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Mostrando postagens de 2008

Dèja-vú

Estava recentemente examinando a Estatistica de Instrucção de 1916. O documento contém um bom resumo do que tentou-se fazer pela educação até então. Uma das declarações mais interessantes é a de Dunshee de Abranches: "E' convicção geral que não é possível permanecer por mais tempo a instrucção nacional no estado miserando a que se acha condemnada, atravez da indifferença dos governos que vão se succedendo na suprema administração do paiz [...]. A triste verdade é que as creanças sahem da escola primária abominando as lettras. Nos cursos secundarios só pensam os estudantes em acabar os alinhavados preparatorios, que lhes abram as portas das carreiras liberaes. Nas faculdades superiores, finalmente, de anno a anno, se vão tornando os diplomas acadêmicos os tropheós baratos da incompetencia laureada."(Exames geraes de preparatorios, pag 31 – apud Annexos ao Relatorio do Ministerio da Justiça e Negocios Interiores, de março de 1904) Algo mudou?

Consumo no Natal

Apesar da crise, o consumo do natal foi o maior dos últimos anos, segundo a Zero Hora de hoje, jornal de Porto Alegre. O varejo está comemorando as vendas. A previsão de crescimento do PIB para esse ano continua alta (maior do que 5%): a crise só deve bater ano que vem. Lembro-me da época em que precisava estudar consumo. É importante tentarmos explicar o que acontece. Por um lado, os consumidores podem estar com a percepção de que a crise vindoura será passageira ou fraca, com pouca influência em suas rendas reais. Por outro lado, os consumidores podem não levar isso em conta (em um processo de auto-engano coletivo). Nesse último caso, teríamos uma função de consumo keynesiana tradicional. Talvez algum outro leitor desse blog tenha mais palpites. Faz tempo que eu não estudo essas coisas. *** Na festa de Natal que juntamos quatro famílias, muitos presentes foram distribuídos. Se os presentes dados ali fossem os do agente representativo da economia, o povo do comércio estaria também bem

Relembrando filosofia da ciência

Há tempos não lia sobre um assunto que sempre me interessou bastante, desde a disciplina de Metodologia da Ciência que fiz na graduação: filosofia das ciências sociais. Qualquer ciência tem o dever de pensar sobre si mesma, o que não significa que não devamos fazer coisa alguma enquanto não chegamos a uma conclusão. Mas refletir um pouco é importante. O grupo de estudo de história econômica que montamos lá na FEA-USP de repente resolveu estudar um pouco de filosofia. Nada mal. Lemos um capítulo de um livro de Martin Hollis chamado "Philosophy of Social Sciences: an introduction". Sucintamente, Hollis faz um apanhado geral sobre as idéias de Popper, Quine e Kuhn. Embora introdutório, o texto não é a coisa mais simples do mundo para quem não está acostumado. Mas parece ser bem legal e deu vontade de lê-lo inteiro. O assunto é fascinante. Mas sempre que leio sobre isso, a impressão que fica é a de que nem mesmo quem passa o dia pensando nisso sabe se os fundamentos de nossa ciên

Escandinavos e o conflito Igreja-Estado

É curioso passar pelos países escandinavos, considerados muito progressistas, e ver a relação simbiótica que suas igrejas nacionais mantêm com o Estado. O conflito Igreja vs. Estado é um conflito antigo. Detectamo-lo, por exemplo, nas diversas disputas acerca da educação: se ela deveria ser pública e laica, ou se deveria ser mantido pela iniciativa privada, principalmente a Igreja. Não interessa muito que igreja. O conflito pode ser visto tanto em países de maioria católica como o Brasil, como também ocorreu em países como Estados Unidos e Inglaterra. Não é preciso falar de França e outros países, onde essa guerra foi forte. Acontece que na Suécia, a Igreja da Suécia separou-se em 2000 do Estado. A Igreja da Noruega ainda é parte do Estado. Perguntei como era possível que os escandinavos fossem tolerantes e progressistas para muitas pessoas do alto escalão da Igreja da Noruega (que assim como a Igreja da Suécia é evangélica-luterana). No fim, eles não conseguiram me explicar direito. A

Impressões sobre alguns países

Os limites da ação estatal são sempre um tema polêmico, principalmente quando observamos o alto padrão de vida alcançado por grande parte da população nos estados de bem-estar social europeus. É patente que os países que visitei essa semana (Noruega, Suécia e Alemanha) conseguiram, às expensas de alta carga tributária e esquemas redistributivos, resultados bastante significativos. Diferentemente do Brasil, a alta carga tributária de fato financia a saúde e a educação da população desses países. A intervenção na economia chega a níveis curiosos: à exceção da cerveja, que não é nem considerado bebida alcóolica na prática, a venda das demais bebidas alcoólicas nos países escandinavos é monopólio estatal. Entrei semana passada em um shopping ao lado da estação de trem em Oslo e lá estava o tal do "Vinmonoplet". Essa loja não tinha preocupação alguma com sua imagem, logomarca ou coisa parecida. Obviamente, apresentava uma grande quantidade absurda de bebidas alcoólicas expostas.

