Ontem fui assistir o show U2 3D, utilizando a nova tecnologia de projeção que permite que vejamos as cenas como se tivessem profundidade, ou seja, três dimensões. Não obstante a novidade e a utilidade desta nova tecnologia (recomendo fortemente que vocês vejam um filme nos cinemas com essa tecnologia), vou tratar de outro assunto aqui. Um assunto diretamente relacionado so show do U2, uma banda que tem muito de suas letras e atitudes inspiradas em sua fé cristã.
Um conceito que ficou muito famoso nos shows do U2 é a idéia de coexistência: não importa em que acreditamos, devemos coexistir com os demais. Em resposta às guerras e conflitos religiosos, principalmente entre as grandes religiões monoteístas, todas relacionadas ao patriarca Abraão, o U2 tenta mostrar nos shows o quão estúpidos são esses conflitos. Sendo cristãos, eles enfatizam que cristãos, judeus e muçulmanos são filhos de Abraão e que essas brigas não faze sentido algum. Mais do que isso, em um momento do show, Bono relativiza o conceito de verdade dizendo que todas essas religiões são verdadeiras.
A história do U2 é fortemente ligada a suas origens cristãs. Até hoje é nítido que a fé deles está relacionada a seus posicionamentos políticos. Em muitas de suas letras, muitas vezes de forma ambígua, algumas vezes de forma clara, eles falam de sua fé em Cristo. Seus shows da última turnê terminaram com um crucifixo pendurado no microfone. Eles têm até uma canção que fala sobre a graça (Grace) magistralmente.
No entanto, embora goste muito do trabalho do U2, minha mente cartesiana e convencional não comporta a relativização da verdade, pelo menos ainda. É evidente que concordo com a idéia de coexistência, que é uma idéia de tolerância religiosa. A tolerância é fundamental nas sociedades e em nada contraria qualquer princípio ou idéia cristã. Muito pelo contrário, acredito que uma fé que prega o amor justamente vai ao encontro da idéia de tolerância, por mais que discordemos da posição dos outros. Entretanto, para eu tolerar o outro, eu não preciso necessariamente relaxar minhas convicções. Posso até fazer isso, mas a tolerância não decorre da relativização.
Como disse um ortodoxo americano em uma reunião sobre diálogo inter-religioso na Assembléia do Conselho Mundial de Igrejas em 2006, pregar a relativização como único caminho para a tolerância é um tiro no próprio pé para a unidade cristã. Sempre haverá setores religiosos que não relativizarão, causando divisões dentro dos próprios cristãos. Nem por isso esses setores devem deixar de tolerar aqueles professam outra religião. Muito pelo contrário, quando pregamos a tolerância entre religiões, devemos justamente fazer as pessoas entenderem que a tolerância é aprender a conviver com o diferente. Se todos relativizam, temos uma mesma massa. Nesse caso, a tolerância não é mais necessária.
O U2 não precisa dizer que tudo é verdade para que aprendemos a tolerar uns aos outros. Eles não vão conseguir fazer todos se tornarem relativistas. Eles talvez devessem é dizer que não importa no que acreditamos, tolerar é necessário. A vida é mais importante que os dogmas, mesmo que acreditemos firmemente neles.
*Agradecimentos ao P. Cláudio Kupka pelo convite para ver o U2 3D e por suas palestras sobre a relação entre U2 e fé cristã.
Um conceito que ficou muito famoso nos shows do U2 é a idéia de coexistência: não importa em que acreditamos, devemos coexistir com os demais. Em resposta às guerras e conflitos religiosos, principalmente entre as grandes religiões monoteístas, todas relacionadas ao patriarca Abraão, o U2 tenta mostrar nos shows o quão estúpidos são esses conflitos. Sendo cristãos, eles enfatizam que cristãos, judeus e muçulmanos são filhos de Abraão e que essas brigas não faze sentido algum. Mais do que isso, em um momento do show, Bono relativiza o conceito de verdade dizendo que todas essas religiões são verdadeiras.
A história do U2 é fortemente ligada a suas origens cristãs. Até hoje é nítido que a fé deles está relacionada a seus posicionamentos políticos. Em muitas de suas letras, muitas vezes de forma ambígua, algumas vezes de forma clara, eles falam de sua fé em Cristo. Seus shows da última turnê terminaram com um crucifixo pendurado no microfone. Eles têm até uma canção que fala sobre a graça (Grace) magistralmente.
No entanto, embora goste muito do trabalho do U2, minha mente cartesiana e convencional não comporta a relativização da verdade, pelo menos ainda. É evidente que concordo com a idéia de coexistência, que é uma idéia de tolerância religiosa. A tolerância é fundamental nas sociedades e em nada contraria qualquer princípio ou idéia cristã. Muito pelo contrário, acredito que uma fé que prega o amor justamente vai ao encontro da idéia de tolerância, por mais que discordemos da posição dos outros. Entretanto, para eu tolerar o outro, eu não preciso necessariamente relaxar minhas convicções. Posso até fazer isso, mas a tolerância não decorre da relativização.
Como disse um ortodoxo americano em uma reunião sobre diálogo inter-religioso na Assembléia do Conselho Mundial de Igrejas em 2006, pregar a relativização como único caminho para a tolerância é um tiro no próprio pé para a unidade cristã. Sempre haverá setores religiosos que não relativizarão, causando divisões dentro dos próprios cristãos. Nem por isso esses setores devem deixar de tolerar aqueles professam outra religião. Muito pelo contrário, quando pregamos a tolerância entre religiões, devemos justamente fazer as pessoas entenderem que a tolerância é aprender a conviver com o diferente. Se todos relativizam, temos uma mesma massa. Nesse caso, a tolerância não é mais necessária.
O U2 não precisa dizer que tudo é verdade para que aprendemos a tolerar uns aos outros. Eles não vão conseguir fazer todos se tornarem relativistas. Eles talvez devessem é dizer que não importa no que acreditamos, tolerar é necessário. A vida é mais importante que os dogmas, mesmo que acreditemos firmemente neles.
*Agradecimentos ao P. Cláudio Kupka pelo convite para ver o U2 3D e por suas palestras sobre a relação entre U2 e fé cristã.
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