Pular para o conteúdo principal

O que mudou com o mestrado?

Estamos em vias de conferir a divulgação da classificação do exame da ANPEC, que vai definir o rumo de muita gente nos mestrados em economia. Na terça-feira que vem, a USP deve reunir os possíveis futuros alunos, assim como farão também alguns outros centros. Todos vão vir com aquelas expectativas de sempre, com milhares de dúvidas e sem saber o que se espera deles.

O mestrado é um curso importante, embora possamos ter muitas reclamações. Sempre temos aquela maneira de olhar para o passado imaginando um contrafactual do tipo: "aquilo lá poderia ter sido melhor". De fato, o curso não é perfeito. Mas o mestrado aqui na USP, e também em outros lugares de qualidade, certamente permite um avanço enorme no conhecimento. Às vezes, não aprendemos tanto com as disciplinas na hora que as cursamos. Lemos e estudamos para as provas usando livros de difícil compreensão em uma linguagem com a qual não estamos nem um pouco acostumados. No entanto, sente-se a diferença na leitura posterior de livros de graduação, que após dois anos de sofrimento tornam-se leituras de cabeceira como se fossem histórias em quadrinhos ou Harry Potter (com todo respeito aos fãs do jovem mago, representados também na pós-graduação aqui da FEA-USP).

Livros como Varian ou Gujarati, que antes tinham algumas (ou muitas, dependendo do aluno) partes obscuras (confesso que não entendia o Gujarati direito), parecem agora ser livros muito simples. É isso que permite que os alunos do segundo ano no mestrado consigam ser monitores de disciplinas da graduação com relativa facilidade.

É claro que ler as coisas do mestrado continua complicado. Estudo em nível de pós-graduação é um processo de aprendizado lento e às vezes sofrido, mas que é muitas vezes recompensador. De fato, mudar-se, sair de casa e abandonar amigos e amores são custos altos. No entanto, não é em vão. Acredito que a FEA-USP foi uma boa opção, conquanto possamos sempre ter reclamações. Há desorganizações, há situações que achamos injustas. Mas no final das contas, creio que tive um bom curso.

Comentários

Enoch disse…
Thomas, as mudanças de paradigma entre os conhecimentos adquiridos na graduação, mestrado e doutorado devem ser enormes mesmo! Não vejo a hora de fazer essa transição.

Tô passando por aqui pra convidar os teus leitores que fizeram o exame para compartilharem informações sobre o resultado preenchendo um formulário para alimentar uma planilha colaborativa.
João Melo disse…
Thomas, legal seu post. Na graduação um Professor já tinha comentado na classe como é bom reler depois dos traumas que temos. Abração, João, direto da selva.
Anônimo disse…
Você está satisfeito com o curso da FEA ou acha que teria aprendido mais e melhor em algum outro mestrado do país? Estou em dúvida entre qual prestas com mais foco ano que vem.
Thomas H. Kang disse…
Pedro,

Eu pessoalmente acho que em termos relativos a FEA é a melhor opção, dado meu interesse em ter uma sólida formação em teoria econômica e ao mesmo tempo em questões de desenvolvimento, história e instituições.

Depende da sua área de interesse.

Postagens mais visitadas deste blog

Endogeneidade

O treinamento dos economistas em métodos quantitativos aplicados é ainda pouco desenvolvido na maioria dos cursos de economia que existem por aí. É verdade que isto tem melhorado, até porque não é mais possível acompanhar a literatura internacional sem ter conhecimento razoável de técnicas econométricas. Talvez alguns leitores deste blog ouçam falar muito em endogeneidade ou variáveis endógenas, principalmente no que se refere a modelos econométricos. Se pensamos em modelos de crescimento endógeno, o "endógeno" significa que a variável que causa o crescimento é determinada dentro do contexto do modelo. Mas em econometria, embora não seja muito diferente do que eu disse na frase anterior, endogeneidade se refere a "qualquer situação onde uma variável expicativa é correlacionada com o erro" (Wooldridge, 2011, p. 54, tradução livre). Baseando-me em um único trecho do livro do Wooldridge (Econometric Analysis of Cross-Section and Panel Data, 2 ed, 2011, p. 54-55)

Lutero e os camponeses

São raros os momentos que discorro sobre teologia neste blog. Mas eventualmente acontece, até porque preciso fazer jus ao subtítulo dele. É comum, na minha condição declarada de cristão luterano, que eu sempre seja questionado sobre as diferenças da teologia luterana em relação às outras confissões. Outra coisa sempre mencionada é o episódio histórico do massacre dos camponeses no século XVI, sancionado por escritos de Lutero. O segundo assunto merece alguma menção. Para quem não sabe (e eu nem devo esconder isso), Lutero escreveu que os camponeses, que na época estavam fazendo uma revolta bastante conturbada, deveriam ser impedidos de praticarem tais atos contrários à ordem - inclusive por meio de violência. Lutero não mediu palavras ao dizer isso, o que deu a justificativa para a violenta supressão da revolta que ocorreu subsequentemente. O objetivo deste post não é inocentar Lutero do sangue derramado sobre o qual ele, de fato, teve grande responsabilidade. Nem vou negar que Lutero

Exogeneidade em séries de tempo

Mais um texto de quem tem prova de econometria na segunda-feira. Quem não é economista não deve de forma alguma ler esse texto. Não digam que eu não avisei. Quando falamos de exogeneidade na econometria clássica, estamos falando da chamada exogeneidade "estrita", que nada mais consiste no fato de uma variável x não ser correlacionada com qualquer erro. Nas séries de tempo, no entanto, trabalha-se com três tipos de exogeneidade, dependendo do fim proposto. Na busca de resultados em inferência estatística (modos de estimar parâmetros e formulação de testes de hipótese), utiliza-se, em séries de tempo, o conceito de exogeneidade fraca. Para isso, precisamos 'fatorar a função de distribuição em duas partes: distribuição condicional e distribuição marginal . Define-se que uma variável é fracamente exógena em relação aos parâmetros de interesse se, e somente se, houver um certo tipo de reparametrização e atender duas condições: a variável de interesse precisa ser função de apen