. De algumas poucas instituições que existiam, a oferta de denominações cristãs multiplicou-se com o crescimento dos evangélicos, mais especificamente os pentecostais e neo-pentecostais. Embora a cisão da Igreja origine-se do início do milênio passado (católicos romanos x ortodoxos), tendo havido outra com a Reforma Protestante no século XVI, isso não significou o rompimento da posição monopolista das igrejas na maioria dos lugares. Embora a Igreja Católica Romana não fosse mais a única, cada país ou estado adotou a sua confissão. Alguns reis mantiveram seus países e colônias sob a égide do catolicismo, enquanto outros adotaram o protestantismo – pelo menos no mundo ocidental. Ou seja, em geral, as igrejas históricas (católica romana, luterana, reformada, anglicana e outras poucas) detiveram por séculos uma posição monopolista. Não é por acaso que hoje, são justa

Crise de 1929, Friedman, McCloskey e etc.

Vejam o caderno Eu&Fim de Semana encartado no Valor Econômico. Há um resumo do debate entre Paul Krugman e Anna Schwartz acerca de Milton Friedman. Em seguida, um artigo do meu orientador, Renato Colistete , sobre a opinião da historiografia a respeito de 1929 (que tem a ver com o debate sobre Friedman, que escreveu com Schwartz o famoso livro "A Monetary History of the United States") e algo sobre a visita de McCloskey ao Brasil. Atrasado mas você ainda não deve ter jogado fora o Valor de sexta passada.

Capital social e capital humano

Lendo aqui a literatura clássica sobre capital social, temos um paper do sociólogo James Coleman (Chicago, já falecido) que conta um exemplo muito interessante. Em "Social Capital in the Creation of Human Capital", publicado na American Journal of Sociology, Vol 94 (1988), pp. S95-S120, diz Coleman: In one public school district in the United States where texts for school were purchased by children's families, school authorities were puzzled to discover that a number of Asian immigrant families purchased two copies of each textbook needed by the child. Investigation revealed that the family purchased the second copy for the mother to study in order to help her child do well in school. Here is the case in which the human capital of the parents, at least as measured traditionally by years of schooling, is low, but the social capital in the family available for the child's education is extremely high. [...] That is, if the human capital possessed by parents is not compl

O´Rourke sobre cooperação na Irlanda

A discussão acerca de capital social, principalmente a partir das conclusões de Putnam (1993), por exemplo, alimentou a visão de que estruturas mais horizontais como as existentes entre comunidades protestantes, fossem mais conducentes ao desenvolvimento - em contraste com o que aconteceria entre comunidades católicas, muito mais hierarquizadas. Desenvolvi um pouco desse argumento em outro post . No entanto, o historiador econômico Kevin O'Rourke acha que não é bem assim: A recent literature argues that ‘hierarchical religions’ such as Catholicism hamper the formation of trust, thus reducing the propensity to cooperate and damaging economic performance. This article looks for a link between Catholicism and the propensity to cooperate in the pre-1914 Irish dairy industry. Although the propensity to cooperate was higher in Denmark than in Ireland, and in Ulster than elsewhere in Ireland, Catholicism did not make cooperation more difficult in Ireland. Political conflict over land refo