Vítimas das enchentes em SC

Prezados leitores, Peço um momento para divulgação de importante informação. Em breve, devo escrever sobre Noruega e Suécia. Grato pela paciência. ---------- Em adição às contas da defesa civil (estão mais abaixo), a direção da igreja luterana (a qual pertenço) também abriu conta para ajudar diretamente no trabalho, até porque há uma enorme presença de nossa igreja por lá. Mas não interessa quem são as vítimas, todas precisam de ajuda. Seria legal que todo mundo colaborasse um pouquinho, nem que seja com 1 real. Acredito que a Defesa Civil fará bom uso dos recursos, mas quem quiser fazer uma doação mais direta: Favorecido: IECLB Camp Calamidade SC CNPJ: 92.926.864/0001- 57 Banco do Brasil Ag. 0010-8 C/C: 40.000-9 http://www.luteranos.com.br/articles/10841/1/Carta-de-apelo-do-P-Presidente-as-enchentes-de-SC/1.html A Defesa Civil de Santa Catarina abriu contas correntes em vários bancos para receber doações para ajudar a resolver alguns problemas criados pela catástrofe recente. - Cai

Professor Kang?

Faz parte da vida do mestrando uma experiência como monitor em alguma cadeira da graduação. Os cursos de pós-graduação strictu sensu geralmente requerem que o aluno seja assistente de algum professor. Fui monitor oficialmente de Formação Econômica e Social do Brasil II, mas não havia muito a ser feito. Substitui nesse semestre o monitor de Microeconomia II. Semestre que vem, estou escalado para ser o monitor de Econometria I. Nesse semestre, ser monitor de Microeconomia II foi muito gratificante. De fato, corrigir provas e fazer gabaritos de listas dá muito trabalho. E a percepção do alto custo é mais forte ainda quando se sente que a dissertação está sendo deixada de lado. Por outro lado, estar em sala de aula e interagir com os alunos é legal, mesmo quando não se tem grande afinidade com a matéria, como é o meu caso. Apesar de meu subdesenvolvido raciocínio microeconômico, os alunos parecem não ter problemas comigo e inclusive gostam da monitoria, uma vez que eu e o outro monitor, o

Educação nos EUA

Meu orientador Renato Colistete chamou atenção para a seguinte coluna do New York Times . Vale a pena ler. Segundo o autor da coluna, os professores Claudia Goldin e Lawrence Katz de Harvard colocam a educação como o principal fator a explicar a diferença que existia entre os EUA e o resto do mundo. Isso até a educação entrar em estagnação por lá.

Erro da ANPEC

A prova da ANPEC esse ano se superou. Um concurso que decide a vida de futuros mestrandos não pode ter falhas tão grandes em sua organização. Uma série de erros seguidos foi responsável por prejudicar a vida de muitos. Em primeiro lugar, houve atraso na divulgação dos resultados. Logo em seguida, descobriu-se que alguns centros receberam a classificação com os pesos errados. Assim, os resultados divulgados que já estavam atrasados tiveram que ser retirados. Logo, publicou-se o que seriam os resultados com os pesos corretos. Como se não bastasse, o pior veio no final: houve erro na correção e diversos alunos estavam com as notas erradas, prejudicando toda a classificação. Até então a USP já tinha ligado para muitos convidando-os para a reunião. Era evidente a indignação de professores que passaram a tarde ligando para alunos confiando na classificação divulgada. A classificação correta só veio à tona na terça, quando USP e FGV-EESP faziam suas reuniões com os alunos chamados anteriorm

O que mudou com o mestrado?

Estamos em vias de conferir a divulgação da classificação do exame da ANPEC, que vai definir o rumo de muita gente nos mestrados em economia. Na terça-feira que vem, a USP deve reunir os possíveis futuros alunos, assim como farão também alguns outros centros. Todos vão vir com aquelas expectativas de sempre, com milhares de dúvidas e sem saber o que se espera deles. O mestrado é um curso importante, embora possamos ter muitas reclamações. Sempre temos aquela maneira de olhar para o passado imaginando um contrafactual do tipo: "aquilo lá poderia ter sido melhor". De fato, o curso não é perfeito. Mas o mestrado aqui na USP, e também em outros lugares de qualidade, certamente permite um avanço enorme no conhecimento. Às vezes, não aprendemos tanto com as disciplinas na hora que as cursamos. Lemos e estudamos para as provas usando livros de difícil compreensão em uma linguagem com a qual não estamos nem um pouco acostumados. No entanto, sente-se a diferença na leitura posterior

Escandinávia, uma pedra no sapato

Os nórdicos são sempre uma pedra no sapato dos economistas. Não sei o que causa o sucesso deles, mas não deixa de ser engraçado os propósitos de um centro de estudos em igualdade, organização social e desempenho econômico da Universidade de Oslo. Muitos pesquisadores conhecidos como Acemoglu, Robinson, Bowles e Loewenstein são associados a esse centro. Segundo o site deles: The Nordic countries seem to violate what the economics profession views as necessary requirements for an economy to prosper. They have too small wage differences, too high taxes, too large public sectors, too generous welfare states, and too strong unions. Despite of these violations, they have for decades been doing extremely well. What most economists see as a recipe for serious economic trouble seems, in the Nordic countries, to be consistent with high growth, low unemployment, low inequality, and a fairly efficient allocation of resources. How come? Has economics got it wrong? Or, is it rather a question a

Conferência no Uruguai: algumas impressões de minha estréia em eventos acadêmicos internacionais

