O post anterior sobre a morte de Kim Jong-Il gerou intensa controvérsia. O principal motivo foi a minha alegação de que, embora qualquer pessoa possa não gostar e inclusive protestar contra o regime norte-coreano, sentimentos de "nojo" contra o regime deveriam ser monopólio das que se sentem de fato atingidas pelo regime.
Essa afirmação foi de fato um exagero. Acredito que podemos nos sentir revoltados moralmente por três motivos ao menos: (a) porque nos sentimos diretamente envolvidos com o problema, (b) porque nos sentimos indiretamente envolvidos com o problema (simpatia ou empatia), (c) porque uma situação é patentemente injusta, não interessando nosso grau de envolvimento com o caso. Essas alternativas não são necessariamente mutuamente excludentes. Evidentemente, não estou me lembrando de fontes acadêmicas confiáveis sobre o problema e, portanto, os leitores podem comentar.
Um dos comentadores do post anterior deu o exemplo da pedofilia como um caso em que, mesmo não nos envolvendo direta ou indiretamente, podemos achá-lo revoltante em termos morais, inclusive expressando sentimentos de extrema ojeriza contra esse ato vil.
Acredito que meu post anterior deva-se à diferença de sentimentos morais que existem entre a revolta moral tipo (a) e tipo (b) ou (c). Uma pessoa que passa por uma determinada situação tem uma visão diferente de outra que apenas ouviu falar da situação. Essa diferença é captada claramente por Adam Smith, em sua Teoria dos Sentimentos Morais (1759), [edição de 2009 com introdução de Amartya Sen]:
But if you have no fellow-feeling for the misfortunes I have met with, or none that bears any proportion to the grief which distracts me; or if you have either no indignation at the injuries I have suffered, or non that bears any proportion to the resentment which transports me, we can no longer converse upon these subjects. We become intolerable to one another. I can neither support your company, nor you mine. You are confounded at my violence and passion, and I am enraged at your cold insensibility and want of feeling. (p. 27).
É possível entender porque o filósofo moral Adam Smith considerava esse o seu livro mais importante, ao invés de "A Riqueza das Nações".
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