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Mostrando postagens de agosto, 2008

Contrafactual

Contrafactual para um historiador é praticamente um pecado. Conjecturas sobre o que teria acontecido caso um fator x ou y não tivesse existido são comumente mal vistas. O historiador, mesmo o econômico, não deveria tratar do que não aconteceu, afinal isso não é história. William Summerhill resolveu falar sobre os contrafactuais hoje. Enquanto ele falava, eu, Felipe e o Prof. Renato apenas trocamos olhares. Recentemente discutíramos a respeito do tema lendo um texto clássico de Robert Fogel, Nobel em Economia de 1993*. Para mim ficou evidente lendo aquele texto a falácia da negação do contrafactual. Como afirma Fogel, sempre que afirmamos que um fator x foi de crucial importância para a ocorrência de tal processo histórico, estamos dizendo implicitamente que, sem aquele fator, as coisas teriam ocorrido de forma significativamente diferente. A única diferença então é que alguns, conscientes de que estão sempre fazendo suposições contrafactuais, explicitam isso. Outros, aqueles que pregam

Atraso econômico e "pecado original" (não é teológico)

Hoje iniciou um mini-curso em história econômica com o Prof. William Summerhill, do Departamento de História da UCLA. O curso trata especificamente do crescimento de longo-prazo e do atraso latino-americano. A primeira aula foi interessante: ele discutiu algumas das teorias para o atraso baseado em instituições. Depois de Summerhill apresentar extensivamente o trabalho de Acemoglu, Johnson e Robinson (2002) e criticar alguns de seus aspectos, alguns de nós começamos a discutir acerca do determinismo dessas teorias. Todas elas buscam uma explicação no começo da colonização para o surgimento das subseqüentes instituições que teriam levado ao atraso latino-americano. Afinal, é pelo início da colonização que se explica o atraso? A sensação geral é de uma idéia de "pecado original" e que, portanto, não é possível melhorar muito a situação. Até que ponto ou qual a proporção do atual atraso que podemos atribuir a fases iniciais da colonização? Apenas uma questão para os leitores ref

Ética e mentiras

Como acontece com muita gente, cresci ouvindo de meus pais que havia claramente o certo e o errado. Preto no branco. Uma questão de princípio. Balizas. Limites intransponíveis. Mentir é errado, por exemplo. Parece-me que para crianças, ensinar leis dessa forma é algo apropriado. Apenas depois é que temos condições de refletir melhor e avaliar as situações. Acredito que todos aqui já mentimos por questões consideradas nobres. Obviamente também já mentimos apenas para satisfazer nossos interesses mais egoístas. Entretanto, eu justificaria algumas das mentiras que já disse por aquilo que considerei ser um bom motivo. A mentira é apenas um exemplo entre tantos outros, mas bastante ilustrativo. Posso até afirmar categoricamente que a mentira é sempre algo ruim. O problema é quando a conseqüência de não mentirmos é algo pior do que a própria mentira. Imaginemos a situação em que dizer a verdade resulta na morte de alguém. Embora mentir seja ruim, podemos considerar a morte de alguém muito pi

Sobre o mestrado

Estou há cerca de um ano e meio em São Paulo devido a meus estudos em nível de mestrado na FEA-USP. Recentemente, um visitante deste blog questionou-me acerca das possibilidades que a USP oferece para um doutorado no exterior. Além disso, perguntou-me se tive um bom curso. Aí vai a minha resposta. O doutorado no exterior é cada vez menos incentivado pela política governamental. Segundo tenho ouvido, as verbas destinadas a bolsas integrais de doutorado fora tem diminuído como fruto da constatação de que os doutorados nacionais estão fortes o suficiente. Tenho visto muitos cartazes sobre bolsas-sanduíches: aquelas que financiam o estudante que faz o doutorado no Brasil durante um período fora em alguma universidade no exterior. Uma alternativa bem mais barata para o governo. Não obstante, ainda há gente sendo mandada ao exterior evidentemente e a FEA-USP tem excelentes professores que podem indicar pessoas ao PhD fora. Da turma anterior a minha, que não tem um perfil muito acadêmico (pou

Economia bíblica

Até mesmo no Israel do Antigo Testamento se conhecia bem a lei da escassez. A história abaixo é sobre uma fome que houve em Samaria devido a um cerco feito pelos siros e a posterior abundância com o fim do sítio (2 Reis, cap. 6 e 7): "Houve grande fome em Samaria; eis que a sitiaram, a ponto de se vender a cabeça de um jumento por oitenta siclos de prata e um pouco de esterco de pombas por cinco siclos de prata." (2 Reis 6.25). "Então, disse Eliseu: Ouvi a palavra do Senhor; assim diz o Senhor: Amanhã, a estas horas mais ou menos, dar-se-á um alqueire de flor de farinha por um siclo, e dois de cevada, por um siclo, à porta de Samaria" (2 Reis 7.1) "Então saiu o povo e saqueou o arraial dos siros; e assim, se vendia um alqueire de flor de farinha por um siclo, e dois de cevada, por um siclo, segundo a palavra do Senhor". (2 Reis 7.16) Nas notas de rodapé de minha Bíblia de Estudo, está escrito o seguinte para ajudar os não familiarizados com o raciocínio ec