Acabo de voltar de Montevideo, capital do Uruguai, onde ocorreu a II Conferência sobre Desenvolvimento Humano e a Abordagem das Capacitações. Cheguei na segunda e dei muitos passeios pelas ruas da Ciudad Vieja de Montevideo. Mas na quarta, começou a coisa séria: iniciou-se a conferência. Houve excelentes palestras sobre a temática da desigualdade e do desenvolvimento humano. O evento contou com a presença de pessoas de renome nesse assunto. A filósofa Adela Cortina de Valencia e meu ex-professor Flávio Comim lançaram algumas questões polêmicas para o público sobre a abordagem de Amartya Sen. Sabina Alkire (Oxford) também foi muito bem, atualizando-nos na fronteira das tentativas de mensuração de pobreza multidimensional. Um bom expositor também foi Francisco Ferreira, brasileiro no Banco Mundial e ex-professor da PUC-Rio, que mostrou um trabalho empírico sobre mensuração da desigualdade de oportunidades baseado em um belo modelo de John Roemer. (Os filósofos sempre se surpreendem com a

Krugman

Saludos del Uruguay. Estou em um pequeno hotel na Ciudad Vieja de Montevideo e usando um teclado espanhol. Desculpem os erros ortográficos nao intencionais. Daqui, escrevo um post para dizer que o prêmio para Krugman me parece justo. Alguns podem nao gostar do que ele escreve no New York Times ou de suas posicoes politicas. Mas suas contribuicoes sao inegáveis do ponto de vista acadêmico. Acredito que poucos discordariam. A fundamentacao científica com um pequeno survey sobre estudos de comércio e Nova Geografia Econômica, os assuntos que Krugman trabalhou, está aqui apresentada no site oficial . Bom, este blog errou. Apostei em Barro porque acreditava que a militância polìtica de Krugman atrapalhá-lo-ia. Ledo engano.

E o Nobel?

A família de Alfred Nobel não gosta muito do pretenso Nobel em Economia. Não obstante, ele ganhou status de Nobel, mesmo não sendo um prêmio instituído por Alfred e sim uma criação do Banco Real Sueco. Na segunda que vem, anuncia-se o vencedor e as apostas obviamente já começaram. Há muito se fala em Fama. Confesso que nunca li nada desse economista. Outros que aparecem fortes nas apostas são Robert Barro, Thomas Sargent, Peter Phillips, Jean Tirole, Lars Hansen, entre outros. Recentemente, muitos prêmios foram dados ao pessoal que trabalha com teoria dos jogos. Também não acho que o pessoal de Finanças como Fama leve o prêmio. Possivelmente, teremos um econometrista ou um macroeconomista, embora Phelps tenha sido premiado há dois anos. Podemos, no entanto, ser surpreendidos. É evidente que economistas como Krugman merecem tal prêmio. No entanto, ao tornar-se um ativista político, Krugman pode ter praticamente abdicado do prêmio, embora suas contribuições à Economia Internacional e à

Mentiras e princípios em debate

Escrevi um pequeno e didático texto (pelo menos eu queria que fosse didático) tomando posição contrária a uma ética puramente baseada em princípios. O exemplo foi a questão da mentira. Este texto gerou um pequeno debate na internet, com o post do Richard em resposta ao meu e, posteriormente, com o post do Igor . Em resposta ao Igor, Richard rebateu . É um debate interessante para aqueles mais amigos da filosofia (amigo da filosofia é algo redundante, mas enfim). Os economistas strictu sensu não precisam se arriscar.

Monitoria

Fazem parte da vida do mestrando as atividades de monitoria. Todos os alunos da pós-graduação em Economia na FEA-USP são obrigados a dedicar um tempo aos alunos da graduação. Nesse semestre, a disciplina de Microeconomia II parou nas minhas mãos por intermédio de meu colega Richard . Certamente, a atividade mais chata e cansativa da monitoria são as correções de provas. Por vezes, corrigir provas é como assistir ao horário eleitoral. É chato, mas eventualmente, aparece alguma bizarrice engraçada. Também mexe com a empatia, os sentimentos: assim como estupefatos assistimos às figuras que pretendem ser vereadores ou deputados, também muitas vezes dá pena dos alunos que conseguem criativamente escrever os absurdos mais diversos. A parte que acho realmente divertida é dar aulas. Talvez os alunos não digam o mesmo: sempre há aquele grupo de alunos catatônicos sentados ao fundo, que às vezes nem parecem saber o que é um monopólio ou uma curva de custo marginal. Proporcionei-lhes uma rápida e

Congressos, história econômica e pensamento econômico

Recentemente, ocorreu na FEA-USP um Simpósio de Pós-Graduação em História Econômica. Tive a oportunidade de participar com um artigo sobre educação e poder político no Brasil de 1930 a 1964. Como era um simpósio de pós-graduação, foi como um jogo na série B, mas minha primeira apresentação mais séria. Uma lida nos resumos da maioria dos artigos do evento, no entanto, gerou um misto de preocupação e divertimento. Nos resumos já era evidente que muitos trabalhos ali deveriam ter qualidade muito aquém do esperado em cursos de pós-graduação sérios e bem conceituados que a maioria dos apresentadores representava. Não significa que meu trabalho fosse excelente, mas um nível de qualidade mínimo deveria ser exigido, e ali definitivamente não havia muitos trabalhos que satisfaziam esse requerimento. Muitos resumos eram inclusive hilários, tamanha era a falta de qualidade. É preocupante que a pesquisa em história econômica no Brasil, além de voltada autisticamente para sua própria literatura, ig

