Eu não sabia, talvez ingenuamente, mas o blogger.com/blogspot é proibido na China. Pior, o Facebook e o Twitter também. Aparentemente há maneiras de acessá-los, como o Gabriel - que também estava na China - descobriu e conseguiu ainda postar algumas coisas em um blog do UOL. No entanto, esse não foi o meu caso durante a visita ao país do dia 9 ao dia 16 de junho.
A foto não é minha, mas depois posto as minhas. Shanghai |
Participei da 51a reunião da Comissão das Igrejas em Assuntos Internacionais (Commission of the Churches on International Affairs - CCIA) do Conselho Mundial de Igrejas (CMI/WCC), em Shanghai e Nanjing. Fomos recebidos pelo Conselho Cristão da China, órgão autorizado pelo governo que representa os protestantes na China. Felizmente, a maioria dos membros da Comissão conseguiu obter o visto para entrar na China, mas não todos: o moderador da nossa Comissão não conseguiu, fato que foi noticiado pelo Washington Post.
A primeira impressão que preciso compartilhar com os leitores se refere aos aparentes excessos de Shanghai e Nanjing em termos de construções. Os prédios são gigantes, os carros são em geral carros caros, a poluição é excessiva, poucas bicicletas e muitas motocicletas, gente demais em todo o lugar, pontes e viadutos gigantes - passei até por um túnel que tinha mais de 3km de extensão. Ademais, a ocidentalização é evidente entre os chineses que mais se beneficiaram do crescimento: vimos muitas chinesas de saias curtas indo para a balada na noite de sábado ao passearmos pelo Bund de Shanghai.
Em nossas reuniões, tivemos uma palestra com um economista de uma universidade chinesa. Ele afirmou, entre outras coisas, que o coeficiente de Gini (para desigualdade de renda) na China era algo entre 0,3 e 0,4. Imediatamente, acessei o site da CIA, cujo Factbook afirma que o Gini chinês é 0,48. Se todas as teorias de conspiração são válidas, eu estimo, sem qualquer base científica, que o Gini da China seja algo próximo a 0,43. A impressão, de qualquer maneira, embora não tenhamos visitado a zona rural, é que a desigualdade deve estar crescendo.
Os discursos, tanto de líderes da igreja, como também do Vice-Ministro de Assuntos Religiosos, que também falou conosco, sempre se referiram a busca por uma "sociedade harmoniosa" - e que a religião teria seu papel nisso. Uma ideia fácil de se tomar como verdadeira em uma sociedade com fortes influências confucionistas - e que mitiga os conflitos sociais, sejam oriundas de diferenças étnicas ou da crescente desigualdade.
Em breve, escreverei mais sobre o tema.
Comentários
Brincadeiras à parte, sempre que tinha acesso, lia jornais chineses. Nos avioēs, distribuem o China Daily, que é todo escrito em inglês. Li uma reportagem criticando as embaixadas estrangeiras que publicam índices de poluição atmosférica próprios. O argumento é que a qualidade do ar é tema de interesse publico e diplomatas, regulados por convenções internacionais (até citaram a Convenção de Viena), não podem interferir em assuntos de interesse público. A questão é que o governo divulga um índice de qualidade do ar e as embaixadas divulgam outro. Normalmente, o índice chinese interpreta os números mais generosamente, digamos assim. Um mesmo índice é qualificado como bom para o governo e como ruim para os americanos, por exemplo.
Estou curioso para saber mais sobre o que observou na China.
Abraço