“O senhor sabe como é o Brasil...”
“Não sei. Me diga.”
“Se o senhor tivesse uma empresa de importação e exportação saberia.”
“Eu não tenho.”
“Para se importar ou exportar qualquer coisa é preciso uma licença da Cexim. Isso não é fácil de conseguir. Muitas vezes é necessária a colaboração de um amigo influente. O tenente Gregório ajudou Paulo a conseguir uma licença... importante... para a empresa dele, a Cemtex, na qual aliás eu tenho uma participação societária. Para fazer o Brasil crescer os empresários precisam se humilhar pedindo favores.”*
A passagem foi extraída do romance “Agosto” de Rubem Fonseca: uma mistura de ficção e realidade que retrata o conturbado ambiente político que precede o suicídio de Getúlio em 1954. Para os que estudaram Economia Brasileira, a Cexim é familiar: o órgão responsável pela concessão de licenças de importação. Ao invés de se usar o velho protecionismo tarifário, o governo utilizava licenças, concedendo-as para os setores que “necessitavam” de acordo com o “interesse nacional”.
*FONSECA, Rubem. Agosto. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. p. 182.
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