Cardeal Kasper fala de Lutero

Notícia veiculada na Ecumenical News International : Catholics can learn from Luther too, says Cardinal Kasper Frankfurt/Wittenberg (ENI). Roman Catholics can learn from the 16th-century Protestant reformer Martin Luther, the Vatican's top official for Christian unity, has said, as Protestant churches in Germany prepare to launch a 10-year series of events leading up to the 500th anniversary in 2017 of the Lutheran Reformation. In an interview published in the Frankfurter Allgemeine Zeitung newspaper, Cardinal Walter Kasper encouraged Catholics to read Luther's commentaries on the Bible, and his "hymns full of spiritual power". The cardinal said he also hoped Protestantism would return to the faith of Martin Luther, "who would have been deeply averse to all of today's liberal tendencies". [457 words, ENI-08-0756]

Matemática e Teoria Econômica

Semana passada, tivemos a oportunidade de assistir mais um dos seminários promovidos pelo ex-ministro Delfim Netto. Professor emérito da casa, Delfim sempre convida dois economistas, um da FEA e outro de fora, para debater assuntos de interesse acadêmico. Desta vez, o seminário foi sobre o papel da matemática na teoria econômica. Não são tão poucos os que rejeitam completamente o uso da matemática na Economia, pelo menos no Brasil. É claro que esse preconceito tem se esvaecido com o tempo. Amartya Sen e Paul Krugman, economistas um pouco (apenas um pouco) menos rejeitados por setores heterodoxos, já falaram bastante da utilidade da construção de modelos e das vantagens do instrumental matemático. Não é de se surpreender que mesmo alguns pós-keynesianos tem usado modelos matemáticos, sem contar alguns marxistas analíticos. O professor que representou a FEA no seminário foi o Chiappin, doutor em Filosofia, Física e Economia. Um professor excelente e de currículo invejável, cuja hiperativ

U2, Tolerância e Relativização

Ontem fui assistir o show U2 3D, utilizando a nova tecnologia de projeção que permite que vejamos as cenas como se tivessem profundidade, ou seja, três dimensões. Não obstante a novidade e a utilidade desta nova tecnologia (recomendo fortemente que vocês vejam um filme nos cinemas com essa tecnologia), vou tratar de outro assunto aqui. Um assunto diretamente relacionado so show do U2, uma banda que tem muito de suas letras e atitudes inspiradas em sua fé cristã. Um conceito que ficou muito famoso nos shows do U2 é a idéia de coexistência: não importa em que acreditamos, devemos coexistir com os demais. Em resposta às guerras e conflitos religiosos, principalmente entre as grandes religiões monoteístas, todas relacionadas ao patriarca Abraão, o U2 tenta mostrar nos shows o quão estúpidos são esses conflitos. Sendo cristãos, eles enfatizam que cristãos, judeus e muçulmanos são filhos de Abraão e que essas brigas não faze sentido algum. Mais do que isso, em um momento do show, Bono relati

Contrafactual

Contrafactual para um historiador é praticamente um pecado. Conjecturas sobre o que teria acontecido caso um fator x ou y não tivesse existido são comumente mal vistas. O historiador, mesmo o econômico, não deveria tratar do que não aconteceu, afinal isso não é história. William Summerhill resolveu falar sobre os contrafactuais hoje. Enquanto ele falava, eu, Felipe e o Prof. Renato apenas trocamos olhares. Recentemente discutíramos a respeito do tema lendo um texto clássico de Robert Fogel, Nobel em Economia de 1993*. Para mim ficou evidente lendo aquele texto a falácia da negação do contrafactual. Como afirma Fogel, sempre que afirmamos que um fator x foi de crucial importância para a ocorrência de tal processo histórico, estamos dizendo implicitamente que, sem aquele fator, as coisas teriam ocorrido de forma significativamente diferente. A única diferença então é que alguns, conscientes de que estão sempre fazendo suposições contrafactuais, explicitam isso. Outros, aqueles que pregam

Atraso econômico e "pecado original" (não é teológico)

Hoje iniciou um mini-curso em história econômica com o Prof. William Summerhill, do Departamento de História da UCLA. O curso trata especificamente do crescimento de longo-prazo e do atraso latino-americano. A primeira aula foi interessante: ele discutiu algumas das teorias para o atraso baseado em instituições. Depois de Summerhill apresentar extensivamente o trabalho de Acemoglu, Johnson e Robinson (2002) e criticar alguns de seus aspectos, alguns de nós começamos a discutir acerca do determinismo dessas teorias. Todas elas buscam uma explicação no começo da colonização para o surgimento das subseqüentes instituições que teriam levado ao atraso latino-americano. Afinal, é pelo início da colonização que se explica o atraso? A sensação geral é de uma idéia de "pecado original" e que, portanto, não é possível melhorar muito a situação. Até que ponto ou qual a proporção do atual atraso que podemos atribuir a fases iniciais da colonização? Apenas uma questão para os leitores ref

Ética e mentiras

Como acontece com muita gente, cresci ouvindo de meus pais que havia claramente o certo e o errado. Preto no branco. Uma questão de princípio. Balizas. Limites intransponíveis. Mentir é errado, por exemplo. Parece-me que para crianças, ensinar leis dessa forma é algo apropriado. Apenas depois é que temos condições de refletir melhor e avaliar as situações. Acredito que todos aqui já mentimos por questões consideradas nobres. Obviamente também já mentimos apenas para satisfazer nossos interesses mais egoístas. Entretanto, eu justificaria algumas das mentiras que já disse por aquilo que considerei ser um bom motivo. A mentira é apenas um exemplo entre tantos outros, mas bastante ilustrativo. Posso até afirmar categoricamente que a mentira é sempre algo ruim. O problema é quando a conseqüência de não mentirmos é algo pior do que a própria mentira. Imaginemos a situação em que dizer a verdade resulta na morte de alguém. Embora mentir seja ruim, podemos considerar a morte de alguém muito pi

