Enquanto escrevia minha monografia, foi possível perceber como o contexto mudou de cinqüenta anos para cá. Naquela época, o estruturalismo era dominante nos meios intelectuais brasileiros. Economistas como Ignácio Rangel eram muito conhecidos e citados. Recentemente, ganhei do Prof. Pedro Fonseca as obras completas desse cara, sem que eu saiba quase nada sobre o que ele escreveu. (Isso talvez explique o presente...).
Rangel era um heterodoxo entre os heterodoxos. Enquanto o debate estava entre estruturalismo e monetarismo, Rangel discordou dos dois lados, propondo sua própria teoria inflacionária. Embora aceitasse causas estruturais (endógenas) da inflação, contrariando a teoria quantitativa da moeda, Rangel rejeitava a inelasticidade da oferta agrícola como causa de inflação de demanda. Para o autor, a inflação de custos ocorria porque as empresas, ao se organizarem como oligopólios ou oligopsônios, tentavam defender seus lucros com a elevação de preços. A economia brasileira operava, segundo Rangel, com capacidade ociosa e insuficiência de demanda. Nesse contexto, a inflação, causando alta taxa de mobilização, evitava crises econômicas maiores.
Outra tese que Rangel defendia era a dos ciclos de Kondratiev, a qual eu sempre considerei como um cúmulo de "acientificidade", embora não soubesse muito a respeito. Penso eu, como tantas pessoas acreditam(avam) nessa tese no qual a cada 50 ou 60 anos o capitalismo estaria sujeito a crises? Isso até pode ter acontecido umas três vezes, mas como inferir disso uma lei? O necessitarismo histórico implícito na idéia de Kondratiev, considerado um gênio por Rangel, me parece tão demasiado quanto a tese marxista de que fatalmente chegaremos ao comunismo.
Ao sair da graduação, poucas vezes eu ouvira falar em inverter a TQM. Mas isso até é aceitável, dado que a teoria da inércia inflacionária também é chamada de neoestruturalista justamente por aceitar causas não-monetárias. No entanto, tanta gente que acreditava em Kondratiev... ou na aceleração do tempo e do espaço proposta por Arrighi... Não conheço muito sobre os temas, mas para mim são estranhos.
O que sei é que o ensino de economia mudou muito, o debate econômico mudou. A heterodoxia continua, mas muito menos radical que outrora. Alguns autores como Rangel parecem rumar para o esquecimento, embora ele tenha diversas contribuições além das citadas acima. Isso é bom? Não sei, não conheço Rangel direito. Mas sei que tenho que estudar mainstream: com isso, não estou sendo irônico, nem intransigente. É só uma constatação mais realista que ideológica de um novo mestrando em economia.
Comentários