Muitos, ao interpretarem Marx, entenderam que o material se sobrepunha ao ideal: cultura, crença e valores seriam resultados que derivariam da infra-estrurura da sociedade, ou seja, das condições materiais. Vários outros marxistas dirão que isso é equívoco, pois não está muito de acordo com a dialética. Seja lá qual for a interpretação correta, a relação unidirecional do material ao ideal ficou conhecida. Giannetti faz uma crítica meio óbvia e que parece razoável:
Giannetti, E. Vícios privados, beneficios públicos? A ética na riqueza das nações. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
[...] vale notar, a falácia grotesca da fórmula brechtiana, ingenuamente materialista, "primeiro a comida, depois a ética". A sobrevivência, é verdade, é condição para tudo o mais. Mas, sem ética, a própria sobrevivência fica comprometida. Sem ela, não há ordem social, paz ou "comida" - há desagregação, guerra e fome. É a economia que se ergue sobre a infra-estrutura ética. (Giannetti, 2007, p. 101).
Giannetti, E. Vícios privados, beneficios públicos? A ética na riqueza das nações. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
Comentários
Só acho que temos que cuidar uma coisa: ao dizer que "É a economia que se ergue sobre a infra-estrutura ética", ele dá uma idéia de que essa infra-estrutura estaria pronta e seria estanque, e sobre ela se desenvolveria uma economia.
Parece lógico que uma economia se desenvolva a partir de uma infra-estrutura ética, há uma constante modificação tanto numa esfera quanto na outra, inclusive com elas se influenciando mutuamente. Neste excerto a idéia que o autor passa é que não percebe o processo como dinâmico. Acredito que ele traga essa noção em outras páginas.
Abraço!
Fiquei curioso com a discussao!
abraço!