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Mostrando postagens de fevereiro, 2007

Utilitarismo

O utilitarismo muito influenciou a Ciência Econômica ao longo de sua história. Seu surgimento como uma teoria de justiça deve-se a Jeremy Bentham, que viveu na Inglaterra do século XVIII. Posteriormente, o utilitarismo tornou-se parte integrante da ortodoxia econômica a partir de sua adoção por John Stuart Mill, já no século XIX. Naquela época, o utilitarismo já era bastante conhecido nos meios intelectuais: era a teoria ética dominante. A consagração veio depois com a escola marginalista e neoclássica com William S. Jevons e Alfred Marshall no final do século XIX e Francis Edgeworth e A. C. Pigou no XX, por exemplo. É evidente que o utilitarismo foi sendo aperfeiçoado enquanto isso. Embora nos estudos de HPE, o utilitarismo se destaque e todos já tenham ouvido falar dele em algum momento, poucos sabem no que de fato consiste o pensamento utilitarista. Amartya Sen, em cujos escritos tenho baseado meus últimos posts (quando eu acabar de lê-los, prometo mudar), tenta detectar uma es

Ética e economia: análise normativa e comportamento real

Em resposta ao post do Ph nos Rabiscos , Stein, também nos Rabiscos , afirmou o seguinte: Ao dizer que não devemos separar a ética da teoria econômica, estamos tentando dizer algo a respeito das preferências e objetivos das pessoas. Estamos dizendo como deveria ser e não como é . [...] Além do mais, se vamos colocar a ética no meio, nós criaremos um problema sério. Qual ética é a que devemos colocar? A sua? A minha? A muçulmana? Protestante? Cristã? Budista? Oriental? Socialista? Nazista? Meu argumento é de que, embora pudesse concordar com Stein que a Economia enquanto ciência deveria tentar se abster de julgamentos de valor, na verdade eu estava defendendo que os economistas considerassem que as pessoas podem ter comportamentos baseados em alguma ética. Amartya Sen mostra com clareza os dois pontos que relacionam ética e economia: Pode-se dizer que a importância da abordagem ética diminui substancialmente com a evolução da economia moderna. A metodologia da chamada “economia

Smith: egoísmo e auto-interesse

Nosso pai Adão (como costumava dizer meu professor de História Econômica Geral, Prof. Dr. Eugênio Lagemann) é comumente visto como defensor de um liberalismo radical, segundo o qual, o bem-estar geral era resultado da interação entre homens egoístas. Essa versão disseminada na ciência econômica é um erro na visão de cada vez mais pessoas. Como disse também o Prof. Dr. Flávio Comim uma vez em aula: “isso que chamam de neoliberalismo é uma ofensa ao liberalismo clássico”. Geralmente, pensa-se que não há lá grandes diferenças entre o velho e o novo liberalismo. Conseqüentemente, Smith é injustiçado quando sua obra é reduzida à “mão invisível”, expressão usada duas vezes em sua obra. Por esse motivo, Smith continua sendo um vasto campo de estudo para os historiadores das idéias econômicas. Muitos estudiosos recuperaram o contexto filosófico da época em que Smith viveu para obter uma interpretação mais precisa acerca do pensamento do escocês. Esses estudiosos contrariam uma concepção de

Visões sobre educação e desenvolvimento

A tradicional visão sobre desenvolvimento econômico considera crescimento e desenvolvimento como sinônimos. Muitos também consideram desenvolvimento como crescimento com melhora de outros indicadores. Com relação à educação, a maior parte da literatura costuma apontá-la como algo que conduz ao desenvolvimento. A partir dos trabalhos de Gary Becker, pioneiro na análise do capital humano, a educação passou a ganhar destaque na academia. Saltos econômicos, como os dos paises dos lestes asiáticos, são entendidos como resultado do acúmulo de capital humano, como afirma Gary Becker : The outstanding economic records of Japan , Taiwan , and other Asian economies in recent decades dramatically illustrate the importance of human capital to growth. Lacking natural resources—they import almost all their energy, for example—and facing discrimination against their exports by the West, these so-called Asian tigers grew rapidly by relying on a well-trained, educated, hardworking, and conscien

