Resolvi ler ontem a versão final do paper de Naritomi, Soares e Assunção (2012), finalmente publicada pela Journal of Economic History, depois de anos de versões anteriores circulando por aí. No final das contas, embora os resultados façam sentido, corroborem Engerman e Sokoloff, AJR e até Caio Prado Jr., não me dei por satisfeito. O paper trata de ver o efeito de atividades econômicas importantes sobre diversas variáveis como distribuição de terra, governança e provisão de bens públicos. Essas atividades teriam criado instituições extrativas que poderiam ter afetado negativamente os municípios ligados ou próximos aos centros dessas atividades.
Os resultados são intuitivos: regiões próximos ao açúcar em desvantagem no que se refere a desigualdade de terra, assim como alguns resultados negativos advindos da extração aurífera (em termos de acesso à justiça e governança). Ademais, as regiões antigas do café também tiveram alguma desvantagem. O novo no artigo é uma metodologia quantitativa, uma espécie de teste para a tese Engerman-Sokoloff. Mas meu problema foi outro. Em particular, o uso de uma variável "distância de Portugal" para captar o grau de controle da métropole sobre a localidade me pareceu um exagero. "Distância de Portugal" em termos práticos não é muito diferente de "distância do Equador". "Distância de Portugal" pode inclusive estar captando clima, latitude, etc. E se há mais variáveis geográficas, multicolinearidade poderia até ser um problema, apesar da amostra ter sido grande de fato.
Acho que para o Brasil, ainda há muito a ser feito com relação a ideia de instituições e desenvolvimento de longo prazo. Esse paper é um bom passo, mas precisávamos de mais trabalhos nessa linha. Parabéns aos autores. É difícil ver brasileiros na Journal of Economic History. Acho que o último foi o Renato Colistete, isso lá em 2007.
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