Pular para o conteúdo principal

Pobreza no curto ou no longo prazo?

Recentemente temos visto que programas de transferência de renda como o Bolsa-Família tem reduzido a pobreza (apesar das controvérsias na definição de linhas de pobreza), assim como também a desigualdade de renda (os dados podem ser vistos no Ipeadata, ou peguem esse paper aqui do IPC-UNDP). Mas ainda sabemos pouco dos efeitos de longo prazo com relação à redução da pobreza.

O Bolsa-Família, assim como a versão anterior mexicana (o Oportunidades), é caracterizado por ser uma transferência condicional de renda. Ele é focado nos pobres, mas condiciona a ajuda a determinadas exigências, tais como frequencia escolar dos filhos. Outras propostas de transferência, no entanto, existem. Mesmo libertários como Friedman e alguns outros economistas, por exemplo, falaram em imposto de renda negativo. Philippe Van Parijs tem uma defesa moral da renda básica de cidadania, tão propagada por gente como o Suplicy no Brasil. Por outro lado, existem transferência de bens - ou seja, ao invés de se dar uma quantia em dinheiro, pode-se financiar determinados bens. Por exemplo, subsidiar uma escola pública universal. Essa solução pode ser mais eficaz para combater a pobreza intergeneracional de longo prazo.

Sobre todos esses assuntos, acho que um bom texto é o de Dilip Mookherjee chamado "Persistence of Poverty and Design of Antipoverty Policies", contido aqui nesse livro. Há um série de trade-offs em políticas de pobreza - e saber das consequencias teóricas dessas políticas permite um desenho melhor e uma análise qualificada dos programas existentes. Infelizmente, ainda são poucos os estudos empíricos no tema, mas certamente trabalhos teóricos como os de Mookherjee e Ray (2003), Maoz e Moav (1999) ou Ljungqvist (1993) podem fornecer interessantes subsídios de análise. Afinal, é melhor dar dinheiro ou melhor dar em espécie (educação por exemplo)? Ou será melhor dar dinheiro condicionado á educação? É necessário focalizar ou universalizar? Mais do que uma mera discussão de princípios nessas questões, as consequências de tais políticas também devem estar em pauta na minha opinião, para termos melhores condições de avaliar tais programas.  Quais serão os resultados empíricos para coletar dados?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Lutero e os camponeses

São raros os momentos que discorro sobre teologia neste blog. Mas eventualmente acontece, até porque preciso fazer jus ao subtítulo dele. É comum, na minha condição declarada de cristão luterano, que eu sempre seja questionado sobre as diferenças da teologia luterana em relação às outras confissões. Outra coisa sempre mencionada é o episódio histórico do massacre dos camponeses no século XVI, sancionado por escritos de Lutero. O segundo assunto merece alguma menção. Para quem não sabe (e eu nem devo esconder isso), Lutero escreveu que os camponeses, que na época estavam fazendo uma revolta bastante conturbada, deveriam ser impedidos de praticarem tais atos contrários à ordem - inclusive por meio de violência. Lutero não mediu palavras ao dizer isso, o que deu a justificativa para a violenta supressão da revolta que ocorreu subsequentemente. O objetivo deste post não é inocentar Lutero do sangue derramado sobre o qual ele, de fato, teve grande responsabilidade. Nem vou negar que Lutero

Endogeneidade

O treinamento dos economistas em métodos quantitativos aplicados é ainda pouco desenvolvido na maioria dos cursos de economia que existem por aí. É verdade que isto tem melhorado, até porque não é mais possível acompanhar a literatura internacional sem ter conhecimento razoável de técnicas econométricas. Talvez alguns leitores deste blog ouçam falar muito em endogeneidade ou variáveis endógenas, principalmente no que se refere a modelos econométricos. Se pensamos em modelos de crescimento endógeno, o "endógeno" significa que a variável que causa o crescimento é determinada dentro do contexto do modelo. Mas em econometria, embora não seja muito diferente do que eu disse na frase anterior, endogeneidade se refere a "qualquer situação onde uma variável expicativa é correlacionada com o erro" (Wooldridge, 2011, p. 54, tradução livre). Baseando-me em um único trecho do livro do Wooldridge (Econometric Analysis of Cross-Section and Panel Data, 2 ed, 2011, p. 54-55)

Exogeneidade em séries de tempo

Mais um texto de quem tem prova de econometria na segunda-feira. Quem não é economista não deve de forma alguma ler esse texto. Não digam que eu não avisei. Quando falamos de exogeneidade na econometria clássica, estamos falando da chamada exogeneidade "estrita", que nada mais consiste no fato de uma variável x não ser correlacionada com qualquer erro. Nas séries de tempo, no entanto, trabalha-se com três tipos de exogeneidade, dependendo do fim proposto. Na busca de resultados em inferência estatística (modos de estimar parâmetros e formulação de testes de hipótese), utiliza-se, em séries de tempo, o conceito de exogeneidade fraca. Para isso, precisamos 'fatorar a função de distribuição em duas partes: distribuição condicional e distribuição marginal . Define-se que uma variável é fracamente exógena em relação aos parâmetros de interesse se, e somente se, houver um certo tipo de reparametrização e atender duas condições: a variável de interesse precisa ser função de apen