Pular para o conteúdo principal

Instituições e educação - parte II

Dizer que a falha de certas sociedades em investir no nível de educação certo ser causado por "imperfect knowledge and understanding make up the subjetive models of actors" pode até ser uma das explicações, mas extremamente insuficiente. Não é por acaso que North, em livro posterior (North, 2005), acaba incluindo outra motivação:

Throughout history and in the present world economic growth has been episodic because either the players' intentions have not been societal well-being or the players' comprehension of the issues has been so imperfect that the consequences have deviated radically from intention (p. 3)

Com isso, é fácil entender porque em países como o Brasil, a educação superior foi a mais privilegiada. Não é necessário usar a idéia de racionalidade limitada para chegar a essa conclusão: se o poder da elite é grande demais, as intenções deles prevalecerão e, apenas por um acaso, coincidirão com o bem-estar social.

É por esse motivo que Acemoglu, Johnson e Robinson (2004) usam a visão de conflito social para a explicar o papel das instituições no crescimento econômico. Segundo eles, a distribuição de poder politico afeta diretamente as instituições. Na mesma linha e anteriormente, Engerman e Sokoloff (1997, 2002) já destacaram a importância da distribuição de poder político para determinar as instituições criadas e a oferta de alguns serviços básicos. Alfabetização em massa foi alcançada com antecedência muito maior em países cujo poder estava menos concentrado nas mãos de poucos. Os trabalhos seminais de Engerman e Sokoloff mencionam o caso da alfabetização en passant, mas Mariscal e Sokoloff (2000) descrevem detalhadamente como isso aconteceu nos Estados Unidos e no Canadá, contrastando com o que aconteceu em alguns países latino-americanos.


Bibliografia
  • Acemoglu, D.; Johnson, S.; Robinson, J. (2004). “Institutions as the Fundamental Cause of Long-Run Growth”. National Bureau of Economic Research - Working Paper No. 10481. Cambridge, MA: May 2004.
  • Engerman, S. e Sokoloff, K. (1997). “Factor Endowments, Institutions, and Differential Paths of Growth among New World Economies: a View from Economic Historians of the United States”. In Haber, S. How Latin America Fell Behind. Stanford: Stanford University Press, 1997, p. 260-304.
  • Engerman, S. e Sokoloff, K. (2002). “Factor Endowments, Inequality, and Paths of Development among New World Economies”. National Bureau of Economic Research - Working Paper No. 9259, October 2002.
  • Mariscal, E. e Sokoloff, K. (2000).“Schooling, Suffrage, and the Persistence of Inequality in the Americas, 1800-1945”. In Haber, S. Political Institutions and Economic Growth in Latin America: Essays in Policy, History, and Political Economy. Stanford, CA: Hoover Institution Press, 2000, p. 159-217.

  • North, D. (1990). Institutions, Institutional Change and Economic Performance. Cambridge: Cambridge University Press.

  • North, D. (2005). Understanding the Process of Economic Change. Princeton: Princeton University Press.

Comentários

Anônimo disse…
Fala Thomas!

Cara, esse assunto de educaçao eh muito legal e da horas de conversas. Nada mais ineficiente para alocar gastos como o governo neh thomas. O mais estranho eh que os partidos de esquerda sao grandes apoiadores de gastos monstros com educaçao superior. A questao entao eh: se os gastos hj com ensino superior sao consequencia do excesso de poder nas maos das elites, nao seria de se esperar q a "esquerda" se posiciona-se contra isso? Eu nao entendo... Mas me parece que o poder da elite talvez nao seja a melhor explicaçao para o q acontece (ou entao nao a principal).

Abraçao Thomas!
Thiago disse…
Acredito que o comentário do Diego tem sentido. Realmente, à primeira vista, parece haver um paradoxo no postura da esquerda. No entanto, se considerarmos as ambições políticas (seja da direita, seja da esquerda), parece improvável que a maioria dos partidos vá endossar uma proposta de retirada de recursos da educação superior em benefício da educação primária. Uma política dessa natureza acarretaria a perda de votos de boa parte da classe média (com todo os problemas que usar esse conceito implica) e das classes superiores. E ninguém que deseja ganhar uma eleição vai correr o risco de desagradar a classe média (que é o estrato mais baixo que tem possibilidade de cursar uma universidade). A solução do discurso político (de esquerda e de direita) é pregar o aumento de recursos generalizado para a educação, beneficiando ensino básico e superior.
Realmente parece haver um jogo de poder, mas pode ser que ele esteja não apenas refletido em um possível egoísmo da elite. Talvez ele reflita o custo político de se adotar medidas que privilegiem um estrato educacional em detrimento de outro.

Aliás, já notei que tu cita bastante o North. Tu já tem tema para tua dissertação?

Abraço!
Thomas H. Kang disse…
Isso que vocês falaram merece outro post. Vou ver se produzo um no fim de semana.

Quanto à minha dissertação, o restumo do meu projeto está aí: http://oikomania.blogspot.com/2007/09/projeto-de-dissertao.html
Richard disse…
Oi Thomas...
Como eu disse outro dia p/ vc, se educação primaria tem um alto retorno, porque os pais não investem na educação dos filhos? Ou seja, porque o próprio mercado não providencia esses investimentos? No meu blog, coloquei que era devido a problemas no mercado de crédito e restrições de transferência de rendas do individuo ao longo do tempo. O seu texto fala em “instituições”, os institucionalistas entendem mercados como instituições, mas aparentemente estão falando é de governos mesmo.

