Pular para o conteúdo principal

Escola de Verão - parte II

A Escola de Verão em Economia do Desenvolvimento da FEA-USP foi um sucesso. É claro que nem todos os minicursos agradaram a todos, uma vez que professores de diferentes perspectivas teóricas depararam-se com estudantes bastante heterogêneos em termos de formação. Mas as opiniões que ouvi foram em geral positivas, incluindo as palestras de Delfim Netto e Ricardo Abramovay (a foto abaixo é dessa última palestra).

Em particular, conhecer alguns assuntos foi particularmente útil para mim. No curso de pobreza e crédito, ministrado pelo Prof. Ricardo Madeira, fomos apresentados a uma forma simplificada do modelo de Stiglitz e Weiss (1981) - um dos modelos clássicos de Stiglitz no assunto informação imperfeita. É em parte baseado nesse modelo que se desenvolvou uma importante literatura teórica sobre imperfeições no mercado de crédito. Um bom resumo em português das contribuições de Stiglitz à literatura sobre mercados financeiros encontra-se aqui. 

Também foi interessante o curso do Prof. Mauro Rodrigues acerca de comércio e crescimento. Depois de apresentar o modelo básico de Solow e o modelo Heckscher-Ohlin na sua versão estática (a mais conhecida), o prof. Mauro falou dos modelos Heckscher-Ohlin dinâmicos que associam comércio a crescimento. Recomendo fortemente a leitura do paper do próprio Mauro sobre a industrialização via substituição de importações na Journal of Monetary Economics. Embora não seja uma explicação histórica, o modelo é uma tentativa de explicar os problemas causados pelo ISI. Para aqueles que conhecem pouco o modelo Heckscher-Ohlin e costumam tirar conclusões normativas demasiadas, é preciso conhecer o modelo melhor e entender a pesquisa atual. Para iniciantes, recomendo o livro do Feenstra e Taylor de Economia Internacional ou o livro do Helpman sobre comércio internacional

A Profa. Fabiana Rocha apresentou também o que há na fronteira da literatura de eficiência do gasto público. A maior conclusão é que há ainda muitas dificuldades e muito a ser feito. A Economia da Educação já está mais consolidada, mas Economia da Saúde e outros tópicos relacionados a eficiência estatal ainda merecem maior atenção. Um bom paper que ela apresentou foi o Barankay e Lockwood (2006), entre outros, que você pode encontrar aqui. 


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Lutero e os camponeses

São raros os momentos que discorro sobre teologia neste blog. Mas eventualmente acontece, até porque preciso fazer jus ao subtítulo dele. É comum, na minha condição declarada de cristão luterano, que eu sempre seja questionado sobre as diferenças da teologia luterana em relação às outras confissões. Outra coisa sempre mencionada é o episódio histórico do massacre dos camponeses no século XVI, sancionado por escritos de Lutero. O segundo assunto merece alguma menção. Para quem não sabe (e eu nem devo esconder isso), Lutero escreveu que os camponeses, que na época estavam fazendo uma revolta bastante conturbada, deveriam ser impedidos de praticarem tais atos contrários à ordem - inclusive por meio de violência. Lutero não mediu palavras ao dizer isso, o que deu a justificativa para a violenta supressão da revolta que ocorreu subsequentemente. O objetivo deste post não é inocentar Lutero do sangue derramado sobre o qual ele, de fato, teve grande responsabilidade. Nem vou negar que Lutero ...

Endogeneidade

O treinamento dos economistas em métodos quantitativos aplicados é ainda pouco desenvolvido na maioria dos cursos de economia que existem por aí. É verdade que isto tem melhorado, até porque não é mais possível acompanhar a literatura internacional sem ter conhecimento razoável de técnicas econométricas. Talvez alguns leitores deste blog ouçam falar muito em endogeneidade ou variáveis endógenas, principalmente no que se refere a modelos econométricos. Se pensamos em modelos de crescimento endógeno, o "endógeno" significa que a variável que causa o crescimento é determinada dentro do contexto do modelo. Mas em econometria, embora não seja muito diferente do que eu disse na frase anterior, endogeneidade se refere a "qualquer situação onde uma variável expicativa é correlacionada com o erro" (Wooldridge, 2011, p. 54, tradução livre). Baseando-me em um único trecho do livro do Wooldridge (Econometric Analysis of Cross-Section and Panel Data, 2 ed, 2011, p. 54-55) ...

Exogeneidade em séries de tempo

Mais um texto de quem tem prova de econometria na segunda-feira. Quem não é economista não deve de forma alguma ler esse texto. Não digam que eu não avisei. Quando falamos de exogeneidade na econometria clássica, estamos falando da chamada exogeneidade "estrita", que nada mais consiste no fato de uma variável x não ser correlacionada com qualquer erro. Nas séries de tempo, no entanto, trabalha-se com três tipos de exogeneidade, dependendo do fim proposto. Na busca de resultados em inferência estatística (modos de estimar parâmetros e formulação de testes de hipótese), utiliza-se, em séries de tempo, o conceito de exogeneidade fraca. Para isso, precisamos 'fatorar a função de distribuição em duas partes: distribuição condicional e distribuição marginal . Define-se que uma variável é fracamente exógena em relação aos parâmetros de interesse se, e somente se, houver um certo tipo de reparametrização e atender duas condições: a variável de interesse precisa ser função de apen...