Recentemente, muitas pessoas questionam-me acerca da relevância do movimento ecumênico e, particularmente, do Conselho Mundial de Igrejas (CMI). Em recente comentário, Joel Pinheiro perguntou-me o que de concreto teria conquistado o movimento. Acredito que o movimento ecumênico é relevante independentemente de seus resultados “concretos”. Utilitarismo não é uma boa ética para julgá-lo, acredito eu.
O ecumenismo é relevante por tentar afirmar que todos os cristãos têm sua fé fundamentada em Jesus, considerado o Filho de Deus. Se temos essa característica em comum, é importante que esforços sejam feitos pela preservação de algum tipo de unidade apesar das diferenças teológicas. Se existe algo de concreto a respeito disso, temos a busca por um entendimento mútuo e o fato do CMI ter até conseguido editar um livro sobre “A Natureza e a Missão da Igreja”, aprovado por teólogos representando diversas tradições cristãs. Ainda hoje, diferenças impedem os cristãos de praticar a Eucaristia conjunta, problema que certamente devemos tentar superar. Essas justificativas teológicas são suficientes para que defendamos o ecumenismo, na minha opinião, apesar dos problemas que temos.
Não obstante o seu valor intrínseco, acredito que o CMI consegue, por congregar muitas igrejas, ter uma voz relativamente relevante. A Comissão de Assuntos Internacionais do CMI tem cadeira no ECOSOC. Talvez sejamos pouco ouvidos, mas ainda assim, estamos fazendo a nossa parte: a Igreja também tem que ter caráter profético. Inúmeros documentos publicados pelo CMI mostram o que vários setores do Cristianismo pensam. Acredito que esse é um espaço importante a ser mantido.
Infelizmente, o movimento ecumênico no Brasil é fraco e principalmente defendido por setores ligados à teologia da libertação. Assim, o ecumenismo é mal-entendido porque parece apenas contemplar um setor – não significa que estou desprestigiando a teologia da libertação, embora de fato não seja um adepto. No mundo, o movimento ecumênico tende a ser mais plural: é verdade que existe uma forte tendência teológica progressista que, apesar de defender importantes pontos como tolerância, tende a contribuir pouco em questões como missão. No entanto, temos também pentecostais, bem mais conservadores – o que também pode não ser positivo – e ortodoxos, os quais não tem em sua história grande influência do Iluminismo, ao contrário dos protestantes históricos. Portanto, acreditar que ecumenismo é ruim por seu caráter pouco plural não faz muito sentido.
Ecumenismo não é o mais importante, mas é crucial. No entanto, não podemos esquecer de outros aspectos. Evidentemente, missão e diaconia não podem ser ignoradas, mas isso não é contrário ao ecumenismo. Tudo isso pode ser alcançado conjuntamente. Ecumenismo em parte reflete o aprendizado com as inúmeras ridículas e pouco cristãs guerras entre cristãos e mesmo entre religiões. Em regiões de conflito como África ou Oriente Médio, o que as igrejas podem fazer conjuntamente para aliviar o problema? São em questões como essas que concretamente o movimento ecumênico pode fazer diferença.
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