O debate sobre a avaliação de professores do nivel básico tem tomado conta dos noticiários nos últimos dias. A última Zero Hora (jornal de grande circulação em Porto Alegre) mostrou sistemas como o finlandês e o norte-americano. O primeiro se baseia em altos salários aos professores, de quem são exigidos boa titulação, enquanto o segundo parece focar em sujeitar professores a avaliações.
Ainda que eu ache avaliações interessantes, acredito que no caso do Brasil, os salários absurdamente baixos dos professores do ensino básico prejudica a atração dos melhores para essa fundamental função. Os mais qualificados têm poucos incentivos para tentar a carreira docente, mesmo quando se sentem vocacionados para tal. Enquanto isso, milhares de funcionários públicos do Juudiciário que nada mais fazem do que arquivar papeis muitas vezes, recebem muitas vezes mais. A distorção de incentivos é evidente.
Nada contra quem está no Poder Judiciário fazendo trabalhos burocráticos e ganhando 3 mil ou 4 mil reais por mês. O culpado é o sistema gerador dessas desigualdades, deixando as crianças mais necessitadas em uma armadilha da pobreza, uma vez que no atual estágio, a qualificação educacional é crucial para haver possibilidade de ascenção social. Também não estou afirmando aqui que todos os professores da rede pública são despreparados. Estudei até a 5a série do ensino fundamental em escola pública e lembro de ter tido alguns bons professores. Mas a tendência em um sistema que paga tão mal seus educadores é justamente permitir que os melhores acabem indo para outras direções.
Está na hora do país entender a importância da educação (principalmente de nível fundamental) e realmente tratá-la como prioridade. Vide Argentina que, mesmo com todos os erros na conduta das políticas, ainda tem renda per capita maior que a do Brasil. A discrepância entre argentinos e brasileiros na educação é enorme e bastante responsável por nosso atraso.
Comentários
Uma pergunta, não sei se tu estarias disposto a abordar e emitir opinião: tu és a favor de mensalidade em universidades "públicas" (que de públicas não tem nada)? Assim não seria possível inverter em parte a prioridade em direção ao ensino fundamental?
abração!
Renato Lauris
Um estudo interessante de Simon Schwarzman, que considerou todo o universo de alunos do ensino superior, mostrou que no quintil de alunos mais ricos do sistema, predominam aqueles que estão nos cursos particulares de medicina. Não sem surpresa, haja vista aquelas mensalidades.
Já no quintil dos alunos mais pobres, a maioria era dos cursos noturnos de universidades públicas.
Tais alunos de baixa renda após enfretarem o vestibular sujeitam-se a outra seleção concorridissima, que é por uma vaga nas moradias estudantis dentro do campus. Tais moradias subsidiadas poderiam ser ampliadas e permitir que mais alunos carentes possam vir para a capital para estudar, sem arcar com os valores impeditivos dos aluguéis paulistas. Este é um valoroso ensejo para a cobrança de mensalidades, revertidas diretamente em apliações de incentivos sociais que permitam reter alunos carentes nas universidades públicas. Mas cuidando para não incorrer em valores tais que expulsem a classe média da universidade pública.