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Mostrando postagens de janeiro, 2009

Qual o conceito de desenvolvimento? - parte 2

Amartya Sen aponta para uma resposta para a pergunta destacada no título em um artigo de 1988, primeiro capítulo do Handbook of Development Economics, chamado "The Concept of Development". Uma característica que ele deixa clara é que o conceito de desenvolvimento sempre teve forte conteúdo valorativo. Talvez indo além do que ele escreve, eu pergunto: por que variáveis como PIB foram consideradas importantes? Certamente porque se pressupunha a direta e inequívoca relação entre bem-estar e PIB. No entanto, sabemos que não é bem assim. É fundamental portanto que se analise outros fatores que afetem o bem-estar, tais como saúde e educação. Seria muito simples fazer isso, não fossem os evidentes problemas filosóficos que estão por trás disso. A Economia, que sempre se baseou na filosofia utilitarista e, portanto, em uma concepção subjetivista, não poderia aceitar comparações interpessoais de utilidade. Explicando em palavras mais simples: de acordo com os pressupostos éticos da Ec

Qual o conceito de desenvolvimento? - parte 1

Economistas não costumavam usar muito o conceito de "desenvolvimento econômico" antes do século 20. Alguns falaram de "desenvolvimento das forças produtivas" e o objeto de estudo da Economia nos clássicos era algo parecido com o que veio a ser o conceito mais difundido. Smith estudava a riqueza das nações, assim como Stuart Mill definiu a riqueza como o objeto de estudo da Economia Política Clássica. Não muito diferente do que viria a ser considerado desenvolvimento por um bom tempo. No entanto, talvez um marco do uso do conceito "desenvolvimento econômico" seja a obra de Schumpeter em 1911 (ele usa o termo Wirtschaftlichen Entwicklung ). Mas a sua conceituação é algo bem original e que não teve muita continuidade, à exceção dos chamados neo-schumpterianos, que são poucos. Para Schumpeter, desenvolvimento diferiria de crescimento porque o primeiro exigiria o rompimento do fluxo circular via inovações. Uma diferença teórica, que levou Furtado a dizer que S

Alívio do mestrando

Quando vemos que alguém fez o trabalho acadêmico que você talvez devesse fazer, duas reações são possíveis: (1) raiva, porque algum desgraçado pensou no que você pensou antes, impedindo-o de trazer algo de novo para o mundo acadêmico; ou (2) alívio, porque você não precisa fazer aquilo que ser orientador diria que é essencial para que seu trabalho seja ao menos razoável. Nesse momento, estou aliviado. Quando vi que na Estatística de Instrucção de 1916, o autor coletou diversas citações de parlamentares na época sobre educação primária, poupando-me um enorme trabalho, o alívio foi a sensação predominante. Mas além disso, é possível se surpreender com a competência do relator quando se depara com a seguinte citação (irrelevante para a minha dissertação, mas curiosa por ser búlgara): "Prefaciando a importante estatistica do ensino de seo paiz, referente ao anno escolar de 1907, escrevia ha quatro annos, o Sr. G. Popoff, Director Geral da Estatistica do Reino da Bulgaria: 'O impor

Autismo

No primeiro semestre de 2008, fiz o curso de Economia Brasileira aqui na pós-graduação da FEA-USP. O programa da disciplina, ministrada pelo meu orientador Renato Colistete, que deve se repetir nesse semestre, está aqui . Talvez vocês percebam que não leram metade ou mais dos textos desse programa. Muitos deles vocês nem ouviram falar. Por sorte, eu tive excelentes cursos de Economia Brasileira na minha graduação com o Pedro Fonseca e o Sérgio Monteiro. Mas observando outros lugares e mesmo os cursos que eu fiz, há alguma tendência do ensino de história econômica brasileira em direção ao autismo. Lê-se apenas os mesmo velhos autores de sempre, os clássicos brasileiros. Façamos um exame do que leram os alunos que fizeram graduação em Economia e tiveram Economia Brasileira. Eu aposto que: Todos leram Celso Furtado, Conceição Tavares e Barros de Castro, além dos textos da Ordem do Progresso e dos planos de estabilização (Chico Lopes, Larida, etc.) Quase todos leram Caio Prado, Werner Baer