Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de janeiro, 2008

Tiranias (2): Coréia do Norte

Não poderia deixar de falar de meus queridos parentes. Sob a ditadura de Kim Il-Sung e agora de seu filho Kim Jong-Il, a Coréia do Norte continua um dos países mais fechados do mundo. O líder atual coleciona cavalos e possui uma piscina com ondas artificiais em sua residência. Em contraste a isso, acredito que muitos parentes meus ainda estejam lá, caso não tenham sido mortos pela repressão política ou por uma das crises de desabastecimento. Muitas famílias, como a minha, continuam separadas desde a época da guerra da Coréia (1950-1953), que foi um dos primeiros episódios trágicos da Guerra Fria. Essa guerra foi responsável pela demarcação do paralelo 38 como fronteira entre os dois novos países criados: a capitalista Coréia do Sul, de influência norte-americana, e a comunista Coréia do Norte, com apoio da União Soviética e da China. Enquanto a Coréia do Sul tem empresas como Samsung, LG e Hyundai, a Coréia do Norte produz ogivas nucleares. Um bom começo para dar risadas sobre a Coréi

Tiranias (1): Myanmar

Pesquisando acerca de tiranias ao redor do mundo, exporei aqui alguns ilustres desconhecidos. Neste ponto, tanto libertários (que andaram freqüentando bastantes este blog) quanto democratas como eu, concordam. Poucos sabem que Myanmar, também chamado de Burma, é um país do sudeste asiático governado por uma junta militar. Para ver a extensão da opressão, visitar o site da BBC pode ser uma solução: Burma, also known as Myanmar, is ruled by a military junta which suppresses almost all dissent and wields absolute power in the face of international condemnation and sanctions. The generals and the army stand accused of gross human rights abuses, including the forcible relocation of civilians and the widespread use of forced labour, which includes children.

Bibliografia sobre cotas

Com o meu último post sobre cotas, recebi de minha amiga Daniela Tochetto, mestranda da UFRGS, um paper sobre ações afirmativas. Com surpresa, notei através do site JSTOR (onde podemos encontrar muitos artigos de revistas importantes, desde que a universidade que fazemos parte disponha da assinatura desse site), que a bibliografia sobre o assunto é imensa. Vejam o resumo desse artigo que trata de ações afirmativas usando teoria dos jogos: Does Affirmative Action Reduce Effort Incentives? A Contest Game Analysis Jörg Franke In this paper a contest game with heterogeneous players is analyzed in which heterogeneity could be the consequence of past discrimination. Based on the normative perception of the heterogeneity there are two policy options to tackle this heterogeneity: either it is ignored and the contestants are treated equally, or affirmative action is implemented which compensates discriminated players. The consequences of these two policy options are analyzed for a simple two-p

Cotas e incentivos

Os resultados do vestibular da UFRGS tem novamente gerado discussões a respeito da política de cotas. A adoção de um sistema de cotas pela UFRGS, no qual 30% das vagas foram reservadas para candidatos egressos de escolas públicas, sendo que metade dessas para negros auto-declarados, desde que atingissem certo patamar mínimo, gera enorme polêmica principalmente agora. Muitos candidatos, que seriam aprovados caso não existisse essa política, sentem-se injustiçados e pretendem entrar com um processo contra a universidade. As denúncias poderiam se basear no princípio constitucional da isonomia. Sem querer discutir a justiça ou não de tal sistema, uma análise dos incentivos de um sistema de cotas no médio prazo pode ser interessante para entender que possíveis reações ela pode provocar. Uma das possibilidades seria uma alteração na demanda das famílias por escolas particulares: passa a valer menos a pena pagar uma escola cara para o filho, uma vez que há reservas de cotas para alunos de esc

Final dos trabalhos na USP

Minha relativa ausência em janeiro deve-se aos inúmeros trabalhos que fui obrigado a fazer para as disciplinas do segundo semestre do mestrado em Economia da USP. Embora as aulas tenham terminado em dezembro, é evidente que os professores não nos deixariam livres. Das três disciplinas em que me matriculei, três tinham como avaliação, pelo menos parcial, um trabalho a ser feito no mês de janeiro. Na disciplina "Teorias Contemporâneas de Justiça", do Departamento de Ciência Política, entreguei um trabalho intitulado "Justiça e Desenvolvimento no Pensamento de Amartya Sen". Na cadeira de "Economia Institucional", resumi e tentei juntar algumas teorias sobre instituições, distribuição de poder político e educação. Em "Econometria II - Séries de Tempo", estamos eu e um colega tentando entender o que acontece com as exportações de café hoje em dia utilizando principalmente vetores autoregressivos (VAR): esse último trabalho deve ficar pronto hoje ou a

Ética e realidade: Dietrich Bonhoeffer

O Joel andou escrevendo acerca de prudência, em continuação aos debates travados acerca do absolutismo dos direitos naturais mesmo em situações de conflitos inclusive neste blog . Embora o debate seja secular, vou citar um trecho do livro "Ética" do teólogo luterano Dietrich Bonhoeffer, morto em um campo de concentração nazista por ter feito parte de uma conspiração contra a vida de Hitler, que durante seu tempo de cadeia, escreveu inúmeras obras, poemas e cartas testemunhando sua fé cristã. Bonhoeffer critica, de maneira muito mais radical, uma ética a priori: A decisão entre o bem e o mal claramente reconhecidos exime o próprio raciocínio humano de decisão, transfere a questão da ética para a luta entre a inteligência já orientada no bem e a vontade ainda renitente, não atinando com aquela decisão legítima em que o ser humano todo, com inteligência e vontade, só pode procurar e achar o bem na ambigüidade duma situação histórica através do risco da própria ação. Nesta abs

