Pular para o conteúdo principal

Escolha social, bem-estar e teoremas

Ontem iniciamos um novo grupo de estudo sobre questões de justiça. O grupo, com gente da área econômica, filosófica e jurídica, decidiu estudar alguns textos básicos do Amartya Sen. Fui responsável ontem por apresentar a palestra por ocasião da entrega do Nobel a Sen em 1998. "The Possibility of Social Choice" está disponível no site do Nobel, além de ter sido publicado pela AER no ano seguinte.

Quem estudou os capítulos normativos de algum manual de microeconomia acaba conhecendo os teoremas do bem-estar e o Teorema da Impossibilidade de Arrow. Talvez a grande vantagem de ter lido o texto do Sen é descobrir que há vários problemas em todos esses teoremas: não no que se refere à sua validade matemática, evidentemente. Mas mudando suas hipóteses, ou seja, através de um outro ponto de vista normativo, é possível chegar a resultados mais interessantes. Sen comenta que há diversos resultados de possibilidade de escolha social. Em "Sobre Ética e Economia", Sen desenvolve mais críticas à economia do bem-estar, mas que em parte já aparecem nesse texto de 1998.

Meu ponto aqui é que os manuais de microeconomia deveriam ao menos mencionar que a história não acaba nesses teoremas.

Os diversos artigos de Sen sobre Escolha Social não fizeram parte da bibliografia que utilizei quando escrevi um artigo sobre Sen para a REP. É o ponto que falta.

Comentários

Anaximandros disse…
oi, bom resumo, como sempre acho que cobras demais dos manuais, aliás, essa leitura normativa não é culpa dos manuais, afinal, eles são apenas manuais e servem como primeira leitura para jovens, etc. Contudo, o Sen admite incompletude e isso não é exatamente negar o Arrow, enfim, continuar estudando e bater cabeça no bom sentido, abraço, s.

Postagens mais visitadas deste blog

Lutero e os camponeses

São raros os momentos que discorro sobre teologia neste blog. Mas eventualmente acontece, até porque preciso fazer jus ao subtítulo dele. É comum, na minha condição declarada de cristão luterano, que eu sempre seja questionado sobre as diferenças da teologia luterana em relação às outras confissões. Outra coisa sempre mencionada é o episódio histórico do massacre dos camponeses no século XVI, sancionado por escritos de Lutero. O segundo assunto merece alguma menção. Para quem não sabe (e eu nem devo esconder isso), Lutero escreveu que os camponeses, que na época estavam fazendo uma revolta bastante conturbada, deveriam ser impedidos de praticarem tais atos contrários à ordem - inclusive por meio de violência. Lutero não mediu palavras ao dizer isso, o que deu a justificativa para a violenta supressão da revolta que ocorreu subsequentemente. O objetivo deste post não é inocentar Lutero do sangue derramado sobre o qual ele, de fato, teve grande responsabilidade. Nem vou negar que Lutero

Endogeneidade

O treinamento dos economistas em métodos quantitativos aplicados é ainda pouco desenvolvido na maioria dos cursos de economia que existem por aí. É verdade que isto tem melhorado, até porque não é mais possível acompanhar a literatura internacional sem ter conhecimento razoável de técnicas econométricas. Talvez alguns leitores deste blog ouçam falar muito em endogeneidade ou variáveis endógenas, principalmente no que se refere a modelos econométricos. Se pensamos em modelos de crescimento endógeno, o "endógeno" significa que a variável que causa o crescimento é determinada dentro do contexto do modelo. Mas em econometria, embora não seja muito diferente do que eu disse na frase anterior, endogeneidade se refere a "qualquer situação onde uma variável expicativa é correlacionada com o erro" (Wooldridge, 2011, p. 54, tradução livre). Baseando-me em um único trecho do livro do Wooldridge (Econometric Analysis of Cross-Section and Panel Data, 2 ed, 2011, p. 54-55)

Exogeneidade em séries de tempo

Mais um texto de quem tem prova de econometria na segunda-feira. Quem não é economista não deve de forma alguma ler esse texto. Não digam que eu não avisei. Quando falamos de exogeneidade na econometria clássica, estamos falando da chamada exogeneidade "estrita", que nada mais consiste no fato de uma variável x não ser correlacionada com qualquer erro. Nas séries de tempo, no entanto, trabalha-se com três tipos de exogeneidade, dependendo do fim proposto. Na busca de resultados em inferência estatística (modos de estimar parâmetros e formulação de testes de hipótese), utiliza-se, em séries de tempo, o conceito de exogeneidade fraca. Para isso, precisamos 'fatorar a função de distribuição em duas partes: distribuição condicional e distribuição marginal . Define-se que uma variável é fracamente exógena em relação aos parâmetros de interesse se, e somente se, houver um certo tipo de reparametrização e atender duas condições: a variável de interesse precisa ser função de apen