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Mostrando postagens com o rótulo filosofia moral

Igualitarismo símio

Comecei a ler um pequeno livro do famoso cientista político Robert A. Dahl chamado "On Political Equality" (New Haven: Yale University Press, 2006). Após discorrer brevemente sobre Hume, Kant e Rawls, Dahl detalha-nos o seguinte experimento feito com macacos. Seria uma pista das origens das nossas noções de justiça e igualdade, as quais estariam além da razão: Female capuchin monkeys were taught to exchange tokens - granite pebbles - with the experimenter in return for grapes and cucumbers. Previous experiments had shown that in 90 percent of the trials the female monkeys preferred grapes to cucumber slices, and that in less than 5 percent of the cases they failed to hand back the token in exchange for the food. Two monkeys were than placed in their cages in pairs so that each could see the other and observe which of the two rewards the other received. The experimenters observed that if one monkey was given a cucumber in return for her pebble but saw that the other received m...

Perfeccionismo moral e subjetivismo welfarista

O problema que vejo no debate que vem sendo travado até agora é saber se (a) não estamos caindo em algum tipo de perfeccionismo moral e, (2) se algum tipo de perfeccionismo moral é aceitável. Quando falo de perfeccionismo, estou me referindo a concepções morais como as defendidas na Grécia Antiga: o homem estaria próximo à perfeição moral à medida que participasse ativamente da vida política da pólis. Dessa forma, estavam definidos que tipo de vida um homem devia levar - trata-se de uma concepção objetiva. Do lado oposto, temos a idéia welfarista, traço marcante do utilitarismo, na qual a satisfação de desejos subjetivos torna-se a métrica. Na concepção clássica de Bentham, falava-se na dicotomia prazer-dor. Quem sabe o que é o melhor para si é o indivíduo. Se, como disse o Joel, uma pessoa gosta de se enlamaçar ou fazer qualquer outra coisa que a maioria das pessoas considere absurda, não importa: o que importa é que ele está agindo de acordo com suas preferências. Contudo, ambas as ...

Mill e psicologia individual

Por uma infelicidade do destino, fui educado acerca do trabalho do economista e filósofo inglês John Stuart Mill através do péssimo livro de história do pensamento econômico de E. K. Hunt. Isso denegriu um pouco a imagem de Mill que carreguei por algum tempo, mesmo sabendo que a obra de Hunt deixa bastante a desejar. Stuart Mill tinha como objetivo principal fazer um síntese entre a economia política clássica de Ricardo e o utilitarismo de Jeremy Bentham, a principal corrente ética da época. Eduardo Giannetti, em seu livro "Vícios Privados, benefícios públicos?" * mostra a posição de Mill sobre a psicologia humana: Referindo se a Bentham (mas o mesmo valeria também para Ricardo), Mill afirmou: "O homem, aquele ser mais complexo, é muito simples aos seus olhos". Simplificações drásticas da conduta humana, como o hedonismo psicológico de Bentham ou o "homem econômico" ricardiano, podiam ter alguma validade (limitada) enquanto hipóteses comportamentais em teo...

Ética e economia: análise normativa e comportamento real

Em resposta ao post do Ph nos Rabiscos , Stein, também nos Rabiscos , afirmou o seguinte: Ao dizer que não devemos separar a ética da teoria econômica, estamos tentando dizer algo a respeito das preferências e objetivos das pessoas. Estamos dizendo como deveria ser e não como é . [...] Além do mais, se vamos colocar a ética no meio, nós criaremos um problema sério. Qual ética é a que devemos colocar? A sua? A minha? A muçulmana? Protestante? Cristã? Budista? Oriental? Socialista? Nazista? Meu argumento é de que, embora pudesse concordar com Stein que a Economia enquanto ciência deveria tentar se abster de julgamentos de valor, na verdade eu estava defendendo que os economistas considerassem que as pessoas podem ter comportamentos baseados em alguma ética. Amartya Sen mostra com clareza os dois pontos que relacionam ética e economia: Pode-se dizer que a importância da abordagem ética diminui substancialmente com a evolução da economia moderna. A metodologia da chamada “economia...

Smith: egoísmo e auto-interesse

Nosso pai Adão (como costumava dizer meu professor de História Econômica Geral, Prof. Dr. Eugênio Lagemann) é comumente visto como defensor de um liberalismo radical, segundo o qual, o bem-estar geral era resultado da interação entre homens egoístas. Essa versão disseminada na ciência econômica é um erro na visão de cada vez mais pessoas. Como disse também o Prof. Dr. Flávio Comim uma vez em aula: “isso que chamam de neoliberalismo é uma ofensa ao liberalismo clássico”. Geralmente, pensa-se que não há lá grandes diferenças entre o velho e o novo liberalismo. Conseqüentemente, Smith é injustiçado quando sua obra é reduzida à “mão invisível”, expressão usada duas vezes em sua obra. Por esse motivo, Smith continua sendo um vasto campo de estudo para os historiadores das idéias econômicas. Muitos estudiosos recuperaram o contexto filosófico da época em que Smith viveu para obter uma interpretação mais precisa acerca do pensamento do escocês. Esses estudiosos contrariam uma concepção de...