Criticando a concepção materialista da medicina em 1949, o psiquiatra cristão suíço Paul Tournier escreve o seguinte acerca dos defensores de que o ser humano é simplesmente uma máquina:
Como nada sei de medicina, não sei até que ponto continua valendo essa concepção médica. Mas o exemplo de Tournier mostra que creditar o a existência do ser humano ao acaso talvez não seja tão óbvio assim.
Tournier, Paul. Mitos e Neuroses: desarmonia da vida moderna. São Paulo: ABU Editora e Viçosa: Ultimato, 2002.
"Segundo essa perspectiva, o homem assemelha-se a uma máquina ou, mais precisamente, a um conjunto de máquinas. Assim como um automóvel é um conjunto de diversas máquinas, cilindros, gerador, carburador, radiador, diferencial, etc., o homem seria um complexo conjunto de diferentes máquinas: dos sistemas digestivo, respiratório, nervoso, urinário, etc., solidários entre si, porém independentes. O ideal da ciência, para melhor compreender o funcionamento de cada uma dessas máquinas, é isolá-las do conjunto e estudá-las em si mesmas. Cada uma delas será reduzida então a fenômenos físico-químicos que não têm nada do que seja propriamente vivo e humano.
[...] Uma única diferença subsiste entre a máquina humana e a máquina industrial, com a qual é comparada, e que faz com que a primeira (vale o paradoxo) seja mais materialista do que a segunda: no caso do automóvel, o agrupamento das diferentes peças foi concebido por um engenheiro, tendo em vista o rendimento do conjunto; no homem, ao contrário, segundo a explicação científica clássica, a colocação dos diversos órgãos no organismo humano, bem como suas diversas funções físico-químicas, devem-se ao acaso." (p. 44)
Como nada sei de medicina, não sei até que ponto continua valendo essa concepção médica. Mas o exemplo de Tournier mostra que creditar o a existência do ser humano ao acaso talvez não seja tão óbvio assim.
Tournier, Paul. Mitos e Neuroses: desarmonia da vida moderna. São Paulo: ABU Editora e Viçosa: Ultimato, 2002.
Comentários
Acho que concordo contigo que são questões distintas. Creio que o autor na realidade apenas estava reproduzindo idéias bastante em voga na sua época: materialismo e acaso combinados.
Não estamos aqui falando especificamente da teoria evolucionista, como tu sabe bem. Tournier é psiquiatra, o negócio dele não é biologia evolucionária. Lembro-me vagamente de que biólogos evolucionários como Dawkins ressaltam o papel do acaso, embora não se trate de uma loteria genética completa. E sabemos que Dawkins é ateu e dos mais panfletários.
Tinha lido já o texto do Schwatzman. Mais tarde comento.
Hoje em dia criou-se a perigosa noção de que a metafísica materialista é corroborada pelas descobertas científicas.
Embora a teoria da evolução consiga explicar boa parte do desenvolvimento das espécies, inclusive a evolução por qual nós passamos, existem três perguntas que ainda não tem respostas:
1) Qual a origem da vida?
2) De onde vem a nossa consciência?
3) De onde vem o livre-arbitrio e a moral que dele é necesseria?
Segundo a metafísica materialista, a consciência e o livre-arbritrio devem, necessariamente, ter uma explicação material. A liberdade, para os ateus, é uma ilusão.
ENTRETANTO, até hoje não existe nenhuma evidência ou teoria que explica a consciência e o livre-arbítrio como tendo causas materiais. Portanto, a idéia de que que existem causas materiais se baseia apenas na FÉ na metafísica materialista.
O grande paradoxo materialista é intuir, por causas indiretas, a negação de si mesmo, o próprio sujeito que intuiu em primeiro lugar. Ou seja, segundo Schopenauer, o materialista "sempre se esquece de si mesmo".