A inflação medida pelo IPCA de 2007 quase atingiu a meta de 4,5%, chegamos a 4,46%. Por um lado, é bom que a política monetária esteja acertando. Por outro lado, decompondo esse índice, percebemos que a maior alta foi do preço de alimentos, mais em conta do choque de oferta devido à falta de chuvas e às condições do mercado internacional. Leite e carne foram os vilões, o que é preocupante, pois significa que a inflação para a camada mais pobre foi certamente maior. Se os alimentos puxam a inflação, temos um imposto inflacionário claramente regressivo. É só observarmos que o INPC, índice que pesquisa famílias com rendimentos de até 6 salário mínimos, subiu 5,16%. O IPCA pesquisa famílias com rendimentos de até 40 salários mínimos.
Se atingimos a meta, a trajetória atual dos juros deve ser mantida? Não é o que pensam alguns economistas. Estou sem acesso aos jornais de São Paulo, mas por aqui o Prof. Dr. Marcelo Portugal da UFRGS acha que os juros devem subir, uma vez que as expectativas de inflação para daqui a 12 meses parecem ser problemáticas (segundo ele em artigo publicado na Zero Hora de hoje). Ou seja, para ele a política monetária tem que ser forward-looking. Outros economistas devem espernear só de pensar nessa possibilidade, pois para eles uma inflação de 4,5%, mesmo com as expectativas do ano que vem (confesso que não tenho dados das expectativas), não é nenhum problema para a economia. Dessa vez, no entanto, não foram os preços administrados que puxaram a inflação. Antigamente, os pós-keynesianos culpavam a política de juros altos do governo pela estagnação. Segundo eles, como eram os preços administrados que sempre subiam, de nada adiantava combater a inflação com a taxa de juros, que tem efeitos sobre a demanda agregada - principalmente sobre o investimento, variável fundamental para eles. E agora, que será que dirão eles?
O debate vai longe e tenho passado longe de estudos sobre inflação e política monetária. Talvez meus colegas que fizeram macro II ou macro keynesiana possam comentar mais a respeito e enriquecer os debates, além dos velhos conhecidos e colegas da UFRGS e de outros lugares que costumam dar pitacos neste blog.
Se atingimos a meta, a trajetória atual dos juros deve ser mantida? Não é o que pensam alguns economistas. Estou sem acesso aos jornais de São Paulo, mas por aqui o Prof. Dr. Marcelo Portugal da UFRGS acha que os juros devem subir, uma vez que as expectativas de inflação para daqui a 12 meses parecem ser problemáticas (segundo ele em artigo publicado na Zero Hora de hoje). Ou seja, para ele a política monetária tem que ser forward-looking. Outros economistas devem espernear só de pensar nessa possibilidade, pois para eles uma inflação de 4,5%, mesmo com as expectativas do ano que vem (confesso que não tenho dados das expectativas), não é nenhum problema para a economia. Dessa vez, no entanto, não foram os preços administrados que puxaram a inflação. Antigamente, os pós-keynesianos culpavam a política de juros altos do governo pela estagnação. Segundo eles, como eram os preços administrados que sempre subiam, de nada adiantava combater a inflação com a taxa de juros, que tem efeitos sobre a demanda agregada - principalmente sobre o investimento, variável fundamental para eles. E agora, que será que dirão eles?
O debate vai longe e tenho passado longe de estudos sobre inflação e política monetária. Talvez meus colegas que fizeram macro II ou macro keynesiana possam comentar mais a respeito e enriquecer os debates, além dos velhos conhecidos e colegas da UFRGS e de outros lugares que costumam dar pitacos neste blog.
Comentários
Um primeiro questionamento pós-keynesiano a visão ortodoxa da moeda como causa única da inflação diz respeito ao agregado monetário mais adequado para ser associado ao processo inflacionário, posto que a moeda é um conceito difícil de definir com precisão. A visão convencional associa o processo inflacionário à criação da moeda pelo governo; enfatiza, portanto, a emissão de agregados monetários sob maior controle governamental como o M1 ou M2; tais agregados poderiam ser controlados com mais facilidade pelos instrumentos tradicionais de política monetária disponíveis ao governo. Neste caso, se houver inflação, portanto, a responsabilidade pela sua existência costuma ser atribuída exclusivamente ao governo. Mas a visão heterodoxa associa o processo inflacionário à geração de liquidez (conceito mais amplo), e não necessariamente apenas de moeda; a moeda é apenas um pólo extremo em um gradiente de ativos de maior ou menor liquidez.Conseqüentemente, enfatiza o respaldo ao processo inflacionário gerado pelo aumento de agregados monetários cuja criação é resultante de decisões de agentes privados, estando portanto mais distantes do controle dos instrumentos mais tradicionais da política monetária governamental. Portanto, a sanção monetária da inflação é muitas vezes originária do próprio setor privado, e não do governo. A criação de liquidez por parte do sistema bancário pode, dentro de amplos limites, sustentar um processo inflacionário iniciado em outros setores da economia. Na teoria heterodoxa, o governo pode ser refém da inflação. O que os pós-keynesianos dirão se houver contracionismo monetário devido à piora nas expectativas de inflação? Eles só dirão que a política monetária apertada é relativamente ineficaz para a inflação de oferta, porque ela atacaria os sintomas não as causas. Eles têm sua própria teoria de política não-monetária controladora de inflação de oferta. Como
mostra este artigo de João Sicsú:
http://www.ie.ufrj.br/moeda/pdfs/politicas_nao_monetarias_de_controle_da_inflacao.pdf
Abraços