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Salário dos professores

Meu colega Guilherme Risco me enviou uma entrevista antiga (maio de 2011) com o economista Gustavo Ioschpe sobre a educação no Brasil, mas relevante no atual contexto. Embora possa concordar com Ioschpe em diversos pontos, fiquei decepcionado com suas ideias quanto ao aumento do salário dos professores - e, portanto, com a valorização da carreira docente na educação básica. 

O piso salarial do professor que trabalha 40 horas semanais está em R$ 1187. Embora não estejamos tratando de médias, estados como o Rio Grande do Sul não querem pagar o piso - em que pesem os problemas fiscais do Estado, por demais conhecidos. Mas correndo o risco de cair em uma "conversa de bar", conheço algumas pessoas que, embora se sentissem vocacionadas para o magistério, desistiram da carreira devido aos salários aviltantes. 

Ioschpe, rechaçando a importância do aumento salarial, afirmou que "o salário do professor não é uma variável estatisticamente significativa ou relevante na determinação do aprendizado dos alunos". É razoável acreditar que aumento salarial dos professores não resulte em melhoria do aprendizado no curto prazo. Ioschpe reconhece o argumento de longo prazo e afirma posteriormente que:
 "quando se fala em aumento dos professores, as pessoas veem esta questão por dois lados. Um é aumentar os salários dos professores que estão na ativa hoje para que eles se sintam mais motivados e tenham resultados melhores. E a segunda é aumentar significativamente o salário dos professores para que um novo grupo de pessoas seja atraído à carreira."
O primeiro argumento (curto prazo) é rechaçado pelos estudos de acordo com ele. Quanto ao segundo (longo prazo), Ioschpe vê o seguinte problema:
"[Isso é] dizer que 2 milhões de professores, hoje na ativa não prestam e que não há nada que se possa fazer com eles para que tenham um rendimento melhor. Eu rejeito este argumento. Acho que os professores brasileiros têm bastante vontade de acertar e em vários casos estão fazendo um belo trabalho. E a partir do momento que tenham uma formação correta, o resultado vai melhorar."
É evidente que preparar melhor os professores que já estão na ativa pode melhorar os resultados. Também é evidente que existem muitos professores na ativa que são excelentes profissionais. No entanto, não podemos deixar de reconhecer que, com uma política de aumento salarial no longo prazo, haverá atração de mais gente qualificada - negar isso é no mínimo estranho à lógica econômica. Situações como de conhecidos meus que largaram o magistério diminuiriam. Além disso, a carreira docente seria mais valorizada pela própria sociedade em todos os seus aspectos. Os resultados disso não seriam imediatos, mas não há soluções fáceis e de curto prazo para a educação. O aumento consistente de salários é apenas um aspecto entre tantos outros, como bem assinalou Ioschpe, mas é fundamental. Dizer isso não significa que os atuais professores não prestam. E dizer que eles prestam e negar aumento salarial não serve para aumentar a auto-estima do professor.

Comentários

Dados os baixos salários e as perigosas condições de trabalho, sobretudo nas periferias das grandes cidades, conheço casos de professores que abandonaram a carreira para se tornarem técnicos administrativos do setor público. Algo está errado com os incentivos na docência brasileira.
Humberto disse…
Elementos aparentemente ñ-econômicos tem poder de alavancar desempenho das crianças:
Professores morarem no mesmo bairro que os alunos, e conheçerem os pais deles; fortalecimento dos laços comunidade-escola; Escolas abertas aos Fds, sediando eventos do bairro

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