Sobre o mestrado

Estou há cerca de um ano e meio em São Paulo devido a meus estudos em nível de mestrado na FEA-USP. Recentemente, um visitante deste blog questionou-me acerca das possibilidades que a USP oferece para um doutorado no exterior. Além disso, perguntou-me se tive um bom curso. Aí vai a minha resposta. O doutorado no exterior é cada vez menos incentivado pela política governamental. Segundo tenho ouvido, as verbas destinadas a bolsas integrais de doutorado fora tem diminuído como fruto da constatação de que os doutorados nacionais estão fortes o suficiente. Tenho visto muitos cartazes sobre bolsas-sanduíches: aquelas que financiam o estudante que faz o doutorado no Brasil durante um período fora em alguma universidade no exterior. Uma alternativa bem mais barata para o governo. Não obstante, ainda há gente sendo mandada ao exterior evidentemente e a FEA-USP tem excelentes professores que podem indicar pessoas ao PhD fora. Da turma anterior a minha, que não tem um perfil muito acadêmico (pou

Economia bíblica

Até mesmo no Israel do Antigo Testamento se conhecia bem a lei da escassez. A história abaixo é sobre uma fome que houve em Samaria devido a um cerco feito pelos siros e a posterior abundância com o fim do sítio (2 Reis, cap. 6 e 7): "Houve grande fome em Samaria; eis que a sitiaram, a ponto de se vender a cabeça de um jumento por oitenta siclos de prata e um pouco de esterco de pombas por cinco siclos de prata." (2 Reis 6.25). "Então, disse Eliseu: Ouvi a palavra do Senhor; assim diz o Senhor: Amanhã, a estas horas mais ou menos, dar-se-á um alqueire de flor de farinha por um siclo, e dois de cevada, por um siclo, à porta de Samaria" (2 Reis 7.1) "Então saiu o povo e saqueou o arraial dos siros; e assim, se vendia um alqueire de flor de farinha por um siclo, e dois de cevada, por um siclo, segundo a palavra do Senhor". (2 Reis 7.16) Nas notas de rodapé de minha Bíblia de Estudo, está escrito o seguinte para ajudar os não familiarizados com o raciocínio ec

Dias tensos

Estou em dias tensos. Após um casamento em BH no sábado, tenho apenas até sexta para entregar um trabalho para o Congresso de História Econômica que ocorrerá na FEA-USP em setembro (durante a semana da pátria). Além disso, na segunda a ANPEC está encerrando inscrições para o Encontro Nacional de Economia que vai acontecer em Salvador no final do ano. No sábado, parto para o Congresso Nacional da Juventude Evangélica da IECLB (Luterana). Enfim, isso explica a desatualização desse blog. No próximo post em breve, vou discorrer sobre meu "1 ano e meio" como mestrando da FEA-USP, a pedido de um visitante recente.

Mudanças na península

Segundo o NY Times, há mudanças ocorrendo na península: North Korea Destroys Nuclear Reactor Tower, South Korea's MBC Reports SEOUL, June 27 (Reuters) -- North Korea on Friday brought down a cooling tower at its Soviet-era nuclear plant, said South Korean broadcaster MBC, which has a crew at the site. The move was part of a process of dismantling the state's nuclear program in return for easing its international isolation. Pyongyang on Thursday handed over an account of its nuclear program, fulfilling a key requirement in six-nation talks on halting North Korea's nuclear weapon program and creating a nuclear-free zone on the Korean peninsula.

Amigos administradores

Aos visitantes administradores, levem na esportiva. Carta de Eugênio Gudin para o ministro da Educação Gustavo Capanema, após passagem pela Universidade de Harvard, onde encontrou os professores do departamento de Economia para perguntar sobre a criação de uma faculdade de Economia no Brasil: Perguntamo-lhes [aos professores de Economia de Harvard] também sobre a conveniência ou não de separar as duas faculdades, a de economia e a de administração. Eles nos levaram à janela para mostrar-nos, do outro lado do rio, a faculdade de administração, admiravelmente instalada aliás, e nos recomendaram que se não tivéssemos um rio, abríssemos um canal [...] para separar as duas faculdades. Carta de Gudin a Capanema, 21/8/1944. GC 38.09.17 doc 22, série G. In Schwartzman, S.; Bomeny, H.M.B.; Costa, V.M.R. Tempos de Capanema . 2 ed. São Paulo: Paz e Terra: FGV, 2000, p. 240.

