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Resumo da dissertação

Ainda sujeito a alterações, aí vai o resumo preliminar da minha dissertação. Opinem se quiserem, façam correções, etc.:

RESUMO
Este trabalho investiga possíveis explicações para o atraso na expansão da educação primária no Brasil, apesar das notáveis taxas de crescimento via industrialização por substituição de importações entre os anos de 1930 e 1964. O trabalho trata especificamente do papel da distribuição de poder político e de descentralização na expansão da taxa de matrículas na educação primária. Os dados demonstram que durante o Estado Novo, período ditatorial sob o comando de Vargas, houve queda na taxa de matrícula do primário. A volta da democracia em 1946 foi benéfica para o ensino primário. Entretanto, ao contrário do que teria ocorrido em muitos países, as evidências parecem apontar que o caso brasileiro se assemelhou mais ao indiano, em um contexto de democracia elitista, em que a expansão do sufrágio exerceu pouco efeito na expansão da educação, com conseqüências importantes para o crescimento econômico de longo prazo. Além da falta de voz política da população ter ensejado poucas melhoras na educação primária brasileira, a falta de fontes de financiamento adequadas para estados e municípios foi também um obstáculo para o desenvolvimento do ensino básico. Evidências qualitativas mostram que os governos federais também estavam mais preocupados com o ensino superior, em detrimento do ensino primário. As evidências quantitativas mostram que o nível de competição eleitoral e a descentralização administrativa tiveram efeito positivo nas matrículas em alguns estados, mas a expansão do sufrágio parece ter tido pouca influência nas matrículas. A falta de atenção dada a esse nível de ensino, por conta da falta de voz política da população, teve provavelmente efeitos negativos sobre a estrutura da distribuição de renda do país ao longo do século XX.


ABSTRACT

This dissertation aims to examine possible explanations for the backwardness in the expansion of primary education in Brazil between 1930 and 1964, despite the fact that Brazil presented high rates of economic growth through promoting import-substitution industrialization. In particular, the roles of distribution of political power and decentralization in the expansion of primary enrollment rates are addressed. The data shows that during the Estado Novo, a dictatorial regime under Vargas’ rule, there was decrease in primary enrollment rates. The return to democracy in 1945/46 was beneficial to primary schooling. However, contrary to what happened in developed countries, our evidence indicates that Brazil’s experience is more similar to what happened in India. Education in both countries developed in the context of a highly elitist democracy, in which the expansion of suffrage had little effect on the expansion of education, with a negative impact on long-term economic growth. Besides the lack of political voice, the lack of adequate financial sources for states and municipalities was also an obstacle to the development of basic education. Qualitative evidence shows that federal governments were more concerned with tertiary schooling, in detriment to primary schooling. Quantitative evidence, by its turn, shows that the level of electoral competition and administrative decentralization had positive effects on enrollment states in some states, but suffrage expansion seems to have had little influence on primary schooling expansion. The lack of attention given to this schooling level, due to the lack of political voice of the population, probably had negative effects on the structure of income distribution in Brazil along the 20th century.

Comentários

Anônimo disse…
Olá thomas, é o Heitor da FEA. Mandei um email para você no kang@usp.br. Achei bem legal seu tema de dissertação. Gostaria de conversar mais com você a respeito. Abs
Oi, Kang!

Já que requisitaste opiniões, dou a minha, porém ciente da sua superficialidade e crente de que trabalhe melhor essas questões no corpo da tua dissertação. Por este teu resumo, pareces relacionar um período ditatorial como implicador da diminuição de matrículas no ensino primário. Pela própria natureza do texto, apenas uma notícia sobre teu trabalho, não trabalhas melhor esta questão nem apresenta alguma indicação de sua resposta. No entanto, me parece que Vargas lançou bastante mão de artifícios de doutrinação sobre a educação primária como cartilhas e outros meios apologéticos de sua figura e de seu governo. Assim, seria de se esperar que visse a educação primária de uma maneira muito especial e viesse a expandi-la. Se formos considerar que São Paulo era o principal bastião de resistência a Vargas, possuidor da maior população (traço permanecente) e de maior percentual de imigrantes (entre estes muitos operários anarco-sindicalistas, etc), então eu acho que as causas do decréscimo de matrículas no primário ganham mais luzes. Já quanto à falta de voz política da população, não penso que seja causa suficiente, por si só, para explicar a pouca atenção dada a esse nível de ensino, visto que é concebível a existência de uma sociedade com participação popular que não dê tanto valor à educação primária. Acho que por isso há tantas diferenças entre os diversos países do globo em investimentos nessas áreas, inclusive entre os países ricos...

Por fim, é claro que este é apenas um resumo, mas penso que ficaria melhor se colocasses de maneira sucinta alguns outros elementos que fechassem essas questões e indicassem seu tratamento em teu trabalho.

No mais, espero ter ajudado em algo, apesar de não estar muito certo disso. Eu desejo que saia tudo muito bem em tua dissertação. Tenho gostado muito do que andas escrevendo e fico muito feliz em te observar em ascensão.


Um grande abraço!
Thomas H. Kang disse…
E aí, Portela!

Posso te passar minha dissertação mais adiante se tu quiser ver os dados de matrícula por estado com calma.

Quanto às preferências da população, isso é de fato um ponto. Trabalho pouco isso no texto e, na verdade, esse é um assunto difícil de ser tratado. Tem um working paper de dois brasileiros em Harvard que tentam mostrar que brasileiros não demandam tanto educação. Vide votação no Cristovam Buarque... seria algo estranho porque educação gera retornos altos. Tento trabalhar a hipótese que o custo de oportunidade para se educar no Brasil era alto.

Quanto à "voz política": concordo que poder político é mais utilizado. Inclusive uso em um dos capítulos o conceito. Decidi pela voz política por causa de uma referência em particular (Peter Lindert) em que me baseio bastante. Mas é capaz de meu orientador dizer semana que vem que poder político é melhor, hehe.
Ficaria muito agradecido se me mandasses tua dissertação! De quebra, vou atrás de Peter Lindert, autor que acredito desconhecer. Fiquei pensando em tua hipótese: teria de ler teu texto, mas ela me parece explicar bastante coisa...

No mais, aproveito aqui pra te agradecer por aquelas indicações de livros que me fizeste um tempo atrás para aquele meu trabalho, acabei não os ousando, mas fica aqui o agradecimento!

Um grande abraço!

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