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Ética e realidade II

Em toda a discussão ética que se travou neste blog, é evidente que sou cético em relação a um sistema a priori de determinação daquilo que seria certo ou errado. Utilizando argumentos conseqüencialistas, tentei racionalizar o ponto a meu favor. No entanto, não vou esconder o raciocínio teológico que me orienta um pouco nessas questões. O ponto a ser criticado é a razão prática kantiana, que influencia um pouco nossos amigos libertários. Embora eles não tratem de mentiras, o ponto é o imperativo categórico "pessoas são fins e não meios".


Se Kant, partindo do principio da veracidade, chega à grotesca conclusão de que eu deveria responder com sinceridade também ao assassino que invadiu minha casa em perseguição a um amigo meu, neste caso a autojustificação da consciência, exacerbada até a insolência ultrajante, bloqueia a ação responsável. Se responsabilidade é a resposta global e condizente com a realidade que o ser humano dá ao chamado de Deus e do próximo, aqui transparece claramente o caráter parcial da resposta dada por uma consciência comprometida com princípios. A recusa de ferir o princípio da veracidade por causa do meu amigo, a recusa de mentir descaradamente por causa do meu amigo - pois toda tentativa de minimizar o fato da mentira procede novamente da consciência legalista e autojustificadora -, a recusa, portanto, de assumir a culpa por amor ao próximo me coloca em contradição com a minha responsabilidade fundamentada na realidade. Também aqui, na assunção responsável de culpa e inocência, a consciência tera a melhor oportunidade de provar se está comprometida tão-somente com Cristo.



Dietrich Bonhoeffer (2005[1943]).
Ética. 7 ed. São Leopoldo: Ed Sinodal, p. 136.

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