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Resenhas de Why Nations Fail

Acho que essas resenhas sobre o aclamado livro de Aemoglu e Robinson, Why Nations Fail, podem ser interessantes (veja o blog do livro aqui). Em partiular, gostei muito da resenha do Bill Easterly, cuja crítica básica é que o livro é mais anedótico do que consistente do ponto de vista de mostrar evidências de causalidade - teria havido exagero na tentativa dos autores em tornar o livro acessível a um público maior do que os economistas. 

Por outro lado, a resenha de Clive Crook (são duas na verdade, mas vou me concentrar nessa aqui, a outra resenha está aqui), chama atenção para o uso do termo "instituições inclusivas" - termo  que para ele serve mais para vender a ideia do que dar certa precisão ao argumento. Para melhorar isso, Crook resolve voltar para Mancur Olson e seu conceito de "market-augmenting government". Um ponto duvidoso da resenha de Crook é seu certo ode ao "individualismo" que ele faz no final. Esse termo talvez seja tão problemático quanto "instituições inclusivas" (se é que isso é tão problemático quanto diz Crook). A dicotomia "individualismo vs. coletivismo" me parece pouco útil - melhor continuar com "direitos individuais", uma vez que cooperação, termo que parece não combinar tanto com individualismo, para o próprio Olson e também para North, é uma das chaves para o crescimento de longo prazo.

Thomas Friedman já tinha uma resenha interessante aqui. Também vale a pena checar a resenha de Paul Collier, bastante favorável ao livro. Não esquecer da resenha do Francis Fukuyama, para quem a visão de instituições inclusivas/extrativas de Acemoglu e Robinson é semelhante ou igual à ideia de North, Wallis e Weingast quanto a "open/limited access socieities" (e, na minha opinião, a resenha do Fukuyama é a mais interessante dentre todas que mencionei). Há ainda outras resenhas na internet, é só ver nessa lista dos próprios autores do livro.

Comentários

thiagoreis disse…
Oi Thomas, ainda não li o livro, mas tendo em vista outros textos que li do Acemoglu sobre a relação entre reforma do direito e performance econômica (http://www.nber.org/papers/w14831), a resenha do Easterly me pareceu bastante sensata. Na verdade, o Easterly faz algo parecido com o que ele fez com o Sachs. A questão é, de um lado a amplitude da base empírica para as conclusões que estão tirando sobre a construção das instituições e, de outro, o papel totalmente secundário e quase instrumental que dão para a ordem jurídica - que é o que pessoalmente me interessa. Coisa diferente faz o Sen, por exemplo. Enfim, só pra dar um pitaco de jurista no teu blog. Abraço!
João Melo disse…
Thomas, eu já tinha lido sobre o livro e hoje a Exame "classifica" o mesmo como ÓTIMO.

Saudações econômicas e florestais.

João Melo
Chutando a Lata disse…
Achei pertinente os comentários feitos aqui e aproveito para sugerir a leitura de um dos primeiros artigos nessa área, incluindo a experiência brasileira (apenas um ensaio preliminar) Regime constitucionais de politica economica -www.aeconomiadobrasil.com.br/artigo.php?artigos=4 - que li sobre o assunto.

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