Sobre os males da desigualdade - parte 2

Em sua resposta ao meu último post nos comentários, Joel do Terra à Vista defende que o poder político, seja lá de quem for, seja diminuído, porquanto poder político seria a influência de grupos de pressão sobre o Estado em relação à alocação de recursos. Tais interferências estatais distorceriam o funcionamento natural do mercado, levando a uma situação injusta no sentido procedimental. Richard do "Depósito de" , claro adepto de concepções deontológicas, advoga o mesmo e vai além: "é altamente recomendado que países com grande desigualdade social não busquem diminuir tal desigualdade através de programas estatais". Do mundo ideal sem Estado advogado pelos neo-austríacos, a passagem para o mundo real é normalmente problemática. É difícil conceber uma situação de extrema desigualdade de recursos econômicos sem que a parcela privilegiada da sociedade utilize desses recursos para criar instituições que lhe favoreça. Uma vez que o poder político momentâneo dessa par

Sobre os males da desigualdade - parte 1

Joel do Terra à Vista escreveu há algumas semanas acerca das benesses da desigualdade social , contrariando a moda reinante. Em resposta, seguirei um pouco mais a tendência popular a ver com maus olhos a desigualdade. É evidente que Joel tem razão quando afirma que um certo grau de desigualdade é necessário para sabermos que setores estão sendo mais remunerados, orientando a oferta para os setores em que a demanda mostra-se relativamente excessiva. É o próprio mercado que cria essas desigualdades. Nenhum economista negaria que essa desigualdade em níveis razoáveis é positiva. Aliás, são poucos os teóricos igualitários que desconsideram esse ponto. O Princípio da Diferença advogado pelo liberal-igualitário John Rawls em sua influente obra "Uma Teoria de Justiça" permite que haja desigualdade quando ela favorece a parte da sociedade menos avantajada em relação a uma situação de igualdade estrita. Assim, Rawls não defende a igualdade estrita, uma vez que ela acabaria com os inc

Considerações sobre educação pública

A comunidade universitária costuma debater em termos de "público vs. privado" quando se fala de educação superior. Muitos economistas costumam dizer que os países prósperos investiram em educação primária primordialmente, tendo ocorrido o contrário no Brasil. Assim, economistas são considerados como aqueles que querem acabar com a universidade pública. Não obstante alguns economistas realmente queiram acabar com universidades públicas, não é exatamente esse o ponto do argumento quando analisamos empiricamente. O problema não é a universidade ser pública e o Estado gastar recursos em sua manutenção. Quando se soma isso à falta de gastos no primário é que é preocupante. Muitos países prósperos também investiram em universidades públicas, mas não existe país próspero que não tenha investido maciçamente em educação básica. Lindert (2003, p. 325-6) propõe algumas medidas para detectarmos quando as políticas educacionais estão claramente favorecendo a elite: (1) taxa de suporte ao

Resposta ao Diego: ética e crenças

Diego Rodrigues falou de seu posicionamento favorável acerca das pesquisas com células-tronco embrionárias. Se pudéssemos votar nessa questão, nossos votos coincidiriam. No entanto, Diego disse coisas com as quais discordo profundamente e achei que valeria a pena postar meu comentário por aqui também. Quem quiser entender a discussão, leia o texto dele e leia a minha resposta abaixo: Diego, vou ter que discordar profundamente de ti em algumas questões. Até agora, tenho sido a favor das pesquisas, embora considerando que a decisão não é simples. No entanto, a forma que tu atacou o pensamento religioso não faz muito sentido quando tu quer falar sobre ética. Ética tem a ver necessariamente com nossas concepções de mundo, sejam elas religiosas ou não. Podemos atribui-las a Deus, a filósofos ou a quem quer que seja. Tu dizes que "o ético não pode ser confundido com a crença, com a bíblia, com os valores e ideologias que sustentam concepções de mundo e de vida". Mas o ético trata

Células-tronco embrionárias (atualizado)

O STF está em vias de aprovar a pesquisa com células-tronco embrionárias, apesar dos protestos das alas conservadoras (e com esse termo não estou procurando desqualificá-las) principalmente ligadas ao catolicismo romano. Quatro dos juízes parecem estar inclinados a votar contrariamente à permissão, mas espera-se que o lado a favor das pesquisas vença, uma vez que o STF é composto por onze ministros, sendo que alguns, como a Ellen Gracie, já anteciparam seu voto a favor. Não conheço a fundo os argumentos de ambos os lados, mas tentarei expor o que sei a respeito. Os argumentos contra a liberação baseiam-se em princípios bem claros. Recorrendo à concepção de que a partir da fecundação temos uma vida humana, as pesquisas acarretariam necessariamente em homicídios com os experimentos. Esse é um argumento baseado em princípios. No entanto, os que são contrários apóiam-se também no fato de que as pesquisas feitas com células-tronco embrionárias não chegaram a qualquer resultado positivo até

Comentário metodológico ao Rabiscos: equivalência Barro-Ricardo

Comentário aos posts do Rabiscos , o primeiro de autoria do Ph e o segundo de autoria do Stein, sobre a equivalência Barro-Ricardo (bem explicada no post do Stein): De fato, a equivalência Barro-Ricardo é uma teoria logicamente bem construída. Faz todo sentido e não duvido que os fãs da praxeologia miseana achem essa teoria bastante interesssante por dois motivos: (a) ela é lógica e (b) ela não é pró-governo. Tirando as provocações de lado, uma teoria bem construída como esta deve estar na nossa prateleira caso precisemos dela ao analisar certo fenômeno econômico. No entanto, embora eu não tenha analisado o artigo que o Ph indicou, se a evidência empírica é fraca, a teoria não serve para muita coisa por enquanto. Pelo menos, não para pensarmos em política. Isso não invalida a teoria como algo que deva ser aprendido: como eu disse, Barro-Ricardo deve estar ao nosso alcance: em alguma situação mais próxima dos pressupostos do modelo (como pequena imperfeição no mercado de crédito), é

Bons tempos

Diego tem um belo post para lembrarmos dos bons tempos em que a inflação passava de 40% ao mês, a Bolsa do Rio era relevante e a taxa de câmbio era superior a mil cruzeiros por dólar.

