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Estado da arte no comércio

Apenas recentemente consegui ler alguns dos artigos do simpósio sobre comércio internacional publicados na Journal of Economic Perspectives deste ano. A JEP sempre é a salvação quando você precisa de uma atualização rápida na fronteira da ciência econômica. 

A volta da abordagem ricardiana aos modelos de comércio para tentar entender melhor os novos padrões de comércio com a expansão de economias de renda média é talvez um dos assuntos mais interessantes. O modelo ricardiano era recentemente encarado apenas como uma maneira didática de introduzir posteriormente modelos mais complexos como o de fatores específicos ou o próprio Heckscher-Ohlin. Ademais, com a importância nos anos 80 e 90 do comércio intra-indústria e o sucesso empírico da "equação da gravidade", os modelos que mais chamavam atenção eram aqueles de concorrência monopolística e economias de escala (à la Krugman-Helpman). No entanto, Eaton e Kortum (2002) trouxeram à tona modelos inspirados em vantagens comparativas oriundas de diferenças tecnológicas (à la Ricardo), mas com hipóteses mais fracas, abrindo novos caminhos na pesquisa sobre comércio. 

Já em edições anteriores da JEP, a questão das firmas exportadoras estava em voga - o que é novamente contemplada nessa edição em artigo de Melitz e Trefler. Afinal, nem todas as firmas exportam. Entender melhor as características micro dos setores que exportam é outro ramo da investigação recente em comércio internacional.

O artigo de Hanson nesse JEP talvez faça as perguntas interessantes em suas considerações finais. Entre elas, tentar explicar a hiper-especialização que tem havido recentemente (em parte devido ao boom das commodities, que tem explicado em boa parte nosso crescimento recente) e entender se o boom de commodities impactou ou não sobre o padrão de vida dos países de baixa renda. Questões fundamentais na agenda de pesquisa sobre comércio internacional.

Comentários

Anônimo disse…
Thomas,
Qual é o texto que você usa para lecionar Economia Internacional? O do Krugman? O do Feenstra-Taylor? o do Caves-Jones-Frankel? o do Van Marrewijk? O do Canuto et alia?
Thomas H. Kang disse…
Feenstra-Taylor! Lamentavelmente, ainda não há versão em português dele, mas para mim é o melhor.
Anônimo disse…
Muito obrigado, Thomas. Para mim, também esse é o livro melhor e mais atrativo. Eu uso o do Krugman, mas só porque tenho de coordinar-me com meus colegas da disciplina. Tentei trocar de livro mas não consegui convence-los.
O Feenstra-Taylor agora foi traduzido ao espanhol.
O do Van Marrewijk também é bom e tem capítulos algo mais avançados. Por exemplo, tem um sobre o modelo do Melitz na Econometrica.
Thomas H. Kang disse…
Não conheço o Van Marrewijk! Vou dar uma olhada. Mas com quem eu estou falando, rs?
Anônimo disse…
:-)
É o Alejandro, professor de Economia Internacional na Universidade Pablo de Olavide, Sevilha, Espanha.
Valeu!
Abrs,
A
Thomas H. Kang disse…
Valeu, Alejandro! Vamos trocar figurinhas se possível! Meu email está no perfil.
Anônimo disse…
Thomas,
Saiu recentemente um livro de International Trade que talvez lhe interesse: Applied International Trade, by Bowen, Hollander and Viaene (Palgrave, 2012). Muito bom. Nível mestrado ou advanced undergraduate. Incorpora as teorias mais novas.
Valeu,
A

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