Ciência é feita de generalizações. O problema, segundo alguns, é até que ponto podemos generalizar sem perder poder explicativo demais. Em Economia, a questão do crescimento econômico de longo prazo é uma das mais antigas e ainda uma das mais controversas. Saber os fatores que levam ao crescimento sustentado é um debate que continua até hoje, principalmente com as contribuições cruciais do institucionalismo. Convém, no entanto, chamarmos atenção para possíveis exageros: instituições passaram a ser explicação para tudo. É nisso que reside o perigo.
Engerman e Sokoloff (1997, 2002), no debate sobre o crescimento econômico no Novo Mundo, afirmam que a dotação inicial de fatores foi fundamental para determinar o padrão de crescimento das diferentes regiões. A América do Norte, com poucos indígenas e clima parecido com o europeu, foi alvo de amplo povoamento, gerando instituições mais democráticas. No resto da América, instituições mais elitistas foram criadas devido à produção de mercadorias de alto valor comercial possibilitadas pelas dotações iniciais. No meio do caminho, para explicar o tipo de crescimento, Engerman e Sokoloff atribuem importância às instituições. No entanto, elas são em última instância determinadas por fatores geográficos: clima, solo, etc.
Engerman e Sokoloff estão falando especificamente do caso do Novo Mundo, que foi colonizado por europeus a partir do século XVI - uma situação específica. Eles não buscam generalizar isso para crescimento econômico em todos os lugares do mundo. Economistas como Sachs, no entanto, acreditam que a geografia é o papel preponderante a determinar o crescimento econômico. Contrariamente, Rodrik acredita que são as instituições os fatores fundamentais. Tal posição é ainda corroborada por Acemoglu, Johnson e Robinson (2004).
Generalizando para o mundo, é difícil discordar da última posição. O exemplo de AJR (2004) é bastante singular: pensemos nas duas Coréias. Ao examinarmos as condições iniciais no norte e no sul, poderíamos pensar que o norte teria mais chances de se desenvolver. No entanto, o sistema planificado da Coréia do Norte é completamente diferente do sistema capitalista adotado pela Coréia do Sul, ou seja, eles tem instituições completamente diferentes. Essas instituições não foram determinadas por fatores geográficos, como foi o caso das Américas. No entanto, acho difícil contestar que as instituições têm grande parte da responsabilidade pelo sucesso da Coréia do Sul e pelo atraso norte-coreano.
O grande problema é que a generalização parece até um pouco grotesca, embora a conclusão seja correta. Afinal, estamos explicando alguma coisa ao dizer que são as instituições que determinam os diferentes padrões de crescimento econômico das Coréias? Podemos concordar que a geografia não é o principal, mas o risco de generalizações como essas é esvaziar o significado do termo "instituição", que pode se transformar numa espécie de senha mágica que nada explica, uma solução para todos os problemas.
Engerman e Sokoloff (1997, 2002), no debate sobre o crescimento econômico no Novo Mundo, afirmam que a dotação inicial de fatores foi fundamental para determinar o padrão de crescimento das diferentes regiões. A América do Norte, com poucos indígenas e clima parecido com o europeu, foi alvo de amplo povoamento, gerando instituições mais democráticas. No resto da América, instituições mais elitistas foram criadas devido à produção de mercadorias de alto valor comercial possibilitadas pelas dotações iniciais. No meio do caminho, para explicar o tipo de crescimento, Engerman e Sokoloff atribuem importância às instituições. No entanto, elas são em última instância determinadas por fatores geográficos: clima, solo, etc.
Engerman e Sokoloff estão falando especificamente do caso do Novo Mundo, que foi colonizado por europeus a partir do século XVI - uma situação específica. Eles não buscam generalizar isso para crescimento econômico em todos os lugares do mundo. Economistas como Sachs, no entanto, acreditam que a geografia é o papel preponderante a determinar o crescimento econômico. Contrariamente, Rodrik acredita que são as instituições os fatores fundamentais. Tal posição é ainda corroborada por Acemoglu, Johnson e Robinson (2004).
Generalizando para o mundo, é difícil discordar da última posição. O exemplo de AJR (2004) é bastante singular: pensemos nas duas Coréias. Ao examinarmos as condições iniciais no norte e no sul, poderíamos pensar que o norte teria mais chances de se desenvolver. No entanto, o sistema planificado da Coréia do Norte é completamente diferente do sistema capitalista adotado pela Coréia do Sul, ou seja, eles tem instituições completamente diferentes. Essas instituições não foram determinadas por fatores geográficos, como foi o caso das Américas. No entanto, acho difícil contestar que as instituições têm grande parte da responsabilidade pelo sucesso da Coréia do Sul e pelo atraso norte-coreano.
O grande problema é que a generalização parece até um pouco grotesca, embora a conclusão seja correta. Afinal, estamos explicando alguma coisa ao dizer que são as instituições que determinam os diferentes padrões de crescimento econômico das Coréias? Podemos concordar que a geografia não é o principal, mas o risco de generalizações como essas é esvaziar o significado do termo "instituição", que pode se transformar numa espécie de senha mágica que nada explica, uma solução para todos os problemas.
Comentários
Concordo com o ponto que é importante não esvaziar o conceito de instituições, tornando-o uma panacéia no entendimento dos problemas do crescimento. Mas, na minha opinhião não é bem esse o caso nos exemplos dados. O caso das Coréias é bem interessante, no sentido de ser um "experimento natural", onde se mantém fixo a geografia, a cultura e diversos outros fatores, variando-se (bruscamente eu diria) as instituições. Mas, sem dúvida, apesar de interessante, isso não prova nada. E sse fato é reconhecido pelos defensores desta tese. Uma forma mais robusta de teste da importância foi feita por AJR ao tentar buscar uma fonte exógena (essa é a palavra-chave) de variação das instituições. Os resultados obtidos por eles pareceram, pelo menos para mim, bem robustos, resistindo as mais diversas especificações. E, outro ponto importante, é que quando se afirma que as insituições são a causa fundamental do crescimento, não se quer dizer que a geografia é irrelevante, mas que a geografia afeta o crescimento através das instituições, ou seja, uma vez levado em conta o papel das instituições, a geografia não parece ser um fator importante.
Na verdade, eu gosto muito do texto de AJR. Apenas estou tentando levantar a questão da generalização. Sim, são as instituições a causa do crescimento sustentado de longo prazo. Acho que concordo com isso devido ao texto deles. Mas fica aquela ponta de dúvida, aquela coisa de historiador econômico. O Renato Colistete, meu orientador, chegou a me dizer que talvez se perca muito poder explicativo. De qualquer forma, gosto muito do texto e pretendo usá-lo na minha dissertação.
Tu estás tb absolutamente correto quando diz que a geografia pode afetar o crescimento através das instituições. Na verdade, é exatamente isso que Engerman e Sokoloff querem dizer em todos os seus textos a respeito do tema. Só que eles não generalizam pro mundo todo, ficam apenas no Novo Mundo. De fato, não deixei claro. Em momento algum quis dizer que geografia é irrelevante. Inclusive, a abordagem de Engerman e Sokoloff em nada nega a tese de que a fonte de crescimento são as instituições. Apenas no caso específico das Américas, a geografia teve papel importante para a criação das instituições, o que não é necessariamente verdade em outros lugares. Logo, AJR continua valendo.
Bom, levantei a questão e o teu comentário foi bem válido! Valeu mesmo.