Resposta: protecionismo e fim das políticas

A controvérsia de indústrias nascentes remonta a Hamilton e List, que advogaram protecionismo temporário para indústrias que tivessem potencial. Contra eles, levantam-se os argumentos pró-livre comércio, que encontram eco hoje em economistas como, por exemplo, Anne Krueger (ela tem alguns artigos na AEA sobre isso). Um bom caminho é de repente ler um livrinho que eu só li um pedaço, de autoria do Jagdish Bhagwati chamado "Livre-comércio versus protecionismo" ou coisa parecida. Só pra lembrar, Bhagwati é mais favorável ao livre-comércio. Em inglês, está disponível na Livraria Cultura . O ponto é: pelo que tenho lido, o protecionismo no Brasil e na América Latina em geral não teve o caráter temporário e racional advogado por List e seus sucessores. Por ter sido uma proteção pouco criteriosa, mais preocupada com a deterioração do balanço de pagamentos e com a substituição a qualquer custo com tendências autárquicas, entramos no pior dos mundos. Sejam defensores do livre-comércio

Protecionismo exagerado e ineficiência na América Latina

Críticas à industrialização via substituição de importações ocorrida em vários países da América Latina são inúmeras quando se olha pelo retrovisor. O interessante é observar como em meados dos anos 60, as críticas a certos aspectos do processo já eram bastante comuns. Com a estagnação dos anos 60 e as diversas crises, é ponto comum entre autores como Macario (1964), Hirschman (1968) e Baer (1972) de que a incapacidade de exportação e a ineficiência da indústria manufatureira era um sério problema, sem contar os problemas no balanço de pagamentos que perseguiram o processo durante todo o período, o chamado estrangulamento externo (Tavares, 1972). Segundo Macario (1964) e Baer (1972), o protecionismo foi exagerado na América Latina. É possível se discutir possíveis vantagens do protecionismo, se feitas moderadamente. Alguns dirão que não há vantagem alguma em qualquer tipo de protecionismo, como argumentado já em alguns comentários em posts anteriores. No entanto, mesmo que você seja de

Auto-promoção: Kang fala sobre Amartya Sen

O Lucas Mendes do blog Austríaco tem estudado os escritos de Amartya Sen, uma vez que ele tem trabalhado com Rawls e os libertários em seu mestrado em Filosofia Política pela UFSM. Não acho que eu seja o mais indicado, mas o Lucas achou que eu poderia falar sobre Sen para o seu blog, apesar do blog Austríaco ser um divulgador de idéias libertárias. Vocês podem achar a entrevista que concedi clicando AQUI. (Agradeço a dica do Enoch). De qualquer forma, agradeço a oportunidade: foi boa pra relembrar Sen, que foi deixado um pouco de lado após a conclusão de meu trabalho sobre Teorias de Justiça em janeiro. Enquanto isso, vou aproveitando o fim de semana chuvoso de turismo no Rio de Janeiro...

Suecos

Conheci uma sueca, doutoranda em ciência politica, quando estava em New York por ocasião da Conferência da Human Development and Capability Association. Disse ela que na Suécia, um politico que pegasse um táxi usando dinheiro público poderia gerar manchetes nos jornais, uma vez que ele deveria ter pegado um ônibus. Apesar do clima inóspito, suecos são ricos e considerados um dos povos mais igualitários entre as democracias. A qualidade de vida deles é atestada pelos resultados do IDH, onde estão sempre entre os primeiros. Suecos e noruegueses costumam ser muito educados, pelo menos os que conheci. Certamente, minha amiga Sibeli que está lá trabalhando por três meses com a Igreja (Luterana) da Suécia poderá nos falar mais sobre o país em breve. De qualquer forma, as instituições e a performance esconômica escandinavas, invejadas por muitos, tem origens no passado. Esses países estavam longe da prosperidade no começo do século 20. Algumas coisas aconteceram desde então, e após a II Guerr

Fontes primárias

A pesquisa em história econômica é por vezes cansativa. Examinar as leis da República para ver se houve alguma mudança institucional relativa à política educacional no Brasil é como procurar uma agulha no palheiro. Principalmente quando descobrimos que, durante quase toda a nossa história, o ensino básico fora da capital ficou a cargo das províncias. Documentação primária cansa e, por vezes, desanima. Inúmeras obras consideradas de referência hoje em história econômica não tocam em um documento primário. A partir do que outros escreveram, alguns autores como Lourdes Sola (1998), lançam outra interpretação para a economia e a política de meados do século 20 no Brasil. Um texto do Newton Bueno (2007), publicado na "Estudos Econômicos" ano passado também lança nova interpretação para a Revolução de 1930 baseada nas idéias da Nova Economia Institucional (ação coletiva, especificidade de ativos, etc.) sem referência a documentação primária (o autor reconhece isso). É claro que is

Sobre livre comércio e história

Cai em erro crasso quem, através de um ou outro exemplo histórico, afirma saber a receita para o desenvolvimento. É muito comum defensores do protecionismo darem o exemplo de um ou outro país hoje desenvolvido que teria protegido sua indústria nascente; por outro lado, há os outros que sempre buscam "provar" que o livre comércio é o caminho da prosperidade. Sob o critério da falsificação atribuído a Popper (sem entrar no mérito da cientificidade ou não do critério), não é possível dizer muita coisa. É evidente que protecionismo pode ser nefasto, há resultados ruins na história. Logo, protecionismo não significa necessariamente crescimento - pelo menos, não qualquer protecionismo, o que é bastante óbvio. No entanto, há muitos exemplos aparentemente a favor do protecionismo, como o inglês, discutido no post anterior. Nesse caso, a questão que fica é: a Inglaterra cresceu apesar do protecionismo ou cresceu devido ao protecionismo? E, é claro, se o protecionismo pode ser ben

Por que os ingleses bebem cerveja?

