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Comentário metodológico ao Rabiscos: equivalência Barro-Ricardo

Comentário aos posts do Rabiscos, o primeiro de autoria do Ph e o segundo de autoria do Stein, sobre a equivalência Barro-Ricardo (bem explicada no post do Stein):


De fato, a equivalência Barro-Ricardo é uma teoria logicamente bem construída. Faz todo sentido e não duvido que os fãs da praxeologia miseana achem essa teoria bastante interesssante por dois motivos: (a) ela é lógica e (b) ela não é pró-governo.


Tirando as provocações de lado, uma teoria bem construída como esta deve estar na nossa prateleira caso precisemos dela ao analisar certo fenômeno econômico.David Ricardo No entanto, embora eu não tenha analisado o artigo que o Ph indicou, se a evidência empírica é fraca, a teoria não serve para muita coisa por enquanto. Pelo menos, não para pensarmos em política. Isso não invalida a teoria como algo que deva ser aprendido: como eu disse, Barro-Ricardo deve estar ao nosso alcance: em alguma situação mais próxima dos pressupostos do modelo (como pequena imperfeição no mercado de crédito), é possível que venhamos a observar o fenômeno previsto pela teoria ao menos parcialmente. Eu, como bom empirista em relação à ciência econômica, não acredito que devamos entronizar uma teoria quando ela não mostra maiores evidências de ser verdade, o que não significa dizer que ela não é importante.


Hume também pensou logicamente no equilíbrio do balanço de pagamentos, mas ele sempre disse que o que importava era aRobert Barro evidência. Como herdeiros do Iluminismo Escocês de Hume e Adam Smith, acredito que os economistas devam seguir esse método. Teorias lógicas podem ser úteis, quando a evidência as corroboram. Com isso, não estou pregando o verificacionismo do século XIX como critério de cientificidade, nem o critério popperiano do falsificacionismo. Estou tentando ser um pouco mais pragmático ao invés de procurar as imutáveis leis apriorísticas da Economia.

Comentários

Martha disse…
Caro Thomas,

grande inciativa e belo espaço para discussões.
Apesar de não poder adentrar nos comentários, muito me valeu para referência de estudo.

Estou me graduando em Ciências Sociais e como deve saber a Política muito se aproxima da Economia, visto que muitos de vocês contribuíram bastante para a Ciência Política.

Deus te abençoe!

Que nós possamos servir ao Senhor com todo esse conhecimento e com nossa profissão.

Abraços,

Martha
Thomas H. Kang disse…
Prezada Martha,

Seja bem-vinda sempre que desejar. Muito eventualmente também discorro sobre religião. Sinta-se a vontade pra comentar sobre qualquer assunto aqui tratado. Como eu estudo história econômica, a ciência política é algo que tem me ajudado bastante. Sei das contribuições de economistas como Downs e Olson para a ciência política.

Sim, fique com Deus e que possamos sempre servir a Ele!
Sei lá qual é a graça de se aceitar uma determinada teoria pelo fato de simplesmente ela "não ser pró governo".

Ao invés de escolher os pressupostos, realizar deduções e testar empiricamente os resultados, os austríacos parecem que escolhem os resultados a que querem chegar (e quase sempre é colocar a culpa dos problemas do mundo no governo), e montam uma teoria de biaxo para cima com esse objetivo.

As pessoas têm o direito de serem liberais e de não gostar do governo, mas isso é ideologia, e não ciência. Construir teorias em cima de preferências políticas pessoais acaba se tornando não-falsificável metodologicamente.
Joel Pinheiro disse…
Ah sim, claro, devemos testar empiricamente a teoria sempre que possível.

O problema é que o argumento austríaco visa provar que é impossível testar. Não é que eles não queiram, não é que seja difícil achar os dados; é que é conceitualmente impossível se testar um teorema econômico.

Quem quiser debater contra a economia austríaca tem que responder a esses argumentos. Não adianta dizer "temos que sempre nos guiar pela experiência, temos que ser pragmáticos; temos que ver o que funciona ou não, observar se a teoria é correta ou não." - mas o que seus adversários dizem é exatamente que não é POSSÍVEL esse tipo de verificação empírica. Que nunca uma teoria econômica é testada empiricamente e nem é possível conceber racionalmente que ela o seja.

Por fim, o Mises é bem claro em sua distinção entre teoria econômica e ideologia. Uma coisa, diz ele, é ciência econômica; outra, é liberalismo. Liberalismo é ideologia (num sentido não-marxista do termo), faz uma série de juízos de valores, etc.
Ciência econômica não faz juízos de valores, e visa apenas entender como o mercado funciona.

Da ciência econômica sozinha não se chega ao liberalismo.

Portanto, considero injusta a generalização do Ricardo.

No mais, é uma discussão que sempre me interessa! Abraços a todos!
Anônimo disse…
Caro Thomas,
Acho que é um pouco apressada a decisão de descartar a teoria. O fato dela não corresponder à realidade deve nos dizer algo sobre nossas hipóteses e indicar o caminho de futuras extensões ao modelo. Como havia comentado no Rabiscos, incluindo restrições de crédito no modelo produzem resultados compatíveis com a observação. Apesar da sua ressalva, temos que tomar cuidado para não cairmos no pior de um falsificacionismo ingênuo.
Thomas H. Kang disse…
Caro Henrique,

Talvez eu tenha me expressado mal, mas em nenhum momento eu descartei a teoria. Disse inclusive que era importante nós termos conhecimento acerca dela. Concordo contigo.
Joel,

De fato, nunca li o Mises. Baseei minha crítica apenas com base nos blogs dos seus fãs e seguidores. Nesse, minha crítica foi mesmo viesada e injusta.

Agradeço o esclarecimento!

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