Pular para o conteúdo principal

História Econômica da Educação

A pesquisa em educação na história econômica tem recebido considerada atenção. Do momento em que escrevi meu projeto de dissertação (em setembro de 2007) até agora, surgiram importantes trabalhos na área. Além disso, descobri muitos trabalhos importantes, bem conhecidos na academia ao redor do mundo. Mas provavelmente seu professor de história econômica não vai saber. Talvez ele saiba bastante de Dobb, Braudel e talvez Geschrenkon, o que é louvável, mas atualização é bom.

Para o tema específico de gasto social e desenvolvimento, um livro foi fundamental para organizar melhor minha cabeça e me dar idéias a respeito do tema. Em 2004, Peter Lindert (University of California, Davis) lançou os dois volumes de "Growing Public: Social Spending Since the Eighteenth Century", publicação que recebeu vários prêmios. Além do tema da educação, em que ele chama atenção dos papéis da expansão do sufrágio (no caso norte-americano) e da descentralização (na Alemanha e nos Estados Unidos), Lindert passa por outros temas como gastos com saúde, ajuda aos pobres, entre outros. Além, é claro, dos capítulos polêmicos sobre o free-lunch puzzle do welfare state: para Lindert, os gastos sociais dos Estados de bem-estar social não prejudicaram o crescimento dos países. Pelo contrário, teriam tido até efeito benéfico para o crescimento, além é claro dos óbvios benefícios em relação ao bem-estar imediato da população.

Outro livro importante sobre o tema é o de Claudia Goldin e Lawrence Katz, ambos de Harvard. "The Race Between Education and Technology" foi publicado no ano passado. Também nesse livro, pude pensar um pouco sobre a importância da descentralização tanto na parte de financiamento quanto na parte de provisão da educação. Isso teria sido importante naquele momento dos Estados Unidos (isso não significa que descentralização é bom sempre), permitindo que o país assumisse a liderança na educação. Ainda não consegui ler o que Goldin e Katz falam da situação educacional norte-americana não muito boa de hoje, embora eles provavelmente também já tenham publicado sobre o tema em revistas.

Do Brasil, onde a pesquisa sobre história econômica e educação avança a passos reduzidíssimos, pouco posso dizer. O trabalho de David Plank, que tem uma análise um pouco mais interessante para economistas, merece leitura (Política Educacional no Brasil: Caminhos da Salvação Pública. Porto Alegre: Artmed, 2001), mas existe pouca coisa além dos clássicos trabalhos de historiadores e educadores sobre o assunto.

Quem sabe minha dissertação de mestrado não soma algo a isso tudo...

Comentários

Anônimo disse…
a história da educação é a que antecipa as gerações e suas idéias, as mentalidades; compreender o Brasil a partir dos bancos escolares não só é louvável como uma urgência tmb...e atualmente é essa garotada nos semáforos... onde é que isso vai acabar meu Deus!
Anônimo disse…
e quando essa garotada que queima pataxó, aplica trote violento, desrespeita diretoria e professores, xinga professores, pede dinheiro no sinal, etc ...e quando essa gente herdar o país, como vai ser? vivemos atualmente uma des-história da educação...

Postagens mais visitadas deste blog

Lutero e os camponeses

São raros os momentos que discorro sobre teologia neste blog. Mas eventualmente acontece, até porque preciso fazer jus ao subtítulo dele. É comum, na minha condição declarada de cristão luterano, que eu sempre seja questionado sobre as diferenças da teologia luterana em relação às outras confissões. Outra coisa sempre mencionada é o episódio histórico do massacre dos camponeses no século XVI, sancionado por escritos de Lutero. O segundo assunto merece alguma menção. Para quem não sabe (e eu nem devo esconder isso), Lutero escreveu que os camponeses, que na época estavam fazendo uma revolta bastante conturbada, deveriam ser impedidos de praticarem tais atos contrários à ordem - inclusive por meio de violência. Lutero não mediu palavras ao dizer isso, o que deu a justificativa para a violenta supressão da revolta que ocorreu subsequentemente. O objetivo deste post não é inocentar Lutero do sangue derramado sobre o qual ele, de fato, teve grande responsabilidade. Nem vou negar que Lutero ...

Endogeneidade

O treinamento dos economistas em métodos quantitativos aplicados é ainda pouco desenvolvido na maioria dos cursos de economia que existem por aí. É verdade que isto tem melhorado, até porque não é mais possível acompanhar a literatura internacional sem ter conhecimento razoável de técnicas econométricas. Talvez alguns leitores deste blog ouçam falar muito em endogeneidade ou variáveis endógenas, principalmente no que se refere a modelos econométricos. Se pensamos em modelos de crescimento endógeno, o "endógeno" significa que a variável que causa o crescimento é determinada dentro do contexto do modelo. Mas em econometria, embora não seja muito diferente do que eu disse na frase anterior, endogeneidade se refere a "qualquer situação onde uma variável expicativa é correlacionada com o erro" (Wooldridge, 2011, p. 54, tradução livre). Baseando-me em um único trecho do livro do Wooldridge (Econometric Analysis of Cross-Section and Panel Data, 2 ed, 2011, p. 54-55) ...

Exogeneidade em séries de tempo

Mais um texto de quem tem prova de econometria na segunda-feira. Quem não é economista não deve de forma alguma ler esse texto. Não digam que eu não avisei. Quando falamos de exogeneidade na econometria clássica, estamos falando da chamada exogeneidade "estrita", que nada mais consiste no fato de uma variável x não ser correlacionada com qualquer erro. Nas séries de tempo, no entanto, trabalha-se com três tipos de exogeneidade, dependendo do fim proposto. Na busca de resultados em inferência estatística (modos de estimar parâmetros e formulação de testes de hipótese), utiliza-se, em séries de tempo, o conceito de exogeneidade fraca. Para isso, precisamos 'fatorar a função de distribuição em duas partes: distribuição condicional e distribuição marginal . Define-se que uma variável é fracamente exógena em relação aos parâmetros de interesse se, e somente se, houver um certo tipo de reparametrização e atender duas condições: a variável de interesse precisa ser função de apen...