A decisão entre o bem e o mal claramente reconhecidos exime o próprio raciocínio humano de decisão, transfere a questão da ética para a luta entre a inteligência já orientada no bem e a vontade ainda renitente, não atinando com aquela decisão legítima em que o ser humano todo, com inteligência e vontade, só pode procurar e achar o bem na ambigüidade duma situação histórica através do risco da própria ação. Nesta abstração da vida, a questão ética está reduzida a uma estática fórmula básica que arranca o ser humano da historicidade de sua existência, colocando-o no vácuo da mera privacidade e do idealismo puro. A tarefa ética aqui é vista como consistindo na imposição de certos princípios, independentemente de sua relação com a vida. Isso conduz a uma completa privatização da vida, na qual o bem se restringe à própria fidelidade aos princípios, sem qualquer consideração para com o semelhante [...]. (p. 121)
Enquanto toda ação ideológica sempre já traz consigo sua justificação no bojo do respectivo princípio, a ação responsável renuncia ao conhecimento de sua derradeira justiça. A ação que acontece sob ponderação responsável de todas as circunstâncias pessoais e objetivas, bem como com vistas ao fato de que Deus se tornou ser humano e de que foi Deus que se tornou ser humano, é entregue unicamente a Deus no momento da realização. O desconhecimento último do próprio bem e mal, e com isso a dependência da graça, é parte constitutiva da ação responsável na história. Quem age com base numa ideologia vê sua justificação na idéia que defende; a pessoa responsável coloca sua ação nas mãos de Deus e vive de sua graça e bondade. (p. 130).
Quem quiser ler mais, a referência é Bonhoeffer, D. (2005). Ética. 7 ed. São Leopoldo: Ed. Sinodal.
Comentários
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Dietrich Bonhoeffer, Pastor Protestante, Profeta, Espião e Mártir.
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Lutou bravamente contra o NAZISMO na Alemanha, exemplo de fé e atitudes.