Essa é uma das fundamentais perguntas que John Nye , historiador econômico da George Mason University, tentou responder na sexta-feira em sua palestra sobre seu novo livro "War, Wine and Taxes" . O livro trata sobre os conflitos e as políticas comerciais de Inglaterra e França. Desafiando o que sempre se diz, Nye percebeu que a política britânica foi bem mais protecionista do que a francesa, o que explica porque ingleses bebem cerveja e não vinho. A palestra foi muito boa (uma das raras vezes que temos bons seminários), uma vez que Nye tem um bom senso de humor, além de explicar de forma clara e audível. E é claro, pelo assunto ser interessantíssimo. Isso não significa que todas suas conclusões estejam certas, mas deu vontade de ler o livro. Como conclusão, Nye sustentou que a Inglaterra cresceu apesar das restrições ao livre comércio. No entanto, isso não pareceu derivar logicamente de sua argumentação. Talvez o livro possa esclarecer um pouco disso.

Seminários da semana

Em primeiro lugar, minhas desculpas por estar afastado da blogosfera recentemente. Pretendo contribuir mais com textos sobre história econômica, filosofia política, cristianismo, além dos tradicionais posts acerca da vida de mestrando na USP. *** Da vida de mestrando, posso apenas comentar que anteontem tivemos a presença do Prof. Philip Arestis, do Department of Land Economy da University of Cambridge. Sua palestra, aproveitando sua passagem no Brasil para o I Congresso Brasileiro Keynesiano, foi sobre a macroeconomia britânica nos últimos anos e algumas críticas a algumas proposições consensuais. Nada diferente do que esperamos de um pós-keynesiano. Alguns professores estavam visivelmente incomodados com o que Arestis disse. *** Nesta semana, temos também a presença do historiador econômico John Nye, da George Mason University. Bati um papo com ele na quarta-feira, momento no qual ele deu algumas opiniões acerca de meu projeto de dissertação. Hoje em breve, teremos um seminário com e

Educação básica na República Velha (2)

Warren Dean escreveu diversos livros sobre a história econômica do Brasil, todos magistralmente escritos. Suas obras sobre a devastação da Mata Atlântica ou sobre a organização das lavouras em Rio Claro são bastante conhecidas. A sua outra obra famosa, "A Industrialização de São Paulo" (1971), entra no debate das origens da industrialização brasileira. Além de sua interpretação revisionista em relação ao papel dos choques adversos (para ele menor do que considerado por Furtado, por exemplo) e a importância do comércio cafeeiro para a industrialização, Dean descreve um pouco de outras características da sociedade da época. Ao falar sobre a educação, afirma o autor: "O governo do Estado ignorava as necessidades dos que não possuíam terras com a mesma efetividade que favorecia as dos fazendeiros. Não tentou criar uma classe alfabetizada, estável ou especializada de cidadãos, quer nas cidades, quer no interior. Não havia política pública de redistribuição de terras, nem inst

Educação básica na República Velha

Um aspecto fascinante do estudo da história econômica é que descobrimos que os debates atuais não são tão atuais assim muitas vezes. Se haviam metalistas e papelistas na Primeira República, como temos hoje seus respectivos netos intelectuais, também na discussão sobre o investimento em educação no Brasil as coisas parecem se repetir. A Estatística de Instrucção de 1916 encomendada pela Diretoria Geral de Estatística aponta para o seguinte problema da educação no Brasil: “Apontando as causas que parecem ter influído para o atrazo notável da cultura intellectual de grande parte dos brazileiros, solicita a citada monographia a assídua solicitude do poder legislativo nacional, assim como do poder executivo, relativamente à causa do ensino superior, e até certo ponto da instrucção secundaria, constrastando com esse amparo a escassez de providencias quanto á cultura primaria e ao preparo do pessoal incumbido de ministral-a. Até 15 de Novembro de 1889, no seu conjuncto, as medidas de ordem

Políticas públicas e conseqüências

Costumamos debater pelos lugares onde passamos, geralmente em bares ou nas universidades. Política pública é um assunto comum: cotas, aborto ou Bolsa-Família são assuntos recorrentes. No entanto, muitas vezes nos deparamos com pessoas que parecem simplesmente papagaiar frases ditas por outros. Algumas vezes, são conceitos simplesmente passados de geração em geração, repetidos por filhos de um proprietário de terras ou de um ex-militante comunista. Talvez uma das grandes vantagens de se estudar Economia é a possibilidade de refletir melhor sobre as questões através da imensa literatura publicada em revistas da área a respeito de políticas públicas. Não que os estudos determinem fatalmente qual é a posição correta a ser defendida: a análise econômica, que tem algum poder para descobrir que conseqüências certas políticas podem gerar, é muito útil para refletirmos, embora não seja a palavra final em termos de certo ou errado. O julgamento da política ultrapassa isso, embora a análise conse