Pular para o conteúdo principal

Marshall, economia e religião.

Alfred Marshall (1842-1924), expoente da escola de Cambridge, teve brilhantes idéias ao longo de sua vida. Além de termos herdado dele as demandas marshallianas, tão caras a nós na microeconomia, e tantos outros conceitos econômicos (coeteris paribus e economias externas são apenas alguns deles), também afirmou ele que "os dois grandes fatores na história do mundo têm sido o religioso e o econômico". Mais ainda, Marshall reconheceu a importância do estudo histórico para uma melhor compreensão da realidade.

É verdade que, equivocados por não compreenderem bem a dialética, muitos marxistas e/ou marxianos afirmam até hoje que o fator relevante e causador de todo o resto seja o material. No entanto, outros fatores tiveram e ainda têm seu papel. Curiosamente, mesmo reconhecendo a importância desses fatores, pouco ou nenhum espaço houve na teoria econômica de Marshall para eles. Conquanto a matemática fosse apenas auxiliar e presente principalmente nos apêndices de sua obra, o sistema de Marshall não tinha como incluir história, política, ideologia, religião, instituições, etc. Nem por isso, as suas ferramentas são inúteis. A tesoura marshalliana, que reconhece o papel da oferta e da demanda na determinação de preços e quantidades, é uma ferramenta fantástica. Nem aqueles que se consideram mais keynesianos podem reclamar: é Marshall que via a possibilidade de ajuste pelas quantidades, e não só de preços como na proposição walrasiana. É com Marshall que Keynes aprendeu isso.

Nada como Marshall para iniciar esse blog. Como na frase dele citada acima, que inicia seus "Princípios de Economia" de 1890, ele chamou atenção para a economia e para a religião, meus dois maiores interesses.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Lutero e os camponeses

São raros os momentos que discorro sobre teologia neste blog. Mas eventualmente acontece, até porque preciso fazer jus ao subtítulo dele. É comum, na minha condição declarada de cristão luterano, que eu sempre seja questionado sobre as diferenças da teologia luterana em relação às outras confissões. Outra coisa sempre mencionada é o episódio histórico do massacre dos camponeses no século XVI, sancionado por escritos de Lutero. O segundo assunto merece alguma menção. Para quem não sabe (e eu nem devo esconder isso), Lutero escreveu que os camponeses, que na época estavam fazendo uma revolta bastante conturbada, deveriam ser impedidos de praticarem tais atos contrários à ordem - inclusive por meio de violência. Lutero não mediu palavras ao dizer isso, o que deu a justificativa para a violenta supressão da revolta que ocorreu subsequentemente. O objetivo deste post não é inocentar Lutero do sangue derramado sobre o qual ele, de fato, teve grande responsabilidade. Nem vou negar que Lutero

Endogeneidade

O treinamento dos economistas em métodos quantitativos aplicados é ainda pouco desenvolvido na maioria dos cursos de economia que existem por aí. É verdade que isto tem melhorado, até porque não é mais possível acompanhar a literatura internacional sem ter conhecimento razoável de técnicas econométricas. Talvez alguns leitores deste blog ouçam falar muito em endogeneidade ou variáveis endógenas, principalmente no que se refere a modelos econométricos. Se pensamos em modelos de crescimento endógeno, o "endógeno" significa que a variável que causa o crescimento é determinada dentro do contexto do modelo. Mas em econometria, embora não seja muito diferente do que eu disse na frase anterior, endogeneidade se refere a "qualquer situação onde uma variável expicativa é correlacionada com o erro" (Wooldridge, 2011, p. 54, tradução livre). Baseando-me em um único trecho do livro do Wooldridge (Econometric Analysis of Cross-Section and Panel Data, 2 ed, 2011, p. 54-55)

Exogeneidade em séries de tempo

Mais um texto de quem tem prova de econometria na segunda-feira. Quem não é economista não deve de forma alguma ler esse texto. Não digam que eu não avisei. Quando falamos de exogeneidade na econometria clássica, estamos falando da chamada exogeneidade "estrita", que nada mais consiste no fato de uma variável x não ser correlacionada com qualquer erro. Nas séries de tempo, no entanto, trabalha-se com três tipos de exogeneidade, dependendo do fim proposto. Na busca de resultados em inferência estatística (modos de estimar parâmetros e formulação de testes de hipótese), utiliza-se, em séries de tempo, o conceito de exogeneidade fraca. Para isso, precisamos 'fatorar a função de distribuição em duas partes: distribuição condicional e distribuição marginal . Define-se que uma variável é fracamente exógena em relação aos parâmetros de interesse se, e somente se, houver um certo tipo de reparametrização e atender duas condições: a variável de interesse precisa ser função de apen