Pular para o conteúdo principal

Definição de Oikomania

Ao digitar erroneamente o nome do meu próprio blog, o Google me indicou a existência do vocábulo "oikomania". Segundo o Free Dictionary, "oikomania" é definido como uma "an abnormal attachment to home", ou seja, uma espécie de fixação pelo lar. Talvez seja um mal que todo gaúcho sofre e, curiosamente, me identifico um pouco com o significado original por ser muito ligado à minha cidade e ao meu estado. A escolha do nome do blog foi totalmente ao acaso - pensando em Economia e no meu gosto pelo assunto. Há outras definições mais completas por aí do vocábulo (google it!). 

Como todo economista sabe, oikos (οἶκος) de fato significa casa e, portanto, juntando isso com nomos (νόμος), temos a origem do termo economia, que é literalmente a "administração da casa" (assim, entende-se porque "economizamos" ao comprar algo barato). Ou seja, estamos falando da administração de nossos recursos: como dizem os livros-texto, estudamos a alocação de recursos escassos. E como a alocação dos recursos hoje em dia é basicamente feita via mercado, estudamos o mercado (e também o papel do governo no mercado). Não estamos, portanto, tão longe da administração como deram a entender certa vez os professores de Harvard em conversa com Eugênio Gudin - pelo menos na origem etimológica. 

Apenas um detalhe fundamental: quando falamos de alocação de recursos, referimo-nos à eficiência. Mas muitos economistas também estudam a distribuição dos recursos. Portanto, definir economia apenas como a ciência que estuda "alocação de recursos" é talvez demasiadamente estreito - embora seja crucial estudar eficiência alocativa por uma questão técnica. Como bem disse Sen em "Sobre Ética e Economia", a eficiência pode "vir quente do inferno" (Sen citando Shakespeare na p. 48). Discutir justiça e distribuição é importante, porque nem sempre a eficiência necessita ser prioritária quando há um trade-off entre eficiência e equidade, embora ninguém negue a importância da eficiência. Nem sempre há esse trade-off de acordo com alguns economistas - é o que a moderna literatura de instituições e crescimento de longo prazo a la Acemoglu e Robinson anda dizendo. Ou ainda, a literatura em história econômica do estilo Engerman e Sokoloff ou Peter Lindert.  Para ver isso com clareza, recomendo essa resenha do Jeff Williamson na última Journal of Economic History (você vai precisar do acesso via Capes ou sua universidade)

P.S.: Oikos também serve para entendermos palavras como ecologia ou ecumenismo. Em tudo isso, estamos falando de algo em comum que temos - seja em onde vivemos ou na unidade religiosa (sendo ecumenismo utilizado para falar da unidade de diferentes igrejas cristãs ou ainda, em um significado mais amplo, na unidade entre religiões).  Mas isso tudo é outra história. 


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Lutero e os camponeses

São raros os momentos que discorro sobre teologia neste blog. Mas eventualmente acontece, até porque preciso fazer jus ao subtítulo dele. É comum, na minha condição declarada de cristão luterano, que eu sempre seja questionado sobre as diferenças da teologia luterana em relação às outras confissões. Outra coisa sempre mencionada é o episódio histórico do massacre dos camponeses no século XVI, sancionado por escritos de Lutero. O segundo assunto merece alguma menção. Para quem não sabe (e eu nem devo esconder isso), Lutero escreveu que os camponeses, que na época estavam fazendo uma revolta bastante conturbada, deveriam ser impedidos de praticarem tais atos contrários à ordem - inclusive por meio de violência. Lutero não mediu palavras ao dizer isso, o que deu a justificativa para a violenta supressão da revolta que ocorreu subsequentemente. O objetivo deste post não é inocentar Lutero do sangue derramado sobre o qual ele, de fato, teve grande responsabilidade. Nem vou negar que Lutero

Endogeneidade

O treinamento dos economistas em métodos quantitativos aplicados é ainda pouco desenvolvido na maioria dos cursos de economia que existem por aí. É verdade que isto tem melhorado, até porque não é mais possível acompanhar a literatura internacional sem ter conhecimento razoável de técnicas econométricas. Talvez alguns leitores deste blog ouçam falar muito em endogeneidade ou variáveis endógenas, principalmente no que se refere a modelos econométricos. Se pensamos em modelos de crescimento endógeno, o "endógeno" significa que a variável que causa o crescimento é determinada dentro do contexto do modelo. Mas em econometria, embora não seja muito diferente do que eu disse na frase anterior, endogeneidade se refere a "qualquer situação onde uma variável expicativa é correlacionada com o erro" (Wooldridge, 2011, p. 54, tradução livre). Baseando-me em um único trecho do livro do Wooldridge (Econometric Analysis of Cross-Section and Panel Data, 2 ed, 2011, p. 54-55)

Exogeneidade em séries de tempo

Mais um texto de quem tem prova de econometria na segunda-feira. Quem não é economista não deve de forma alguma ler esse texto. Não digam que eu não avisei. Quando falamos de exogeneidade na econometria clássica, estamos falando da chamada exogeneidade "estrita", que nada mais consiste no fato de uma variável x não ser correlacionada com qualquer erro. Nas séries de tempo, no entanto, trabalha-se com três tipos de exogeneidade, dependendo do fim proposto. Na busca de resultados em inferência estatística (modos de estimar parâmetros e formulação de testes de hipótese), utiliza-se, em séries de tempo, o conceito de exogeneidade fraca. Para isso, precisamos 'fatorar a função de distribuição em duas partes: distribuição condicional e distribuição marginal . Define-se que uma variável é fracamente exógena em relação aos parâmetros de interesse se, e somente se, houver um certo tipo de reparametrização e atender duas condições: a variável de interesse precisa ser função de apen