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Mostrando postagens de fevereiro, 2008

Lutero, Kant e Liberdade

Ao longo da história do pensamento, diversos conceitos de liberdade surgiram e tornaram-se importantes. Diferentemente das tradições anteriores, o protestantismo luterano, por exemplo, formulou outro conceito de liberdade. Segundo Lutero em seu pequeno livreto “Da Liberdade Cristã”, o homem se tornava livre através da fé em Cristo, embora se tornasse escravo de todos pelo amor. Não obstante a paradoxal idéia luterana provenha da influência agostiniana e, portanto, neoplatônica, que ele recebera como monge, Kant parece ter bebido dessa fonte também. Kant era de família protestante de tradição pietista. O pietismo foi um movimento de avivamento espiritual que surgiu na Europa e perpassou diferentes tradições protestantes. Os pietistas valorizavam muito o estudo das Escrituras e a educação. Isso explica o fato de que muitos renomados intelectuais germânicos eram oriundos de famílias pietistas. Exemplos como Kant e Goethe já são suficientes. A visão religiosa pietista herdada por Kant

"Acaso" não é uma resposta tão boa assim

Criticando a concepção materialista da medicina em 1949, o psiquiatra cristão suíço Paul Tournier escreve o seguinte acerca dos defensores de que o ser humano é simplesmente uma máquina: "Segundo essa perspectiva, o homem assemelha-se a uma máquina ou, mais precisamente, a um conjunto de máquinas. Assim como um automóvel é um conjunto de diversas máquinas, cilindros, gerador, carburador, radiador, diferencial, etc., o homem seria um complexo conjunto de diferentes máquinas: dos sistemas digestivo, respiratório, nervoso, urinário, etc., solidários entre si, porém independentes. O ideal da ciência, para melhor compreender o funcionamento de cada uma dessas máquinas, é isolá-las do conjunto e estudá-las em si mesmas. Cada uma delas será reduzida então a fenômenos físico-químicos que não têm nada do que seja propriamente vivo e humano. [...] Uma única diferença subsiste entre a máquina humana e a máquina industrial, com a qual é comparada, e que faz com que a primeira (vale o parado

Igualitarismo símio

Comecei a ler um pequeno livro do famoso cientista político Robert A. Dahl chamado "On Political Equality" (New Haven: Yale University Press, 2006). Após discorrer brevemente sobre Hume, Kant e Rawls, Dahl detalha-nos o seguinte experimento feito com macacos. Seria uma pista das origens das nossas noções de justiça e igualdade, as quais estariam além da razão: Female capuchin monkeys were taught to exchange tokens - granite pebbles - with the experimenter in return for grapes and cucumbers. Previous experiments had shown that in 90 percent of the trials the female monkeys preferred grapes to cucumber slices, and that in less than 5 percent of the cases they failed to hand back the token in exchange for the food. Two monkeys were than placed in their cages in pairs so that each could see the other and observe which of the two rewards the other received. The experimenters observed that if one monkey was given a cucumber in return for her pebble but saw that the other received m

Ética e realidade II

Em toda a discussão ética que se travou neste blog, é evidente que sou cético em relação a um sistema a priori de determinação daquilo que seria certo ou errado. Utilizando argumentos conseqüencialistas, tentei racionalizar o ponto a meu favor. No entanto, não vou esconder o raciocínio teológico que me orienta um pouco nessas questões. O ponto a ser criticado é a razão prática kantiana, que influencia um pouco nossos amigos libertários. Embora eles não tratem de mentiras, o ponto é o imperativo categórico "pessoas são fins e não meios". Se Kant, partindo do principio da veracidade, chega à grotesca conclusão de que eu deveria responder com sinceridade também ao assassino que invadiu minha casa em perseguição a um amigo meu, neste caso a autojustificação da consciência, exacerbada até a insolência ultrajante, bloqueia a ação responsável. Se responsabilidade é a resposta global e condizente com a realidade que o ser humano dá ao chamado de Deus e do próximo, aqui transparece cl