Rubem Fonseca e licenças de importação

“O senhor sabe como é o Brasil...” “Não sei. Me diga.” “Se o senhor tivesse uma empresa de importação e exportação saberia.” “Eu não tenho.” “Para se importar ou exportar qualquer coisa é preciso uma licença da Cexim. Isso não é fácil de conseguir. Muitas vezes é necessária a colaboração de um amigo influente. O tenente Gregório ajudou Paulo a conseguir uma licença... importante... para a empresa dele, a Cemtex, na qual aliás eu tenho uma participação societária. Para fazer o Brasil crescer os empresários precisam se humilhar pedindo favores.”* A passagem foi extraída do romance “Agosto” de Rubem Fonseca: uma mistura de ficção e realidade que retrata o conturbado ambiente político que precede o suicídio de Getúlio em 1954. Para os que estudaram Economia Brasileira, a Cexim é familiar: o órgão responsável pela concessão de licenças de importação. Ao invés de se usar o velho protecionismo tarifário, o governo utilizava licenças, concedendo-as para os setores que “necessitavam

Os limites da teologia da libertação

Uma teologia fundamentada em conceitos que não são consenso e carregam consigo forte carga ideológica. Esse é o maior problema da teologia da libertação. Não que outras teologias não tenham carga ideológica. De fato, a teologia da libertação (TL)prestou um serviço ao chamar atenção para o lado social, denunciando uma igreja aliada ao poder e pouco atuante no serviço ao próximo. Entretanto, a TL erra ao confiar cegamente em concepções metodologicamente duvidosas como as provindas do marxismo, dividindo o mundo em opressores e oprimidos de forma maniqueísta. Além disso, reduziu o problema da igreja ao mundo que vemos, tratando o ser humano praticamente como um ser que tem apenas necessidades materiais. É óbvio que o que afirmei pode ser um exagero: não tenho lá tantas leituras acerca dessa teologia e sei da seriedade de muitos teólogos dessa linha que não deixam de lado a espiritualidade. Mas estou falando daquilo que apareceu como resultado. Talvez uma síntese entre o que chamou atenção

Sugestão de solução para nossas poucas noções de estatística

Os cursos de estatístisca da graduação aparentemente ignoram a necessidade de noções intuitivas para os alunos. Um livro bastante bom que estou usando agora é o de três autores: MOOD, Alexander M.; GRAYBILL, Franklin A.; BOES, Duane C. (1974). Introduction to the Theory of Statistics . 3. ed. McGraw-Hill. Não me parece inacessível mesmo para alunos da graduação e oferece boas explicações para tudo o que vemos por lá. Claro, tem vários exercícios difíceis. No entanto, mesmo sendo um livro antigo, vários professores ainda o adotam. Acredito que possa ser útil até para a ANPEC se você estiver enjoado do Paul Meier.

Otimização dinâmica: por que não aprendi isso antes...

Em minhas primeiras semanas de mestrado, já foi possível perceber a grande defasagem existente nos cursos de Economia no nosso país. É evidente que a otimização dinâmica é muito útil para aqueles que querem fazer qualquer tipo de modelagem matemática em Economia (não importando a escola de pensamento). O fato é que poucos cursos oferecem como eletiva/optativa alguma disciplina de equações diferenciais. Ou seja, não estou sequer pedindo que seja obrigatória, pois sei que muitos alunos não interessados na academia não querem ter um semestre terrível devido a isso. Portanto, não defendo a idéia de que alunos metodologicamente ou profissionalmente pouco interessados em matemática avançada sejam obrigados a cursar tais disciplinas. No entanto, para os que se interessam e querem sofrer menos em um curso de mestrado, deveria haver a opção. E não só em função do mestrado. Muito do que é feito e publicado em Economia lida com otimização dinâmica. Por exemplo, um modelo de Taylor para a trajetór