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Retórica e prática no gasto educacional

Em todos os períodos que tenho estudado a respeito do atraso educacional no Brasil, há um problema bastante recorrente: a distância entre a retórica do governo e as políticas efetivamente implementadas.

Há discursos do século XIX (Rui Barbosa, por exemplo), que já mostram claramente a consciência quanto ao atraso educacional do país. Já para Getúlio Vargas, a educação era algo que salvaria a nação. Até houve expansão da educação de 1930 em diante, mas longe de ser algo exemplar. Não tenho elogios também a fazer ao período democrático, em particular aos governos de Vargas (951-54) ou Kubistschek (1956-61), ainda que Dutra (1946-1951) e Goulart (1961-63) pareçam ter sido mais sensíveis ao problema do ensino primário. No regime militar, a reforma de 1971 procurava universalizar o primeiro grau e expandir o ensino técnico-profissional, conforme era aparentemente o plano do ministro Passarinho, mas não houve recursos para se efetuar as mudanças (goste ou não o freguês da ideia de um segundo grau vocacional). 

Qualquer análise desse problema no Brasil precisa dar conta dessa distância. A explicação não é  necessariamente uma tentativa de governos de enganar a população. Talvez os governantes ou segmentos das elites políticas até achassem algo em tese importante. Contudo, educação aparentemente não interessava nem ao eleitorado, nem a certos grupos políticos com maior influência nas decisões.



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