IPCA 2007: 4,46%

A inflação medida pelo IPCA de 2007 quase atingiu a meta de 4,5%, chegamos a 4,46%. Por um lado, é bom que a política monetária esteja acertando. Por outro lado, decompondo esse índice, percebemos que a maior alta foi do preço de alimentos, mais em conta do choque de oferta devido à falta de chuvas e às condições do mercado internacional. Leite e carne foram os vilões, o que é preocupante, pois significa que a inflação para a camada mais pobre foi certamente maior. Se os alimentos puxam a inflação, temos um imposto inflacionário claramente regressivo. É só observarmos que o INPC, índice que pesquisa famílias com rendimentos de até 6 salário mínimos, subiu 5,16%. O IPCA pesquisa famílias com rendimentos de até 40 salários mínimos. Se atingimos a meta, a trajetória atual dos juros deve ser mantida? Não é o que pensam alguns economistas. Estou sem acesso aos jornais de São Paulo, mas por aqui o Prof. Dr. Marcelo Portugal da UFRGS acha que os juros devem subir, uma vez que as expectativas

De onde vem a nossa desigualdade educacional - parte II

A disparidade dos resultados educacionais nas Américas foi extremamente significativa no século XIX. Em 1870, por exemplo, cerca de 80% de pessoas acima de dez anos nos Estados Unidos e no Canadá eram alfabetizadas, o que correspondia ao triplo dos resultados dos países progressistas na América Latina e quatro vezes mais que Brasil e México (p. 171). Mariscal & Sokoloff analisaram também detalhadamente as políticas de expansão da escolaridade em alguns países latino-americanos de colonização espanhola. Entre as conclusões obtidas, podemos destacar as seguintes: a) na Argentina, onde a taxa de alfabetização elevou-se de 22,1% em 1869 para 65% em 1914, destaca-se o papel positivo da imigração, uma vez que, além da oferta de serviços educacionais estar entre as políticas de atração, os imigrantes já tinham nível de instrução maior. Como conseqüência, o sistema escolar concentrou-se nas regiões mais prósperas como Buenos Aires e regiões que receberam imigrantes (p. 178). Cont

Faço previsões

Em clima de Ano Novo, só queria avisar aos leitores que a partir de hoje, estou apto a fazer previsões. Nada do tipo "Mãe Dinah", mas o último exercício de Econometria II - Séries de Tempo a ser entregue dia 10 de janeiro nos obriga a fazer previsões com modelos Box-Jenkins e estrutural. Eu e um colega usamos dados acerca do preço do bezerro (os guris de apartamento certamente começaram a rir agora) e conseguimos previsões satisfatórias de curto prazo com ambos os modelos. Já em previsões dinâmicas, o modelo estrutural foi bem superior ao BJ. Ou seja, mestrandos em Economia da USP aprendem a prever em suas férias. Caso alguém precise de uma previsão, estamos aí.

De onde vem a nossa desigualdade educacional - parte I

Relacionada aos assuntos debatidos exaustivamente na história econômica institucional, desigualdade, dotação iniciais de fatores e sufrágio nas antigas colônias, está a questão da escolaridade. A análise dos dados acerca dos níveis de escolaridade e alfabetização mostra claramente a desvantagem dos países latino-americanos em relação a seus vizinhos do norte e aos outros países desenvolvidos. Existem estudos acerca das origens dessa desigualdade educacional Algumas hipóteses acerca das origens histórico-institucionais das desigualdades educacionais foram apresentadas por Mariscal & Sokoloff (2000). Diferentemente dos Estados Unidos, onde na primeira metade do século 19 o common school movement levou à elevação dos níveis de alfabetização por meio da expansão maciça da oferta de escolas públicas, os países latino-americanos, embora tivessem condições econômicas para arcar com investimentos desse tipo, não promoveram uma expansão similar da educação básica, segundo os autores,

O debate liberal-igualitário - parte II

O foco nos fins ao invés dos meios na definição do equalisandum gerou estranheza para John Rawls, que argumentou da seguinte maneira: [...] an index of primary goods is not intended as an approximation to what is ultimately important as specified by any particular comprehensive doctrine with its account of moral values. (Rawls, 1988, p. 259). A idéia de Rawls, ao focar nos bens primários, era reafirmar que a sua concepção de justiça era política e que, portanto, não poderia definir o que é o certo (ou o bem). Equalizar bens primários, para que a partir daí os indivíduos buscassem seus próprios objetivos, foi a solução encontrada como alternativa a dominante métrica utilitarista, ainda hoje infuente na teoria econômica do bem-estar. Sen respondeu em paper na Philosophy and Public Affairs (1990, versão levemente modificada em Sen 1993) afirmando que Rawls tinha interpretado erroneamente a crítica dele. Para Sen, Rawls não levara em conta a diferença fundamental entre capability e funct