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Sobrevivendo ao congresso

Kruiskerk, local das palestras principais
Estive em silêncio durante minha estadia em Stellenbosch. Voltamos do XVI World Economic History Congress na cidade sul-africana próxima à Cape Town. O frio era muito semelhante ao de Porto Alegre, até porque exatamente como aqui, não havia calefação. A diferença é que as cidades do Western Cape são muito bonitas. Praias e montanhas fazem parte da paisagem da região, além das cidades serem bem mais organizadas que as brasileiras - pelo menos nas partes centrais.

Como esperado, recebi comentários interessantes em relação aos papers, tanto elogiosos quanto críticos. No primeiro dia, apresentei meu paper sobre educação no Brasil entre 1947 e 1962. Não mudei muito o que apresentei em relação à Tübingen em 2010. Talvez até por isso, o Peter Lindert (UC Davis) tenha feito uma forte crítica em relação a alguns detalhes econométricos: ele acha que a utilização de efeitos fixos nas minhas regressões está modificando os resultados que ele esperaria. Fiquei feliz por não ser o único: parece que o Lindert deu pancadas em todo mundo na outra seção sobre desigualdade. De qualquer maneira, não achei a crítica válida na hora porque acredito ter variabilidade suficiente na minha variável explicativa. Ao tomar cerveja com os demais colegas de sessão, confirmei o que pensava com os demais. Felizmente, Jeff Williamson (Harvard), que assistia a sessão, ficou quieto. Só comentou comigo no dia seguinte sobre o que Lindert dissera. Numa boa.

No último dia, apresentei o paper sobre Cuba (ou "o que teria acontecido com o PIB cubano se não tivesse havido Revolução"), que escrevi em coautoria com Felipe Garcia e Guilherme Stein. Eu podia ver nos rostos de alguns que ao menos a metodologia (controle sintético) que utilizamos lhes parecia divertida. Nos comentários, Alexander Moradi (U. Sussex) disse não acreditar muito na metodologia e que precisava saber o que essa metodologia adicionava, mas a famosa Deirdre McCloskey gostou do paper - principalmente por explicitar um contrafactual. Foi o que ela comentou pessoalmente comigo. De qualquer forma, foi uma experiência interessante.

Thomas, Felipe, Alexandre e Svante (nosso sueco brasileiro)


 A experiência de congressos acadêmicos como esse é importante. É muito comum vermos os alunos muito nervosos quando desafiados em suas bancas de artigo, TCC, dissertação ou mesmo tese. Mas é para isso que servem congressos e bancas. Comentários e críticas é o que precisamos, por mais que precisemos de outros incentivos (talvez praias, lugares aprazíveis, etc) para ir a congressos. Com meus colegas Fábio Pesavento, Felipe Loureiro e Alexandre Saes (os três aí embaixo), parece que tudo deu certo também.Também devemos reconhecer a participação de nosso amigo Svante Prado, sueco casado com uma brasileira que estava sempre conosco nas cervejas e vinhos.

Fábio, Felipe e Alexandre - delegação brasileira no aeroporto de Johannesburg






Comentários

Drunkeynesian disse…
Moral ganhar elogio da dona McCloskey. Parabéns, Thomas!
Pedro Américo disse…
É sempre muito bom ler sobre as suas experiências acadêmicas aqui... Parabéns!!!!

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