Governos falham em produzir educação, assim como falham em produzir bananas, operadores de vôo, petróleo, aeroportos enfim... Governos (na verdade os políticos) não seguem o sistema de preços e não tem incentivo algum para se preocuparem com a escola de alguém que eles nunca viram na frente.
Acho que a solução está mais em delimitar os direitos de propriedade adequadamente e deixar que os agentes troquem e invistam onde acharem necessário (e dado que educação tem um alto retorno, eles investiriam nisso), do que um aumento da intervenção do governo.

Vale lembrar também que nada adianta investimento em educação por si só. Educação, principalmente mais avançada, não é algo homogêneo. Não adianta investir em um físico nuclear, preparar todas as crianças para universidade com educação básica, se elas serão mal “alocadas” no futuro, sem um sistema de preços que indique o setor mais produtivo.
Vamos por partes:

1- A esquerda brasileira nunca apoiaria cortes de gastos para as univiersidades públicas porque, antes de atacar os direitos das elites, defende os direitos dos funcionários públicos, que são os seus maiores eleitores e mebros dos corpos politicos. Isso não é uma crítica, é uma obervação.

2- Não acho viável politicamente, em um contexto democrático pelo menos, a privatização do ensino superior público (o que, de fato, eu não desejo) ou mesmo a cobrança de mensalidades. O melhor para expandir o auto-financiamento das universidades públicas, ao meo ver, pelo menos no curto prazo, seria a cobrança de multas para alunos com freqüentes reprovações, ou a extensão da prestação de cursos de extensão ou prestação de serviços pagos a sociedade.
3- Nao acho que o livre mercado, por si só, levaria as famílias brasileiras a pensar mais na educação dos filhos. Educação não é uma questão puramente econômica, está correlacionada com variáveis de cunho social, institucional e cultural. Por exemplo, o simples fato dos chefes de família terem uma alta escolaridade pode levar a família a investir mais na educação dosfilhos do que a renda familiar per capita.

Postagens mais visitadas deste blog

Lutero e os camponeses

São raros os momentos que discorro sobre teologia neste blog. Mas eventualmente acontece, até porque preciso fazer jus ao subtítulo dele. É comum, na minha condição declarada de cristão luterano, que eu sempre seja questionado sobre as diferenças da teologia luterana em relação às outras confissões. Outra coisa sempre mencionada é o episódio histórico do massacre dos camponeses no século XVI, sancionado por escritos de Lutero. O segundo assunto merece alguma menção. Para quem não sabe (e eu nem devo esconder isso), Lutero escreveu que os camponeses, que na época estavam fazendo uma revolta bastante conturbada, deveriam ser impedidos de praticarem tais atos contrários à ordem - inclusive por meio de violência. Lutero não mediu palavras ao dizer isso, o que deu a justificativa para a violenta supressão da revolta que ocorreu subsequentemente. O objetivo deste post não é inocentar Lutero do sangue derramado sobre o qual ele, de fato, teve grande responsabilidade. Nem vou negar que Lutero

Endogeneidade

O treinamento dos economistas em métodos quantitativos aplicados é ainda pouco desenvolvido na maioria dos cursos de economia que existem por aí. É verdade que isto tem melhorado, até porque não é mais possível acompanhar a literatura internacional sem ter conhecimento razoável de técnicas econométricas. Talvez alguns leitores deste blog ouçam falar muito em endogeneidade ou variáveis endógenas, principalmente no que se refere a modelos econométricos. Se pensamos em modelos de crescimento endógeno, o "endógeno" significa que a variável que causa o crescimento é determinada dentro do contexto do modelo. Mas em econometria, embora não seja muito diferente do que eu disse na frase anterior, endogeneidade se refere a "qualquer situação onde uma variável expicativa é correlacionada com o erro" (Wooldridge, 2011, p. 54, tradução livre). Baseando-me em um único trecho do livro do Wooldridge (Econometric Analysis of Cross-Section and Panel Data, 2 ed, 2011, p. 54-55)

Exogeneidade em séries de tempo

Mais um texto de quem tem prova de econometria na segunda-feira. Quem não é economista não deve de forma alguma ler esse texto. Não digam que eu não avisei. Quando falamos de exogeneidade na econometria clássica, estamos falando da chamada exogeneidade "estrita", que nada mais consiste no fato de uma variável x não ser correlacionada com qualquer erro. Nas séries de tempo, no entanto, trabalha-se com três tipos de exogeneidade, dependendo do fim proposto. Na busca de resultados em inferência estatística (modos de estimar parâmetros e formulação de testes de hipótese), utiliza-se, em séries de tempo, o conceito de exogeneidade fraca. Para isso, precisamos 'fatorar a função de distribuição em duas partes: distribuição condicional e distribuição marginal . Define-se que uma variável é fracamente exógena em relação aos parâmetros de interesse se, e somente se, houver um certo tipo de reparametrização e atender duas condições: a variável de interesse precisa ser função de apen